Socialite em 'Família É Tudo': 'Só era chamada para fazer mãe de criminoso'
Ana Carbatti, 54, vive a socialite Nanda Mancini em "Família É Tudo". A atriz comemora que atores e atriz negras recebam papéis cada vez mais diversos no audiovisual, em especial, nas telenovelas.
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A atriz conta que, em um determinado momento de sua carreira, era chamada para fazer personagens muito semelhantes e carregados de estereótipos. "Houve um período em que só era chamada para fazer mãe de filho envolvido com crime, uma pessoa que mora na periferia e que tá sofrendo."
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Com mais de dez novelas no currículo, tanto na Globo como na Record, ela diz não negar papéis, mas não gostar de ser colocada em uma caixinha. "Gosto muito de trabalhar e acho que qualquer personagem que eu fizer, seja grande ou pequeno, rico ou pobre, vai trazer uma vivência, melhorar o meu trabalho e me [fazer] comunicar com o público, mas chega um momento que você começa a perceber que tem uma tendência no audiovisual, que é te associar sempre com a mesma coisa, né?"
Hoje, a gente vive um momento em que as pessoas estão interessadas em modificar essa estrutura [racista], que é só a gente conversar e dizer: 'Já fiz esse, já fiz aquele, acho melhor a gente pensar em outra coisa'. A gente vai abrindo os caminhos. Não recuso papel, mas também não deixo que me coloquem numa caixinha. É uma tarefa difícil, mas é possível.
Ana Carbatti
"Família É Tudo"
Na história, Nanda foi a quinta esposa de Pedro Mancini (Paulo Tiefenthaler), é mãe de Plutão (Isacque Lopes) e criou Electra (Juliana Paiva) — já que se uniu a Pedro logo depois de a mãe dela falecer. Tenta restaurar os laços com Electra após a filha sair da cadeia. Não compreende a rejeição de Plutão à ideia de ser herdeiro de uma das maiores fortunas do país.
A Nanda me dá uma alegria enorme. Ao mesmo tempo, é muito parecida e completamente diferente de mim. A Nanda é uma socialite preocupada com a relação social, com o que as pessoas vão pensar e com o futuro. E eu sou uma atriz. Nós, atores, não podemos ficar preocupados com o futuro, porque ele é sempre uma coisa Inesperada.
Ana Carbatti
A atriz e a personagem se aproximam por serem dedicadas as suas famílias. "Sou muito dedicada a cuidar da minha mãe, uma senhora idosa, me preocupo em levá-la ao médico e saber se está bem de saúde. Sou muito preocupada com o meu filho, com meu marido. Família é importante."
25 anos na TV
Ana estreou na televisão na novela "Força de um Desejo" (1999) como Zulmira, uma mulher escravizada. Desde então, participou de mais de 25 produções, incluindo novelas, filmes e peças teatrais.
Comecei na televisão fazendo uma mulher escravizada, uma grande personagem, tenho carinho grande pela Zulmira [de 'Força de um Desejo', em 1999]. E fico feliz demais de 20 anos depois estar fazendo uma socialite paulista. É a comprovação de que o nosso mundo está mudando, que as pessoas negras são consumidoras e que elas podem chegar a patamares antes inesperados.
Ana Carbatti
Atualmente, na história de Daniel Ortiz, ela dá vida a uma socialite rica que se destaca pela elegância de seus looks. Em 2001, ela já havia interpretado outra personagem que se destacava pela mesma característica, a Dominique Cruz, uma artista plástica famosa de "Estrela-Guia".
Ana também se considerada elegante — sem deixar de lado sua versão popular — e acredita que consegue emprestar sua personalidade às personagens. "Trabalhar não só com o que você vê por fora e furar essa expectativa que a gente tem de um negro está sempre na mesma posição [de subalternidade]."
Como artista negra, tive que aprender a me impor. Quando era muito jovem, escutava coisas que não queria ouvir, que me diminuíam como indivíduo e artista. Não me conformava com aquilo e fui criando uma persona que mete os peitos e bota o carão. Essa elegância não é nada planejada. Sou elegante, mas também não sou, entendeu? Porque eu gosto da rua. Elegância é ter a sua personalidade, acreditar e seguir a sua intuição, seus desejos e respeitar as pessoas.
Ana Carbatti