Com seu metal fanfarrão, Anthrax repassa a carreira no Summer Breeze
Se tem uma coisa na qual os norte-americanos do Anthrax se diferenciam de boa parte das bandas clássicas de heavy metal é que, definitivamente, eles não se encaixam no estereótipo de metaleiro com cara de malvadão.
Estamos falando de um grupo claramente se divertindo quando sobe ao palco — brincando com a plateia, fazendo piadas entre eles, sem se levar tão a sério assim. No fim, é mesmo um bando de paizões que resolveram tocar juntos e, por um acaso do destino, têm uma batelada de hits no cardápio musical.
E estes paizões ainda aproveitaram esta turnê para reencontrar um velho amigo. Por problemas pessoais, o atual baixista Frank Bello não veio ao Brasil, fazendo-os convidarem para a missão Dan Lilker, membro fundador da banda e que a nação do metal conhece bem por ter sido o criador do recém-aposentado Nuclear Assault. Ou seja: a festança ainda teve um quê de especial para quem assistiu.
Os tais hits, aliás, foram a tônica de sua apresentação no domingo de encerramento do Summer Breeze Brasil. Uma banda que começa já tocando "Among The Living" e "Caught in A Mosh" obviamente sabe o efeito que vai causar. De canções mais recentes, apenas "In The End", homenagem aos finados amigos Ronnie James Dio e Dimebag Darrell (guitarrista do Pantera), pintou na jogada.
O restante foi apenas velharias que já tinham o coração do público garantido e aquecido.
O vocalista Joey Belladonna parece de fato ligado no 220V, correndo de um lado para o outro sem parar, subindo e descendo as escadas do palco com produção simples e sem grandes excentricidades. Fazendo caretas, provocando a plateia, pedindo para a turma cantar junto, exaltando o sentimento de comunidade do metal e até dizendo para a câmera do telão que, ao invés de filmá-lo, deveria filmar o público, que é mais importante. Uma figuraça.
Mas é impossível negar que tudo ali acontece mesmo por conta de Scott Ian — no palco, inclusive. As canções giram essencialmente em torno de sua guitarra ácida e certeira. Pouco depois de "Madhouse", ele apanhou o microfone e, além de agradecer aos fãs, deixou claro que quem curte thrash metal provavelmente gostaria da canção seguinte.
Viria ali "Metal Thrashing Mad", um bate-cabeça raiz e incontrolável. Mesmo claramente cansado, o público atenderia aos clamores de Ian e Belladonna, fazendo rodas principalmente ao longo de "Antisocial" — aquela canção que até os caras da banda francesa Trust esqueceram que um dia foi sua. O mesmo vale pra "Got The Time" e Joe Jackson, aliás, com um refrão fácil e gostinho de tudo.
Também foi Ian quem chamou o convidado especial da noite, o arroz de festa Andreas Kisser, do Sepultura — que recebeu a exaltação adequada de seu público, gritando o nome da banda brasileira que anunciou recentemente o fim de suas atividades. O músico se juntou a Ian e Jon Donais na execução de mais um clássico, "I Am The Law", canção composta em homenagem ao personagem de quadrinhos Juiz Dredd.
Para o final, eles reservaram "A.I.R." e a empolgante "Indians", que teve até um espaço para uma "bronca" de Scott Ian na audiência: ele interrompeu a faixa e pediu que todos pulasse e não parasse de se mexer. As pessoas reuniram o que ainda restava de suas forças — lembrando que ainda tinha o Mercyful Fate a caminho — e tentaram dar o seu melhor.
Dos grandes hits da carreira, talvez a falta mais sentida tenha sido de "Only", uma power ballad gravada pelo outro vocalista, John Bush, antes do retorno de Belladonna ao time. Em certo momento, o vocal até chegou a cantar a faixa, para atender aos pedidos do público, mas aos poucos foi abandonando a prática. Bem que cabia dentro deste formato greatest hits.
Mas tudo bem. Nada que tenha estragado a festa. E que venha em breve o próximo disco de estúdio dos paizões. Porque uma novidade de vez em quando faz bem.
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