'Me despedi mil vezes': Ziraldo partiu aos poucos, diz filha

Daniela Thomas, filha de Ziraldo, contou que o cartunista teria morrido lentamente. "Ele foi paulatinamente embora", disse em entrevista ao Fantástico. O cartunista morreu na tarde de ontem, aos 91 anos.

"Ele teve todo o tipo de problemas de saúde. [...] Eu me despedi dele mil vezes, eu tive mil conversas, mil carinhos, mil trocas, até o último momento", contou. "A última coisa que fiz, na véspera da morte dele, foi pedir a ele para encontrar os amigos, o irmão, a irmã e minha mãe", disse Daniela emocionada.

Ainda na entrevista, a cineasta falou sobre a fixação do pai, criador do Menino Maluquinho, pela infância. "Ele tem uma percepção pessoal de que a alma dele estava em seu máximo, em sua melhor forma quando ele tinha sete anos. Ele identifica a infância como o paraíso."

Para ela, Ziraldo era um "um nerd da história em quadrinho quando criança", e por isso via o Brasil de maneira tão diferente. "Ele entedia como um lugar da diversidade, não era um país de personagens brancos, era um país de quem ele conviveu na infância."

Sinto muito orgulho do quão visionário ele foi.

Daniela acredita que o pai teve uma "vida boa". "Ele teve uma vida adulta feliz. Ele dizia que se achava pouco valoroso como autor de literária por ter uma vida de grande afeto, felicidade e harmonia."

No entanto, lembrou de quando ele foi preso pela ditadura militar. "Ele ficou um mês em uma solitária, o que foi muito violento, porque ele vivia em companhia. Fiquei muito impressionada como ele tava angustiado, solitário."

O corpo de Ziraldo foi enterrado na tarde deste domingo (7) no Cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio. O velório também aconteceu hoje, a partir das 10h, no MAM - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

A cineasta Daniela Thomas no velório de seu pai, o cartunista Ziraldo
A cineasta Daniela Thomas no velório de seu pai, o cartunista Ziraldo Imagem: Carlos Elias/Brazil News
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Vida e Obra

Ziraldo nasceu em Caratinga (MG), em 24 de outubro de 1932.

Começou sua carreira em 1954, na "Folha da Manhã" (hoje, Folha de São Paulo), com uma coluna de humor. Se formou em Direito, em 1957, na Faculdade de Direito de Minas Gerais.

Casou-se em 1958, com Vilma Gontijo, com quem teve três filhos.

Ziraldo começou a ganhar fama nacional com os trabalhos na revista O Cruzeiro e Jornal do Brasil.

Lançou em 1960 a revista em quadrinhos "Turma do Pererê", a primeira história em quadrinhos a cores produzida no Brasil. A obra também foi o primeiro gibi brasileiro feito por um só autor.

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A história foi cancelada após o início da ditadura militar, voltando nos anos 70.

Lançou em 1980 sua obra mais famosa, "O Menino Maluquinho".

O Menino Maluquinho
O Menino Maluquinho Imagem: Divulgação

"O Menino Maluquinho", seu maior sucesso, já vendeu mais de 4,1 milhões de exemplares. Com mais de 200 livros publicados, Ziraldo tem diversos outros best-sellers, como "Uma Professora Muito Maluquinha", "Menina Nina", "O Bichinho da Maçã" e "O Planeta Lilás."

O cartunista foi homenageado em 2018 na CCXP, evento de cultura pop que acontece em São Paulo, no Artist's Alley, o espaço dedicado a quadrinistas e ilustradores.

Atuação política

Durante o regime militar, Ziraldo foi um dos fundadores do "O Pasquim", que fazia oposição ao regime.

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Ele foi preso e levado para o Forte de Copabacana um dia após a promulgação do AI-5.

Em setembro de 2018, Ziraldo foi internado no Hospital Pró-Cardíaco no Rio de Janeiro após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Seu estado de saúde, na ocasião, era considerado grave.

Em outubro, ele recebeu alta da instituição e, três dias depois, ele já aparecia na web, em um vídeo no qual pedia voto para Fernando Haddad (PT), nas eleições presidenciais.

Em 2005 ele se filiou ao recém-criado Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e desenhou o logo da agremiação.

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