Danzo arrisca novo passo no trap com mixtape madura e cheia de experimentos
Tarso Oliveira
Colaboração para Splash, de São Paulo
19/04/2024 12h00
Trapper da zona sul de São Paulo, Danzo lança nesta sexta (19) uma mixtape para comemorar o fim de um capítulo de sucesso na história desse gênero que é uma variante do rap. "A Peça Final" é uma continuação natural do álbum "Cenário Certo para o Teatro Perfeito", de 2023, que tem vídeos no YouTube com mais de 4 milhões de visualizações.
"O 'Cenário' foi uma grande conquista, e 'A Peça Final' eu vejo como a última cena desse teatro, muito mais leve e descontraído depois do grande sucesso do álbum", conta Danzo, em entrevista a Splash.
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A mixtape (termo muito usado no rap que se refere a uma reunião de faixas não tão conceitual como um álbum) contém 14 músicas inéditas e conta com participações como Julia Costa, Kyan e Mc Leozinho ZS. Natural do Jardim Nakamura (zona sul de São Paulo), Danilo Batista de Souza Garcia, 23 anos, se torna Danzo quando começa a participar aos 18 anos das batalhas de rimas paulistanas —berço de muitos nomes da cena rapper.
A ligação com música, principalmente rap e funk, sempre foi forte, desde criança. Mas foi o com o single "Nike Bolha", de novembro de 2019, que Danzo viralizou, chamou atenção e conseguiu entrar para o Labbel Records, o selo trap da Boggie Naipe, produtora de Mano Brown, Elaine Dias e companhia.
"Quando esses caras nasceram, o rap estava no ar, eles têm cultura hip hop no sangue, assim como o samba, por isso são melhorados, aperfeiçoados." Assim Mano Brown descreveu a geração do trap para o Podpah há 2 anos. E completou: "Eles são muito bons no que fazem. Qualquer balançada que o navio dá, sobe uma farpa."
"Desde 2019, a Labbel Records fortalece o meu trabalho ampliando o meu olhar, de como eu artista posso alcançar maiores voos. Jorge (Kaire, diretor) tem um olhar muito diferenciado e isso faz com que a gente potencialize a nossa arte."
A versão original de "Nike Bolha" tem quase 9 milhões de views no YouTube e mostra o poder dos novos flow's, do ambiente pulsante da periferia retratada ali e das letras citando a superação, marcas com muitas marcas de luxo, como no funk —que influenciava o rapper. Desde então, entre singles e álbuns, Danzo vem se tornando um dos grandes nomes do trap nacional, marcando lugar em festivais, como Cena 2k22 e 2k23.
Em um contexto descontraído, ele narra histórias de amor, do cotidiano, de festa e também de reflexão para seu público. O artista cita referências como Neguinha do Kaxeta, Hariel, Djonga e Mano Brown na sua grande paixão por escrever músicas como um filme.
"Hoje me vejo num momento mais maduro do que nos primeiros singles. Sinto que posso transmitir minha arte muito melhor para aquela pessoa que busca na música um sentimento, uma mensagem e uma identificação"
A mixtape mostra o quanto o rapper se arriscou no novo trabalho, variando tons de voz, flow, métrica e ainda de beats de grime com funk e até a música eletrônica, outro ritmo de origem preta e periférica.
"Por estar num momento mais leve e contente com o meu processo criativo, surgiram novos experimentos. E com a nossa vivência dentro da música e na vida pessoal, resolvi trazer tudo isso nesse trabalho porque acredito que várias pessoas que estão na correria, amando, também vão se identificar."
Outra grande referência, conta Danzo, é a sua quebrada. A zona sul de São Paulo é considerada um grande celeiro desde a semente plantada pelos Racionais. "A minha autenticidade artística vem muito das vivências que tive no bairro Jardim Nakamura."
O rapper celebra "A Peça Final" como um símbolo para mostrar a amplitude da sua vivência, que tem reflexão, mas também tem lazer e diversão, acreditando que todas as pessoas merecem isso também. "Sempre que ouvirem, podem ter certeza que vão se deparar com uma história interessante, profunda e complexa. Porque eu vejo o projeto como um avanço da minha carreira".