De abuso sexual a machismo: os bastidores do escândalo da Nickelodeon

Desde que a série documental "Quiet On Set" foi lançado nos Estados Unidos, nos dias 17 e 18 de março, a indústria cinematográfica de americana não fala de outra coisa. A produção é dividida em quatro partes e detalha os bastidores da televisão infantil do final dos anos 1990, ao início de 2010. O foco é a gestão de Dan Schneider como produtor da Nickelodeon e as alegações de abuso sexual nos bastidores.

Abaixo, saiba as principais denúncias feitas pelo documentário e quais foram as respostas para elas até agora.

Drake Bell

A parte mais chocante de "Quiet on Set" é a revelação de que Drake Bell, de "Drake & Josh", foi vítima de Brian Peck, um treinador de diálogos que estava sempre presente no set. Segundo depoimento do ator, ele e Peck se tornaram próximos. O pai de Bell, que aparece na série documental, diz que o relacionamento começou com Peck sempre estando perto de Bell e encontrando maneiras de fazer contato físico.

Quando o pai de Bell expressou suas preocupações aos produtores, ele foi acusado de ser homofóbico contra o treinador. Depois que ele deixou de ser empresário do filho, Peck convenceu a mãe de Bell de que fazia sentido o ator mirim ficar na casa de Peck para facilitar o trabalho.

Aos 15 anos, Drake Bell acordou com Peck, 41, agredindo-o sexualmente. Este episódio foi o começo de um padrão de abuso, que continuou durante um período de seis meses. Bell diz que percebeu estar "preso" e "sem saída" e descreve o abuso como "extenso" e "bastante brutal".

Pôster de Quiet on Set
Pôster de Quiet on Set Imagem: Divulgação

Mais abusadores no set

Segundo é contado pela mãe de uma figurante de The Amanda Show, os pais não eram autorizados a entrar no set quando seus filhos eram conduzidos pelo assistente de produção Jason Handy. Ele mandou um email para uma jovem com uma foto sua se masturbando. Ele foi preso em 2003 por seu comportamento inadequado em relação às crianças.

A Justiça encontrou em sua casa diversos conteúdos de pornografia infantil, incluindo mais de dez mil imagens de crianças. Além disso, Handy tinha sacolas Ziploc com "fichas" de seu relacionamento com crianças que conhecia, incluindo roupas íntimas de uma menina de sete anos.

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Em 2009, Ezel Channel, outro trabalhador da Nickelodeon, foi condenado por abusar de um menino em 2005. Ele também já tinha condenações anteriores como agressor sexual.

Piadas inapropriadas

Schneider colocava atores infantis em esquetes com textos sexuais. Logo na primeira série da qual era showrunner e principal escritor, a "All That", havia momentos perturbadores de serem assistidos.

O ator infantil Leon Frierson, por exemplo, usou uma fantasia de super-herói com narizes protéticos de aparência fálica nos ombros. Em certa cena, o super-herói atira ranho em outra pessoa, em um movimento descrito pela jornalista Scaachi Koul — entrevistada pelo documentário — como "uma piada de gozada para crianças".

Essa tendência continuou em The Amanda Show, a próxima produção de Schneider, que incluiu a atriz principal Amanda Bynes interpretando uma personagem chamada "Penelope Taint", sendo "taint" uma maneira vulgar para se referir ao períneo, a parte da pelve que contém a genitália externa e o ânus. Segundo os escritores do programa, eles foram instruídos a mentir sobre o significado anatômico da palavra "taint" para os executivos da Nickelodeon.

Bryan Hearne, um dos únicos atores negros de "All That", fala sobre um ambiente racialmente desconcertante. Por exemplo, ele conta que foi escalado como traficante de biscoitos de escoteiras em um esquete que imitava um cenário de tráfico de drogas.

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Sala de roteiro de The Amanda Show

Christy Stratton, uma das duas escritoras da equipe de The Amanda Show, diz que "trabalhar para Dan era como estar em um relacionamento abusivo". Stratton e sua colega Jenny Kilgen alegam que, por serem as duas únicas mulheres da equipe, foram forçadas a dividir seus salários, sendo ameaçadas por Schneider ao relatarem o fato ao sindicato de roteiristas. Ao documentário, Schneider nega as acusações e diz que não tinha o controle quanto ao salário das pessoas.

As roteiristas teriam sido coagidas a uma cultura de trabalho sexualmente exploradora e misógina criada por Schneider. De acordo com Stratton e Kilgen, o produtor disse abertamente que as mulheres não são engraçadas, mostrou pornografia na tela do computador a elas e até pediu a Kilgen para massageá-lo, comportamento pelo qual se tornaria conhecido em todos os seus sets.

Durante uma conversa, enquanto Stratton contava uma história sobre seu ensino médio, Schneider teria dito que seria engraçado se ela "se inclinasse sobre a mesa e agisse como se estivesse sendo sodomizada e contasse aquela história". Embora Christy Stratton não queira falar sobre o assunto em detalhes para o documentário, Jenny Kilgen diz que a amiga se recusou até o ponto que "não conseguia mais dizer não" ao chefe.

Amanda Bynes em 2009
Amanda Bynes em 2009 Imagem: Jamie McCarthy/WireImage

Repercussão

"Quiet On Set" recebeu críticas positivas, tanto do público, quanto da crítica. Foram elogiadas, principalmente, as pessoas que sofreram com os abusos e tiveram coragem de contar suas histórias.

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Schneider publicou um vídeo de 20 minutos de desculpas em seu canal no YouTube no dia 19 de março de 2024. Na publicação, ele conversa com BooG!e, o T-Bo de "iCarly".

Não há previsão de quando "Quiet on Set" chegará ao Brasil.

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