A longa estrada de Edvana Carvalho até reconhecimento em 'Renascer' aos 55
Edvana Carvalho, 55, começou a fazer aulas de teatro na escola pública em que estudava aos 16. Hoje, quase 40 anos depois, aquela menina baiana conquista reconhecimento nacional ao interpretar Inácia no remake de "Renascer" — personagem que na versão original foi interpretada por Solange Couto e Chica Xavier.
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A fiel escudeira de Zé Inocêncio (Marcos Palmeira) emociona o público com cenas que enaltecem religiões de matriz africana, ancestralidade e sincretismo. Cenas ao lado de Pastor Livio (Breno da Matta) e Padre Santo (Chico Díaz) repercutiram nas últimas semanas.
Tem cenas que já leio o texto chorando. É tão forte. Mexe em mim porque sou uma mulher preta. A gente se emociona quando vai ensaiar, quando vai gravar, quando vai assistir. Na rua, o público se emociona contando e a gente se emociona tudo de novo. Um chororô danado, mas graças a Deus, um chororô positivo, de alegria e vitória... Não imaginava essa repercussão toda.
Edvana Carvalho
Essa cena de #Renascer foi uma verdadeira aula sobre fé e o sincretismo religioso na casa de cada brasileiro! Em um lindo diálogo, Pastor Lívio e Dona Inácia, mostraram que, com amor e respeito, diferentes crenças podem viver em absoluta harmonia.? pic.twitter.com/5HKsCLlIhI
? TV Bahia (@TVBahia) March 13, 2024
A longa estrada de Edvana
Vejo as pessoas dizerem na rede: 'Nossa! Que atriz fabulosa. Onde ela estava?' Tenho 55 anos e comecei no teatro aos 16. Já tenho uma longa estrada.
Edvana Carvalho
Natural de Salvador, Edvana participou da primeira formação do Bando de Teatro Olodum na década de 1990 — importante grupo teatral que ajudou a criar narrativas pretas para o teatro soteropolitano. Um dos maiores sucesso, a peça "Ó Paí, Ó", é um exemplo de como o bando ajudou a colocar atores pretos em cena e a população negra da cidade na plateia.
A peça "Ó Paí, Ó" se transformou em um sucesso, rodou o país e virou filme anos depois. "O filme explodiu. O povo brasileiro necessitava tanto se ver no cinema. Foi uma festa. Abriu as portas para os atores do bando no cinema e na TV."
Licenciada em Teatro pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e pós-graduada em Psicopedagogia, Edvana dá aula até hoje no Bando de Teatro Olodum e em escolas públicas. "Escolhi trabalhar em escola pública porque precisava dar voz e oportunidade a outras meninas de periferia como eu."
Edvana também integrou algumas novelas, como "Malhação" e "Pega Pega", no entanto, as oportunidades na TV nem sempre foram constantes. "Tenho um público maravilhoso que vem da 'Malhação'. Amei fazer, mas não é o público da novela das 9, que é o Brasil inteiro te conhecendo. Eu fazia um bom papel em 'Malhação', mas quando terminava, não era resgatada para fazer uma novela das 9. Ficava de molho até que um produtor de elenco que vai com minha cara me chamasse para outra 'Malhação' ou uma novela das 7."
Quem tava produzindo novela das 9 ou uma série, não me enxergava. O que é diferente para uma mulher branca, que começa numa 'Malhação', e se for bem, ela termina já cheia de contratos, mil propagandas e presentinhos na porta.
Edvana Carvalho
Edvana vive o momento de maior reconhecimento da carreira, graças a atual busca da Globo por um remake mais diverso, mas não esquece que vivemos em uma sociedade etarista. "Sou muito boa, mas não tenho mais 20 anos. Será que a televisão vai querer bancar a carreira de meia-idade e me colocar no lugar de destaque? Essa é uma pergunta que tenho. 'Ah, sua vida vai mudar [depois da Inácia]'. Não tenho essa certeza. São muitos entraves, mas, de qualquer forma, quando a gente tem a oportunidade de fazer, a gente dá o nome."
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Quero receberA (re)construção de Inácia
Edvana leva toda essa experiência para construir a Inácia do remake, além de resgatar as histórias que ouviam de sua mãe e tias. "A Inácia é meio turrona, séria, mas eu disse assim: 'De que forma faço Inácia sem ela ficar chata?' Então, tive que emprestar um pouco do meu jeito de ser, meu humor e revisitar lembranças da infância, as minhas tias, a minha mãe. Elas sempre são muito engraçadas, até quando elas estão brigando com a gente."
Tem situações que Inácia passa, que eu nunca passei. Por exemplo, nunca casei com um matador, nunca fui doméstica na casa de ninguém, isso ficou na geração passada da minha mãe e das minhas tias. São situações que eu vou buscar na lembrança do que ouvi delas.
Edvana Carvalho
Quando anunciaram o remake de #Renascer eu torci muito o nariz, mas algumas das adaptações que o Luperi preparou estão perfeitas. A interação do Padre Santo, Pastor Lívio e Inácia do Candomblé está dando um show de fé e tolerancia religiosa, que é super bem vindo ao nosso país. pic.twitter.com/LTi050juyL
? Luiz Felipe Alves (@sirluizfelipe) March 23, 2024
A atriz enxerga a diversidade como "presente divino". "A [produtora de elenco] Marcela Bergamo, os diretores e [o auto] Bruno Luperi, neto do seu Benedito Ruy Barbosa, pensaram muito na diversidade. Pela primeira vez, a gente tem uma família preto-indígena. Isso é muito forte nos quilombos, no interior do país e nas cidades baianas. Muito feliz de fazer a mãe da Mel [Muzzilo, atriz], que é uma menina linda. Espero que ela seja protagonista de muitas novelas."
Edvana não esquece de frisar que tudo isso só é possível graças a atrizes negras que abriram portas lá atrás, como Chica Xavier. Em "Renascer", a atriz usa brinco similar ao usado pela veterana na década de 1990 para homenageá-la. "Foi uma forma que achei de ser grata a ela. Me emociono demais porque são mulheres que vieram antes, 'capinando' para eu poder estar aqui no horário nobre da Globo."
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