Paralamas gravam DVD de 40 anos com hits memoráveis, mas sem novidades
Os Paralamas do Sucesso, que fizeram show neste sábado (6), no Espaço Unimed, em São Paulo, com ingressos esgotados, são uma espécie de patrimônio nacional da nossa música. Colecionando alguns dos maiores hits do rock brasileiro, Herbert Vianna, João Barone e Bi Ribeiro formam uma das bandas brasileiras mais longevas.
São 40 anos de carreira, completados em 2023, tendo como referência o álbum de estreia "Cinema Mudo", lançado em 1983 e de onde já saíram sucessos como "Vital e Sua Moto" e a faixa-título.
Por aqui, só grupos como Titãs chegaram tão longe e também celebraram 40 anos em 2023, com a turnê "Encontro", com a diferença de que eles foram perdendo integrantes ao longo do caminho — hoje apenas Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto compõem o núcleo central da banda — enquanto os Paralamas se mantêm como trio desde o começo.
E um episódio trágico poderia ter colocado fim aos Paralamas, quando Herbert sofreu um acidente aéreo, em 2001, ficou paraplégico e perdeu parte da memória. A música literalmente o salvou em seu processo de recuperação.
Por isso, a banda, sempre que pode, celebra sua existência, como está fazendo agora com a turnê "Paralamas Clássicos", em homenagem aos seus 40 anos de estrada. Com esse show, eles se apresentaram neste sábado (6), em São Paulo, e gravaram um DVD comemorativo.
A banda é uma potência no palco. Primeiro, pelo virtuosismo demonstrado pelo trio, com Herbert na guitarra e vocal, Barone na bateria e Bi no baixo. É impressionante, ainda, acompanhar a performance de Herbert nos palcos pós-acidente, nos últimos 20 anos: como o domínio que ele tem em tocar, cantar em qualquer idioma e compor ficaram inabaláveis.
No show no Espaço Unimed, os Paralamas, acompanhados de uma banda de apoio de peso, na percussão, teclado e metais, passearam por seus grandes sucessos, concentrados em discos emblemáticos como "Cinema Mudo" (1983), "O Passo do Lui" (1984), "Selvagem?" (1986), "Vamô Bate Lata" (1995) e "Longo Caminho" (2002).
A equipe técnica, elogiada por Herbert durante a apresentação, garantiu a qualidade de som no espaço cuja acústica, não raro, deixa a desejar. Elogios merecidos.
Foram duas horas de show, que começou às 22h30, com o sucesso "Vital e Sua Moto" seguido de outro, "Cinema Mudo", ambos do repertório do mesmo disco de estreia da banda. Emendaram com "Ska" e "Lourinha Bombril".
Em "Trac Trac", versão em português para a música do argentino Fito Páez, Herbert citou o amigo Fito antes de cantar um trecho da canção em castelhano. Foi o único momento do show em que fãs que conhecem bem a trajetória da banda puderam fazer alguma relação entre os Paralamas e sua boa relação com a Argentina, já que o grupo é um dos únicos no Brasil a ter conseguido furar a bolha e fazer sucesso no país vizinho. Coisa rara.
A balada "Mensagem de Amor" ganhou uma versão rock, com guitarra mais contundente. Em "Cuide Bem do Seu Amor", o público ergueu balões iluminados pela luz de seus celulares, atendendo a um pedido da banda, que fez parceria com a organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras, que lançou a campanha publicitária "Ame Sem Limites, Cuide Sem Fronteiras" usando essa canção.
Num ritmo 'corridão', com algumas pausas para Herbert fazer rápidas interações com a plateia lotada, vieram na sequência outra bateria de hits: "Saber Amar", "Tendo a Lua", "Aonde Quer que Eu Vá", "Lanterna dos Afogados", "Bella Luna", "O Amor Não Sabe Esperar", "Será que Vai Chover", "Assaltaram a Gramática", "Você", "Melo do Marinheiro" e "O Beco" — música essa que eles tiveram de repetir por estarem registrando todo o show para o DVD.
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Quero receberEm "A Novidade", Herbert lembrou que a música é uma parceria com Gilberto Gil, "um dos maiores artistas do país".
O setlist, acompanhado do início ao fim em coro pelo público, contou, ainda, com "Quase um Segundo", "O Calibre", "Selvagem" (com trecho de "Polícia", dos Titãs"), "Alagados", "Uma Brasileira", "Óculos" e, no bis, "Perplexo", "Romance", "Ela Disse Adeus", "Caleidoscópio" e "Meu Erro". E a plateia teve um repeteco de "Romance" e "Lanterna dos Afogados", porque elas também precisaram ser refeitas para o DVD.
O repertório escolhido pelos Paralamas revela o quão essas canções são atemporais, atravessando gerações e, certamente, ajudando a criar memórias afetivas. Elas mostram também a versatilidade musical da banda, que, para além do pop e do rock, gostam de buscar elementos do reggae, da música regional e dos ritmos latinos, e misturar no seu caldeirão sonoro saboroso.
No entanto, até por se tratar da gravação de um DVD, faltou a banda apresentar algum material inédito, mesmo porque Herbert segue compondo intensamente, ou mesmo a releitura-surpresa da canção de algum outro artista. O trio também deixou de fora as faixas de seu último disco de estúdio, "Sinais do Sim", lançado em 2017. Não houve também convidados.
Na gravação do DVD de 30 anos, lançado em 2014, os Paralamas montaram um setlist com mais novidades do que agora. Não que o público presente no show tenha ficado insatisfeito. Muito pelo contrário. Mas a banda poderia ter preparado algumas surpresas nesse repertório comemorativo de 40 anos. Seriam bem-vindas. E não soaria como um repeteco de um repertório que, de uma forma ou outra, eles já contemplam em seus shows.
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