Within Temptation entrega diversos Within Temptation no palco do Summer
Assim que os holandeses do Epica saíram do palco e abriram caminho para os conterrâneos do Within Temptation no espaço ao lado, a sensação é de que os maiores orçamentos do festival ficaram mesmo reservados para o final.
Da mesma forma que a banda liderada por Simone Simons, o sexteto comandado por Sharon den Adel abriu com "The Reckoning" já mostrando que tinham à disposição o arsenal de produção completo, trazendo pirotecnia, jogo de luzes, fumaça?
Mas as semelhanças, no entanto, se encerram aí.
Quem ouve o setlist ao vivo do Within Temptation percebe uma banda multifacetada, que vai além da caixinha na qual poderiam ser empacotados como "metal sinfônico". Se a canção inicial vai por este caminho, Sharon - inicialmente trajando uma bandeira do Brasil com o logo do Summer Breeze improvisada por cima do corpete, levando o público ao delírio - logo mostra com "Faster" (e seu refrão que até os metaleiros machões tentavam cantar fino pra acompanhar) que pode fazer hard rock, por exemplo.
Já "Bleed Out", faixa-título do álbum mais recente, é muito mais metal ao vivo do que no disco, inclusive trazendo uma performance virtuosa do guitarrista Ruud Jolie. E tanto "In The Middle of The Night" quanto a já clássica "Mad World", com o ritmo ditado pelo tecladista Martijn Spierenburg, ganham cores mais eletrônicas e ficam até, digamos, bastante dançantes.
Tem espaço até para a doçura da baladinha "All I Need", que Sharon garantiu ser o momento certo para mostrar o que você sente às pessoas que você ama.
Sem a bandeira brasileira e com um corpete dourado que é praticamente uma vestimenta de amazona, a frontwoman mostrou, tanto em "Angels" quanto em "Paradise (What About Us?)", um dueto originalmente gravado com Tarja Turunen (ex-vocal do Nightwish), que canta DEMAIS. Do mais suave ao mais rasgado, ela se permite um leque de opções artísticas tão variado quanto o da própria banda.
Que, aliás, conforme a própria cantora já revelou em entrevista exclusiva ao Splash, também se permite ser mais abertamente política e, de fato, se posicionar. Seja de uma maneira mais sutil, ao apresentar "Entertain You" e dizer que se trata de uma música para quem se sente um "estranho" em uma multidão, ou então ao arrancar aplausos entusiasmados ao dizer que todos podem ter sua fé e sua religião, desde que não a imponham aos outros - assunto da canção "Don't Pray Me".
Mas obviamente que o destaque vai para as discussões trazidas no seu oitavo disco, de 2023, no qual eles abordam diretamente as questões sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia. "A Ucrânia só está lutando pela sua liberdade, e todos têm o direito de ser livres e lutar por sua liberdade", discursou a cantora, antes de apanhar uma bandeira ucraniana e agitar no palco enquanto cantava "Raise Your Banner", cuja letra diz "Então levante sua bandeira, lute sua guerra, quebre o silêncio, sem remorso".
Logo depois, seria a vez de "Wireless", do mesmo trabalho, cuja atmosfera pesada e soturna fala sobre as desilusões causadas pela guerra - e as imagens geradas no telão de fundo, ilustrações claramente produzidas com inteligência artificial, traziam uma estética claramente inspirada na antiga arte russa.
Se o público já estava apaixonado pela cantora, ficou absolutamente ajoelhado diante da deusa quando ela parou o show ao perceber que uma pessoa perto do palco tinha desmaiado. Genuinamente preocupada, ela não descansou até que viu a equipe de bombeiros resgatando a garota. Agradeceu aos fãs que deram espaço para que a ajuda chegasse. E foi aplaudida entusiasticamente quando disse que agora, sim, se sentia à vontade pra continuar.
O encerramento com o clássico "Mother Earth", que combina uma fundamental mensagem ambiental com os muitos maneirismos divertidos que davam a Sharon uma pegada bastante bruxona (em certos pontos, praticamente uma Florence Welch versão metaleira). Então foi isso. Pura feitiçaria. Tudo faz sentido agora.
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