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Luis Miguel investe em clima romântico, mas não canta hit 'La Barca' em SP

Principal atração do circuito musical off-festival Lollapalooza, Luis Miguel, que se apresentou na noite deste sábado, 23, no Allianz Parque, em São Paulo, é incontestavelmente um dos grandes nomes da música romântica latina de todos os tempos.

O cantor nascido em Porto Rico e criado no México deu continuidade ao legado de Julio Iglesias, estrela-mor da música romântica de língua espanhola, que formou outros discípulos, como seu próprio filho, Enrique Iglesias. Aos 53 anos, Luis Miguel é um dos últimos românticos.

Na atual cena da música pop latina, não há mais figuras de cantores dessa linhagem, com um repertório romântico, estilo de se vestir elegante e interpretações dramáticas e viscerais - pelo menos, não com o mesmo impacto que esses nomes tiveram nas últimas décadas.

Artistas de língua espanhola da nova geração que conseguem projeção investem em outros estilos, que tenham apelo junto a um público mais jovem "formado" pelo TikTok, e direcionam sua carreira internacional de outra forma, não descartando até cantar em inglês também.

Por isso, ver Luis Miguel, conhecido como "El Sol de México", cantando ao vivo é um acontecimento. Ou deveria ser. Ele voltou ao Brasil após 12 anos, para única apresentação no Allianz Parque.

Luis Miguel não cantou 'La Barca', seu maior sucesso no Brasil, no Allianz Parque, no sábado (23)
Luis Miguel não cantou 'La Barca', seu maior sucesso no Brasil, no Allianz Parque, no sábado (23) Imagem: Staff Image/Allianz Parque

Não teve muita sorte com o clima daqui. Se, no final de semana passado, os termômetros da capital paulista ultrapassaram os 30 graus, neste sábado, as 25 mil pessoas que foram ao show do cantor tiveram de enfrentar baixas temperaturas e forte chuva.

O atraso de cerca de 30 minutos para o início do show de sua nova turnê mundial, marcado para começar às 20h, também não chegou a abalar os ânimos do mar de pessoas vestidas de capas de chuvas, que ocupavam as arquibancadas e as cadeiras instaladas na área da pista.

O estádio não estava totalmente lotado, mas estava cheio. Prova de que Luis Miguel ainda tem um público cativo no Brasil - grande parte dele, o cantor carrega desde os anos 1990, quando estourou nas rádios daqui e entrou em trilhas sonoras de novelas da Globo.

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E conquistar o público brasileiro cantando em espanhol não é tarefa fácil, apesar da proximidade dos idiomas, vide a dificuldade que os artistas de países vizinhos, como Argentina, têm de entrar e se estabelecer no nosso mercado.

Mas Luis Miguel cometeu uma falha imperdoável: não incluiu "La Barca'" um dos maiores hits de sua carreira e que ajudou a popularizar seu nome no Brasil, após ter entrado na trilha da novela "Deus Nos Acuda" (1992/1993) como tema do casal protagonista formado por Claudia Raia e Edson Celulari.

O cantor mexicano Luis Miguel trouxe seu pop romântico para show único no Brasil, no Allianz Parque, em São Paulo, no sábado (23)
O cantor mexicano Luis Miguel trouxe seu pop romântico para show único no Brasil, no Allianz Parque, em São Paulo, no sábado (23) Imagem: Staff Images/Allianz Parque

Vendo o setlist do show em outras cidades, "La Barca" já não constava na lista, mas a esperança é que o artista abrisse uma exceção no país, sabendo do grande sucesso que a canção fez por aqui, e a cantasse no bis.

"La Barca" poderia ser uma espécie de redenção dentro de um repertório irregular e sem muita "costura" do cantor. Luis Miguel investiu nos covers, muito presentes em sua obra, e nos pot-pourri.

Começou a apresentação em alta frequência com dois covers que são sucessos de sua carreira: "Será Que No Me Amas", versão de "Blame it To The Boogie", dos The Jacksons, e "Amor Amor Amor", versão 'acelerada' de "Amor", de Bing Crosby.

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Emendou com a romântica "Suave" e as sofrências "Culpable o No", "Te Necessito" e "Hasta Que Me Olvides", acompanhado em coro e por um festival de luzes de celulares pelo público. Enquanto isso, o telão projetava símbolos tropicais, como palmeiras, e iluminação trazia cores vibrantes, numa estética meio Miami Beach.

O repertório seguiu o estilo romântico que o consagrou, com "Dame" e o pot-pourri "Como yo te amé / Solamente una vez / Somos novios / Todo y nada / Nosotros", quando esbarrou em duas homenagens, certamente legítimas por se tratarem de ídolos do cantor, mas que causaram certo estranhamento por diferentes aspectos.

Em "Sonríe, cover de "Smile", de Charlie Chaplin, Luis Miguel faz um dueto virtual com Michael Jackson, morto em 2009 — uma ideia que, na verdade, havia sido lançada muitos anos atrás por um fã do artista latino ao criar o duo fictício no YouTube.

No palco, ele canta a versão em espanhol da música e a voz de Michael, a letra original em inglês, enquanto a imagem do popstar é projetada no telão. Não emocionou.

Na sequência, Luis Miguel apresenta outro dueto virtual, desta vez em "Come Fly With Me", com Frank Sinatra, que morreu em 1998, cantando seu clássico num antigo vídeo projetado no telão.

Nesse caso, o dueto funcionaria muito melhor do que com Michael, pela semelhança de estilo entre os dois, mas o volume do áudio de Sinatra, muitas vezes, se sobrepunha à voz de Luis Miguel. Para um dueto dar certo, é preciso que tudo esteja em sintonia, coisa que não aconteceu.

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Luis Miguel em apresentação única no Brasil, no Allianz Parque, no sábado (24)
Luis Miguel em apresentação única no Brasil, no Allianz Parque, no sábado (24) Imagem: Staff Image/Allianz Parque

Já a participação in loco de um grupo de mariachi, interpretando "La Fiesta del Mariachi", ao lado de Luis Miguel, e que marcou o início da segunda parte do show, funcionou muito melhor, trazendo novo vigor à apresentação.

O show se encaminhou para o fim com Luis Miguel interpretando outros covers, como "La Bikina", e sucessos como "Te Propongo Esta Noche'', mas sem sinal de cantar "La Barca" — nem de interagir com o público. O cantor é carismático, está com a voz impecável, dança, conduz sua banda, mas não conversou com o público em nenhum momento.

Depois de cantar o pot-pourri "Ahora te puedes marchar / La chica del bikini azul / Isabel / Cuando calienta el sol", ele se despediu da plateia com acenos e sorrisos. Saiu do palco com a banda, criando a expectativa do bis. Mas não retornou, e as luzes do estádio foram acesas. Os fãs foram embora visivelmente decepcionados. E sem sua "La Barca" ao vivo para carregar na memória.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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