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Jovem morto eletrocutado: testemunhas contam que tomaram choque em festival

João Vinícius Ferreira Simões morreu no festival I Wanna Be Tour, no Rio Imagem: Reprodução/Instagram

Daniele Dutra

Colaboração para Splash, no Rio de Janeiro

12/03/2024 09h21

Antes de João Vinícius Ferreira Simões, 25, jovem morto eletrocutado na noite de sábado (9) durante festival "I Wanna Be Tour", no Rio de Janeiro, outras pessoas tomaram choque no food truck e chegaram a alertar aos funcionários do evento, mas nada foi feito.

Molhado pela chuva e na intenção de se abrigar, o estudante de educação física encostou em um food truck e foi atingido por uma descarga elétrica. Ele chegou a ser levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, mas não resistiu.

A psicóloga Ana Luiza Rocha, 25, foi uma das pessoas que tomou choque em uma das estruturas. Ela chegou no evento ainda pela manhã e no início da tarde, devido ao calor intenso, começou a passar mal e procurou ajuda no posto médico. Em seguida, ela decidiu se proteger do sol:

Comecei a me sentir mal novamente e dessa vez bem fraca, foi então que me abriguei atrás de um carrinho de food truck, que vendia pizza, fiquei lá por um tempo. Quando melhorei e fui sair, encostei na placa de metal que fechava o evento e na parede do food truck, levando um forte choque no braço Ana Luiza, em conversa com Splash

Na página do evento, outras dezenas de pessoas também relataram que tomaram choque antes e durante a chuva, mas nada foi feito para solucionar o problema e evitar a morte de João Vinícius.

Diante do que foi narrado, a reportagem procurou a 30e — empresa responsável pela organização do evento — duas vezes, mas não obteve retorno até o momento. O espaço permanece aberto.

Diferente do que disseram na nota de pesar, não houve protocolo de segurança na hora da tempestade. Eu e as pessoas que estavam comigo ficamos exatamente até a última música do A Day To Remember, quando se tornou impossível para nós continuar lá, pois estava dando muitos raios e chovendo torrencialmente. Em momento algum nos deram um direcionamento do que fazer e para onde ir. Eram centenas de pessoas correndo tentando sair da chuva. A desorganização deles foi gigante, expuseram a gente em um campo aberto, com diversas estruturas de metal, tinham cabos de energia pelo evento, principalmente perto dos food trucks. Além de revoltada pelo que aconteceu com João Victor, estou muito triste também, pois esse festival era pra ser o melhor de nossas vidas, por ser importante para a cena musical emo, e por culpa da desorganização de quem deveria organizar o evento, uma vida foi tirada Ana Luiza

O caso de João Vinicius está sendo investigado pela 32ª DP, de Taquara, que apura as circunstâncias da morte do estudante. A Polícia Civil vai realizar uma perícia no Riocentro nesta terça-feira (12). "Apesar de o local não ter sido preservado até a chegada da polícia, a perícia será realizada e eventual prejuízo para as investigações será objeto de responsabilização na forma da lei. Os organizadores do evento e outras testemunhas serão chamados para prestar depoimento e diligências estão em andamento para apurar os fatos", informou.

Outra jovem, que preferiu não se identificar, também tomou choque em uma das estruturas do evento, antes de João Vinicius. Ela conta que estava suada e molhada após jogar água no rosto:

"Minutos antes de começar a chuva, eu fui comprar um lanche no food truck da pista premium. Eu encostei na mesinha presa ao carrinho e levei um choque bem forte. Levei um susto e quase caí para trás. Avisei ao pessoal que estava trabalhando e eles estavam enrolados, não deram atenção. Uma moça vinha na direção para encostar e também avisei, mas ela não me deu ouvidos e encostou. Como ela não levou choque, me ignorou", conta.

A "I Wanna Be Tour" publicou em rede social uma nota sobre a morte de João Vinícius. Nos comentários, outras pessoas relataram mais falhas do evento:

"Quando fui comprar um refrigerante no bar, tomei um choque. Havia inclusive um segurança avisando para não encostar porque o bloco metálico do chão estava dando choque. Como vocês podem ser tão irresponsáveis ao deixar um negócio desses exposto?", disse uma mulher.

"Após o incidente, não tinha uma equipe para isolar o perímetro. Tive que ficar gritando até isolarem a área com lixeiras. Despreparo", disse outro rapaz.

Tragédia poderia ser evitada

Especialista em gestão de crise, Gerardo Portella, explica que a água é uma excelente condutora de eletricidade. Em contato com o corpo, que é 70% água, a transmissão de eletricidade ocorre de uma maneira muito intensa e quase sempre letais.

"Existem muitos cuidados técnicos para se isolar os equipamentos elétricos para que eles não tenham contato com a água. As imagens, as gravações mostram que houve uma sucessão de falhas de instalação, onde os cabos estavam espalhados em um terreno, que ficou molhado com a chuva. Até mesmo as instalações fixas acabaram mostrando fragilidades, como postes danificados com sua estrutura e armação metálica exposta, cabos soltos e tudo isso mostra que as normas não estavam sendo seguidas", explica Gerardo à reportagem.

Quem foi ao evento disse à reportagem que presenciou cabos soltos, espalhados e estrutura amadora em diversos locais.

"Os cabos estavam improvisados anexados à estrutura de uma forma fora dos padrões técnicos de segurança. Plugs e tomadas colocados de forma desprotegida da chuva, da umidade do solo e da carcaça de um food truck, basta um toque para ser letal. Isso pode ser evitado cumprindo as normas da NR10 e de outras que auxiliam na prestação de serviço, montagem e instalações com eletricidade. Enquanto não seguimos as normas com rigor técnico e entendimento do que elas significam, nós vamos ter tragédias como essa", disse o especialista.

O Riocentro, local onde o evento foi realizado, indicou que está acompanhando o caso com a 30e, responsável pelo festival. "A administração do centro de convenções está acompanhando o caso de perto junto à organização, para que a família receba toda assistência necessária", declarou em entrevista.

A 30e também se pronunciou apenas sobre o caso de João Vinicius, explicou o ocorrido e lamentou a morte do fã.

"Uma forte chuva atingiu o Rio de Janeiro enquanto o evento I Wanna Be Tour era realizado no Riocentro; e o público se dirigiu para a marquise coberta, seguindo os protocolos de segurança. Neste momento, lamentavelmente, ocorreu um incidente na área descoberta próxima a um food truck: o jovem João Vinícius Ferreira Simões foi atingido por uma descarga elétrica. O sistema de segurança foi acionado no mesmo instante para atendimento e para as providências de socorro. Apesar do pronto atendimento e de todos os esforços realizados pelas equipes médicas no evento e no hospital, o jovem não resistiu e, infelizmente, veio a óbito. A 30e, produtora do evento, lamenta profundamente e está apurando o ocorrido junto às autoridades. Até então, informações obtidas atestam a conformidade da operação do food truck. A produtora já estabeleceu um primeiro contato com a família do jovem para prestar solidariedade e dar toda assistência necessária".

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