Angra faz escolha inteligente de repertório e se foca no momento atual
Depois de ser referenciado incessantemente tanto na edição anterior, com uma apresentação especial reunindo integrantes do Shaman e do Viper para homenagear Andre Matos, quanto na edição atual, com o show do ex-vocalista Edu Falaschi, finalmente o próprio Angra, em pessoa, teve a chance de subir ao palco do Summer Breeze Brasil. E a escolha de repertório para a apresentação de hoje (26) não poderia ter sido mais apropriada.
Ao invés de apelar para a nostalgia, com aquela óbvia seleção de canções clássicas que funcionaria bem no formato festival, a banda brasileira optou por falar de sua história com foco no hoje. Este foi, de fato, um show da turnê de "Cycles of Pain", seu mais recente disco de estúdio, lançado em 2023. Claro que a trupe capitaneada pelo guitarrista Rafael Bittencourt não deixaria de tocar faixas icônicas (e a abertura com "Nothing to Say" e "Angels Cry" foi absolutamente certeira). Mas se tem álbum novo na praça, então vamos mostrar o seu potencial para o público e ponto final.
O resultado que os singles "Tide of Changes" (com Felipe Andreoli brilhando no baixo) e "Ride Into The Storm" causaram na plateia mostra que a estratégia foi certeira. Tanto elas quanto "Vida Seca" - originalmente com uma parte em português cantada por Lenine e aqui entoada por Rafael, com ajuda massiva do público - mostraram o potencial que estas novas canções ainda têm. Muita lenha pra queimar.
Além disso, eles ainda deram uma chance para o subestimado disco "Secret Garden" (2014), o primeiro depois da saída de Falaschi, ao apresentar a ótima faixa "Newborn Me", o momento em que o virtuoso baterista Bruno Valverde desfila todo o seu talento e alterna entre melodias regionais que são o DNA do Angra e uma pancadaria que faz o chão tremer.
O italiano Fabio Lione, atual vocalista, sofreu um pouquinho com o calor, correndo algumas vezes para os bastidores nos momentos em que os solos comiam soltos, fosse pra se abraçar numa toalha ou para receber um banho d'água do empresário Paulo Baron. Mas tem uma coisa que é preciso reforçar aqui: o baita desafio musical enfrentado por ele.
Enquanto literalmente dá show interpretando as canções de sua fase à frente da banda, já que são compostas pensando em sua própria voz, ele ainda sofria um tanto quando precisava cantar os clássicos de seus dois antecessores.
Se para as canções de Edu Falaschi ele encontrou um caminho que, se não é perfeito, pelo menos soa mais confortável, o mesmo não se podia dizer das faixas tornadas clássicas por André Matos. Elas são, sem dúvida, o grande calcanhar de Aquiles (que não é Priester) para que Lione impregne de vez a sua assinatura às músicas.
O estranhamento dos fãs é visível - mas neste show, Lione parecia mais à vontade até mesmo nestes momentos mais espinhosos. Talvez apenas com o clássico absoluto "Carry On", que exige agudos impossíveis, ele ainda lute um pouco. Valeria repensar a estratégia.
Falando em Edu, a banda optou por referenciá-lo apenas duas vezes, repetindo canções que ele tocou na sexta (26). A versão de "Rebirth" acabou sendo menos acústica e um pouco mais pesada, com mais brilho nas alternâncias vocais de Rafael e Fabio. E "Nova Era", que também foi o encerramento do dia anterior, acabou "grudada" em "Carry On", o que também lhe deu contornos ligeiramente diferentes.
No fim, foi uma boa amarração do Angraverso. Quem sabe o que nos espera em 2025?
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SUMMER BREEZE OPEN AIR BRASIL 2024
Data: sábado, 27 de abril de 2024
Abertura: 10h
Endereço: Memorial da América Latina (Av. Mário de Andrade, 664 - Barra Funda - São Paulo, SP)
Classificação etária: 16 anos
Ingressos
Venda on-line: https://www.clubedoingresso.com/evento/summerbreeze2024
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