Biohazard incendeia Summer Breeze com peso e discurso paz e amor
Sabe aquele papo, que a gente ouve muito durante o Rock in Rio, sobre como determinadas bandas são grandes demais para um Palco Sunset e mereceriam um espaço no Palco Mundo? Pois é, o Summer Breeze Brasil também tem destas coisas? No ano passado, foi com os finlandeses do Stratovarius.
Agora em 2024, enquanto ainda rolava a apresentação de Gene Simmons entre os palcos principais do evento, do outro lado começava a se apresentar o quarteto nova-iorquino Biohazard — acompanhado por uma multidão que chegava a obstruir a chegada de quem vinha da passarela.
Tá certo que a pancadaria promovida pelo grupo, agora reunindo sua formação clássica — Evan Seinfeld (baixista e vocalista), Billy Graziadei (guitarrista e vocalista), Bobby Hambel (guitarrista) e Danny Schuler (baterista) — é um misto poderoso e sem concessões de hardcore e thrash metal, o nosso popular crossover, talvez destoando um tanto do tipo de sonoridade ouvida ao longo desta sexta-feira. Mas, ainda assim, eles mereciam de fato um espaço maior. Ainda mais depois de passarem praticamente uma década sem pisar nos nossos palcos.
Abrindo os trabalhos ao som de "Urban Discipline", Seinfeld e sua incansável barriga tanquinho começaram a convocação que durou praticamente a apresentação inteira: "Pulem, pulem, ergam suas mãos para o alto!". Ele queria ver o caos instaurado e, bom, conseguiu fazê-lo bem direitinho.
Embora o palco estivesse decorado com as imagens do garoto com máscara de gás da capa do disco "State of the World Address", lançamento de 1994 que completa exatos 30 anos, o repertório não se focou apenas e tão somente neste álbum, embora a temática tenha sido predominantemente noventista, reunindo clássicos mais old school como "Wrong Side of the Tracks" (lá do começo dos anos 1990) e o hino "Down For Life", dedicado a todos que apoiaram a banda desde o dia um.
A relação de amor do Biohazard com o Brasil ficou absolutamente evidente não apenas nos gritos de comando de Seinfeld, mas também no razoável português de Billy Grazadei. Casado com uma brasileira e pai de filhos nascidos aqui, ele vai muitíssimo além do "obrigado" e "amo vocês". Billy solta coisas como "vocês são do c*ralho", "é nóis!" e "vamos pular, paulistanos". Carregado de sotaque, claro, mas o suficiente para fazer a gente também se sentir em casa na apresentação da trupe.
Mas que uma coisa fique clara: apesar da porradaria sonora, o som violento nunca se sobrepõe à mensagem do grupo, que é de muita fraternidade, união, apoio e amor. Isso mesmo, acredite se quiser.
"Temos muito amor por vocês e pelo Biohazard. Amamos vocês", afirma Billy, de um lado, enquanto Evan reforça, ao final de "Black and White and Red All Over", que tudo que o mundo mais precisa é de paz — com todos os integrantes da banda e até mesmo parte da equipe erguendo os dois dedos de paz e amor para a plateia.
Na introdução de "Love Denied", uma mensagem de esperança: "Esta é uma canção dedicada às novas gerações. Às crianças, que são o nosso futuro". Pesado e fofo ao mesmo tempo.
Além disso, estamos falando igualmente de uma banda bastante engajada. Se, antes de "Shades of Grey", Evan fala contra o racismo ao dizer, nas entrelinhas, que não existem branco ou preto, mas apenas os tons de cinza, ele é muitíssimo mais direto com "Five Blocks To The Subway", dedicada à classe trabalhadora que rala pesado todos os dias para ir trabalhar.
"O Brasil é um país que nos lembra muito o bairro do Brooklyn, de onde viemos", diz Evan. "Pessoas duronas, que encaram muito crime nas ruas e uma série de organizações criminosas". Logo na sequência, eles já encaixam o clássico "How It Is", gravado em parceria com o Cypress Hill, uma faixa ainda mais carregada nos elementos rap que vez por outra podem ser encontrados na sonoridade do Biohazard, e que fala sobre gente que vive uma realidade no limite e precisa "mudar o seu jeito de viver antes que ele mude você".
Para encerrar, nada melhor do que aquela boa e velha provocação com nossos hermanos. Primeiro, ao falar da Argentina e de futebol (não que a nossa seleção possa ser o maior motivo de orgulho nos últimos anos, mas?) e depois ao convocar o que deveria ser o maior circle pit daquela noite. Porque, afinal, segundo Evan, o recorde desta turnê ainda era dos chilenos. É, não mexe com os brios dos brasileiros...
Em "We're Only Gonna Die", versão turbinada que eles dizem ter roubado de vez do Bad Religion, o punk rock come solto com direito até a um sinalizador de cor vermelha que dá um colorido todo especial aos fraternais empurrões que bem conhecemos de shows de metal. E eis que acabamos ganhando a competição.
Ao anunciar que obviamente vão retornar ao Brasil, também deixam claro que, 12 anos depois de "Reborn in Defiance", vão começar a trabalhar em um novo disco assim que esta turnê acabar.
Era o tempero que faltava pra noite terminar numa gigantesca catarse coletiva (e suada) de mais gritos e muito mais pulos.
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