'Nana' é o 'Sex and the City' dos fãs de anime
Fábio Garcia
13/03/2024 12h00
A vida de mulheres jovens e estilosas numa cidade grande, seus conflitos amorosos e sua luta pela liberdade de fazer o que querem. Essa premissa até parece a da clássica série "Sex and the City" da HBO, mas estamos falando da série "Nana". E com a chegada desse anime ao catálogo da Netflix, o Brasil ganhou mais uma oportunidade de celebrar a obra de Ai Yazawa, um dos grandes nomes do mangá para mulheres no mundo. Splash agora vai apresentar a história dessas protagonistas que encantaram não só o Japão, mas o mundo todo.
As duas Nanas
A história de "Nana" começa quando duas mulheres de mesmo nome acabam se encontrando em uma viagem só de ida à Tóquio. Nana Komatsu é a típica jovem sonhadora que cria fantasias e idealiza ter um relacionamento de contos de fadas. Essa Nana viaja à capital japonesa atrás de Shoji, um rapaz com quem namorou após se envolver com um homem casado.
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Já Nana Osaki parece ser o completo oposto. Decidida, forte e dedicada à música, ela viaja a Tóquio com o objetivo de conseguir uma carreira artística profissional, mesmo que isso envolva estar próxima do homem por quem foi apaixonada, Ren, músico que saiu de sua cidade para entrar em uma banda em ascensão.
Embora altamente improvável, as duas Nanas criam uma amizade e decidem dividir juntas um apartamento na cidade grande. Em meio a eventos comuns dessa época dos 20 e poucos anos, frustrações profissionais, traições e traumas passados, uma está lá para servir de apoio para a outra, com companheirismo e bom humor.
O Sexo e a Cidade
Ai Yazawa tem um talento único na hora de contar suas histórias. Suas personagens passam longe de qualquer idealização romântica, e se mostram pessoas complexas com desejos, falhas e talentos. A maior prova disso é o quanto a narrativa da autora nos faz simpatizar e discordar de um mesmo personagem com frequência.
Ainda que sejam histórias com objetivos diferentes, não é tão estranho comparar "Nana" com a série "Sex and the City". As duas séries partem do princípio de mostrar a vida de jovens mulheres na cidade grande e a forma como lidam com o amor. Além disso, as duas histórias são contadas sob o ponto de vista de uma narradora que está relembrando as coisas do passado.
Há também a presença de um elenco de apoio diverso, capaz de proporcionar situações das mais variadas. Os homens de "Nana" por exemplo estão longe de serem idealizados, e são apresentados como criaturas falhas (ainda que muito estilosas). O próprio Shoji, motivo que levou Nana Komatsu a Tóquio, e sua indecisão sobre sua colega de trabalho Sachiko oferece situações que provavelmente veríamos num k-drama da Netflix ou numa novela da Globo.
Mas, acima de tudo, são histórias sobre mulheres fortes e independentes. Mulheres que buscam alcançar seus sonhos, seja romântico (como a Komatsu) ou profissional (como a Osaki) e que se ajudam em adversidades com ajuda de uma rede de apoio.
A mãe de "Nana"
O fenômeno "Nana" foi enorme no Japão. A autora Ai Yazawa vinha já de outras obras de sucesso como "Tenshi Nanka Ja Nai" e "Paradise Kiss", mas a obra das duas amigas em Tóquio projetou a autora de forma nunca antes vista. Já em 2005 a série foi adaptada para filme com atores de carne e osso, e logo depois ganhou um celebrado anime.
O êxito foi tamanho que em 2005 "Nana" derrotou "One Piece" na lista de mangás mais vendidos no Japão. Segundo números atualizados de 2021, "Nana" vendeu cerca de 50 milhões de cópias em seu país de origem, ficando na mesma faixa de venda de sucessos como "InuYasha" e "Great Teacher Onizuka". Isso porque nem entra na conta os volumes vendidos fora do Japão, e "Nana" sempre figurou na lista de mais vendidos em países como França e EUA.
Infelizmente o mangá não teve uma conclusão, tendo sido pausado no volume 21. Yazawa colocou sua obra em hiato em 2009 após um problema de saúde que a levou ao hospital, e desde então ela se afastou do meio.
Nos últimos anos a autora voltou a se aproximar dos desenhos, fazendo pequenos projetos como desenhos para álbuns de música e algumas artes de suas obras, mas não se sabe ainda se "Nana" será retomado.
Mesmo sem um final, é uma história que vale a pena acompanhar. Ai Yazawa é mestre em mostrar relacionamentos complexos, personagens estilosas e é dotada de um senso de humor único que garante também uma leveza para suas histórias tão densas.
Onde acompanhar?
O anime de "Nana" está disponível na Netflix com legenda. A versão em quadrinhos é publicada pela Editora JBC, e recentemente começou a reimprimir os 21 volumes da série.
E para quem quer conhecer mais da autora, é recomendável ler o ótimo mangá "Paradise Kiss" que trata sobre o mundo da moda. Os 5 volumes da série saíram no Brasil pela Editora Panini.