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OPINIÃO

Por que idols não podem namorar ou dar rolê em paz na Coreia do Sul?

Karina (aespa) escreveu carta para os fãs se desculpando pelo namoro Imagem: instagram pessoal

Camila Monteiro

Colaboração para Splash

08/03/2024 04h00

No início da semana, Karina, uma das integrantes do grupo aespa, escreveu uma carta a mão e publicou para seus fãs, conhecidos como "My". Isso aconteceu já que na semana anterior, um dos maiores veículos midiáticos da Coreia do Sul revelou que a artista está namorando Lee Jaewook, famoso ator de k-dramas.

E qual é o problema disso?

A princípio nenhum. Karina tem 23 anos, Jaewook 25, ambos são jovens bem-sucedidos, solteiros e com uma carreira enorme pela frente. Na teoria, um relacionamento de ambos não deveria render nenhum tipo de drama (Alexa, toca drama das aespa de fundo), mas no K-pop as coisas não funcionam assim e muitos fãs largam seus ídolos quando eles começam a namorar, pois se sentem traídos e/ou insuficientes.

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A ideia de que o idol é um personagem

A forma como as empresas preparam idols antes mesmo do debut é toda voltada ao "crescimento diante do público". Isso é, não pega bem ninguém namorar muito cedo, fumar, ou se envolver em qualquer tipo de polêmica (as piores por lá são sempre bullying e drogas).

Os fãs adoram ver a evolução dos idols e muitas vezes gostam mais da ideia que possuem deles do que de fato da pessoa que está ali por trás das músicas e performances. Muitas vezes gostam mais do personagem criado do que do artista. E estaria tudo bem se isso fosse compreendido como trabalho e performance, não envolvendo a vida pessoal dos idols.

Pensar que jovens bonitos e famosos não se envolvem romanticamente é algo completamente fora da realidade e sustentado pelas empresas e muitas vezes pelos próprios idols.

Como as empresas sustentam esses relacionamentos fã/idol?

Seria muito fácil culpar exclusivamente o comportamento excessivo dos fãs, apontando a falta de bom senso e noção da realidade, mas a verdade é que as empresas e muitas vezes os próprios idols alimentam esse relacionamento parassocial, mas que é visto pelos fãs com algo recíproco.

Por meio de eventos como fansigns e fancalls, onde as empresas fazem muito dinheiro ao venderem ingressos em arenas e milhões de álbuns, os fãs conseguem ter contato direto com seus ídolos, entregam presentes e se sentem amigas íntimas dos idols, porque, com frequência, encontram eles pessoalmente.

Alguns casos passam muito do limite do aceitável, mas o que, afinal, é permitido nessa relação? Alguns idols tentam impor limites, explicam para os fãs que aquilo é um trabalho, uma obrigação, e diversas vezes são considerados grosseiros e rudes demais para a realidade do k-pop.

Para as empresas, essas fãs dedicadas ao extremo geram um lucro muito maior do que a dor de cabeça que eventualmente causam: elas criam fanbases enormes, viram fansites que promovem gratuitamente os idols, compram centenas de discos para terem mais chances de conversarem com seus idols nos fansigns e fazem a máquina girar sem eles precisarem gastar um tostão.

Políticas de namoro e festas

Algumas empresas, principalmente em gerações anteriores do k-pop, criavam contratos que proibiam os artistas de manterem qualquer tipo de relacionamento amoroso. Para eles, era uma proteção contra escândalos e possibilidade de perder dinheiro com os fãs abandonando seus idols.

Até hoje, embora não mais contratualmente proibido, namorar é sempre esse caos, com fotos escondidas, cartas pedindo desculpa por quebra de confiança e uma necessidade de se mostrar sempre disponível e bem para os fãs.

Além de namoro, idols que saem para baladas são vistos como fora do padrão e "vida louca". Mesmo jovens são julgados e criticados por se divertirem em festas com amigos. Recentemente Hwarang, integrante do grupo Tempest, foi afastado inclusive de comeback do grupo, por ter sido visto em uma balada.

Parece algo extremamente surreal já que estamos em 2024 e percebemos que nada mudou, inclusive piorou, pois existem mais câmeras, redes sociais e tudo se dissemina numa velocidade muito maior. É triste saber que o futuro aponta para uma direção ainda mais opressora e cafona.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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