Livro sobre racismo volta às escolas após ser censurado; relembre polêmica
O livro "O Avesso da Pele", do autor Jeferson Tenório, voltou às escolas do Paraná e de Goiás depois de ser censurado no mês passado. Publicada em 2020, a obra aborda a questão do racismo estrutural ao narrar a história de Pedro que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos.
Relembre a polêmica
As críticas ao livro começaram após a publicação da diretora de uma escola do Rio Grande do Sul, em uma rede social. Ela afirmou que a obra apresenta "vocabulários de tão baixo nível para serem trabalhados com estudantes do ensino médio". Na época, o governo de Eduardo Leite (PSDB) disse que não orientou pela retirada do livro.
Questionamento chegou a governadores, que decidiram censurar distribuição da obra. O governo do Paraná, comandado por Ratinho Júnior (PSD) disse que "faria a leitura e análise com vistas a definir se o livro poderá ou não ser distribuído" aos alunos do ensino médio. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), seguiu a mesma determinação.
A obra tinha passado pela análise de mestres, doutores, professores e especialistas do MEC (Ministério da Educação) antes de serem oferecidas às escolas. Só depois disso, ela foi incluída no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) do governo federal — o que ocorreu durante a gestão de Bolsonaro.
Assim como determina as regras do PNLD, "O Avesso da Pele" foi escolhido pelos professores e gestores das escolas. Além dele, mais de 500 outras obras literárias foram apresentadas aos colégios no momento da seleção.
O título faz parte também das obras literárias abordadas no vestibular do ITA, considerado o mais difícil do país. Depois da polêmica, ele passou a ser incluído como obra obrigatória no vestibular da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
A Secretaria da Educação de Goiás afirmou que a obra passou por análise após "reclamações" das famílias de alunos, segundo ofício ao qual o UOL teve acesso.
Deputados chegaram a pediram investigação ao MPF. Eles afirmaram que a decisão era uma "medida antidemocrática". As advogadas da editora HSF, que publicou a obra, entraram com mandado de segurança contra o recolhimento dos livros.
A decisão de devolver as obras aconteceu essa semana, após os estados serem intimados a prestarem mais informações à Justiça.
São atos violentos e que remontam dias sombrios do regime militar. Inaceitável uma atitude antidemocrática como essa em pleno 2024. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura.
Jeferson Tenório, escritor e colunista do UOL, em março de 2024
Agora, o livro voltou a ficar disponível para adolescentes inscritos nas escolas estaduais goianas. "Após a identificação de que a obra era destinada ao ensino médio, eles passaram a compor o acervo da biblioteca destinado a esse público", diz o documento.
Já o governo do Paraná afirmou que a devolução dos livros às escolas está em processo "de análise e orientações". "A devolução às escolas deve ser realizada até o fim do mês de abril", diz nota enviada à reportagem.
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