Relatos e dramatização: como será a série que remonta 'Titanic' carioca?
Era 31 de dezembro de 1988 quando a embarcação Bateau Mouche IV naufragou na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. A tragédia, marcada pela morte de 55 pessoas e pela impunidade, vira uma série documental da HBO. A produção está sendo gravada na capital fluminense e ainda não tem previsão de estreia.
Com três episódios, a série vai mesclar relatos inéditos e dramatização. A direção fica sob responsabilidade de Tatiana Issa e Guto Barra, os mesmos criadores de "Pacto Brutal - O Assassinato de Daniella Perez" (2022).
Para a série documental, foram gravadas recriações no mar em um tanque com 40 metros de comprimento, 30 de largura e até 25 de profundidade. Além disso, até o fim das filmagens, serão realizadas 30 entrevistas com sobreviventes, familiares das vítimas, advogados, especialistas e protagonistas do resgate.
Splash acompanhou a filmagem que remontou a virada do barco e o resgate dos sobreviventes na Baía de Guanabara. A gravação foi realizada no tanque desenvolvido dentro da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que consegue reproduzir condições oceânicas e gera ondas de até um metro de altura. A produção escalou figurantes com habilidades náuticas para recriar cenas agoniantes.
[Gravar a cena dos sobreviventes] É impactante porque você revive aquela noite. É o nosso Titanic, tirando as devidas proporções, porque o Titanic era um barco muito maior, mas o grau da tragédia foi similar. Aconteceu numa noite de alegria, numa noite em que se faz planos, deseja um ano melhor. Ninguém ali estava sozinho. Você passa o Réveillon com familiares, amigos, filhos, marido, esposa...
Tatiana Issa
A produção quer analisar como a tragédia impactou a sociedade, provocando reflexões sobre turismo responsável, cobertura sensacionalista da mídia e impunidade. Um dos episódios será dedicado aos trâmites jurídicos após a tragédia e o que aconteceu com os responsáveis pela tragédia, que envolve acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, além da fuga de alguns dos condenados.
Até hoje, as pessoas estão vivendo as consequências da tragédia. Conversei com uma pessoa na semana passada que ainda estava lidando com uma questão jurídica relacionada ao Bateau Mouche. Uma coisa séria que não se resolve. É um trauma que as pessoas ficam revivendo e não conseguem sair daquilo, como uma assombração.
Guto Barra
Linha tênue
Após um ano de análise, os diretores concluíram que a dramatização seria importante para a audiência entender como o barco virou na baía e para as pessoas se identificarem emocionalmente com a história. "Aquele barco era um absurdo de coisas erradas. Foi reformado ilegalmente, tava com excesso de passageiros por irresponsabilidade de quem estava operando", pontua Guto.
Em um momento que se discute a linha tênue entre o aceitável e o sensacionalismo no true crime, os diretores enfatizam o trabalho feito a partir do respeito e sensibilidade. "Às vezes, a gente grava coisas e não usa para não passar do limite... O true crime virou um formato. A questão está na sensibilidade no olhar de quem conduz. Você pode pesar mais a mão na tinta ou menos. Vai além do documentário com depoimentos apenas. É para o telespectador conseguir sentir a dor", pensa Tatiana.
A diretora descreve os detalhes daquela noite relatados pelos sobreviventes como "assombrosos". "Essas pessoas ficaram tanto tempo naquele mar escuro, rodeados de pessoas mortas, elas viam corpos e pedaços de objetos até serem resgatadas. Tinha a cacofonia dos sons: 'mãe', 'pai', 'Fulano' ou 'Ciclano'... As tragédias coletivas colocam as vítimas junto de pessoas que elas nem conheciam. É uma dor muito profunda compartilhada com pessoas que eles nem sabiam o nome", descreve Tatiana.
É preciso tomar cuidado para não espetacularizar demais a tragédia e não tentar fazer um thriller de Hollywood.
Guto Barra
Você tem que passar a sensação daquela noite tão triste e não ser literal ou exploratório.
Tatiana Issa
Bateau Mouche IV
Inspirado nas embarcações parisienses que levam passageiros pelo Rio Sena, o passeio se disseminou rapidamente por turistas, empresários, políticos, jornalistas e artistas famosos. Além do trajeto pela Baía de Guanabara, o Bateau Mouche IV tinha como proposta oferecer um jantar refinado, com música, open bar e uma visão privilegiada do show de fogos da praia de Coapacabana.
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Quero receberUma das 55 vítimas foi a atriz Yara Amaral, então com 52 anos e no auge de sua carreira no teatro e na TV. O total de passageiros embarcados naquela noite ainda é um mistério, já que nunca se soube de uma lista de presença. Especula-se que havia 142 passageiros em uma embarcação com capacidade para 62 pessoas.
A série é dirigida e produzida por Tatiana Issa e Guto Barra, com roteiro de Guto Barra e Renata Amato e com supervisão de Sergio Nakasone, Adriana Cechetti e Patrício Diaz por parte da Warner Bros. Discovery.
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