Madonna, uma onda feminista: 5 clássicos da popstar que exaltam as mulheres
"Virgem" não era uma palavra ouvida no rádio em 1984, o aborto tinha acabado de ser legalizado nos Estados Unidos e ainda provocava acalorados debates e o mundo estava entrando na terceira onda do feminismo quando Madonna desafiou conservadores e machistas ao cantar "Tocada pela primeira vez" (Like a Virgin), "Eu vou ficar com o meu bebê" (Papa Don?t Preach) e "Não aceite o segundo lugar" (Express Yourself).
Na sua décima segunda turnê e celebrando 40 anos de carreira, a cantora americana levará para o Rio de Janeiro no próximo dia 4 de maio um repertório com fortes mensagens feministas, marca registrada desde o seu início e que serviu de referência para gerações seguintes.
Estuprada na juventude e muitas vezes massacrada pela opinião pública por seus posicionamentos, Madonna contou parte da violência que sofreu na vida num poderoso discurso durante o prêmio de "Mulher do Ano" da revista americana Billboard, em Nova York.
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Em um trecho, ela disse:
Não há regras se você é um garoto. Há regras se você é uma garota. Se você é uma garota, você tem que jogar o jogo. Você tem permissão para ser bonita, fofa e sexy. Mas não pareça muito esperta. Não aja como você tivesse uma opinião que vá contra o status quo. Você pode ser objetificada pelos homens e pode se vestir como uma prostituta, mas não assuma e se orgulhe da vadia em você. Madonna
E finalizou:
"O que eu gostaria de dizer para todas as mulheres que estão aqui hoje é: Mulheres têm sido oprimidas por tanto tempo que elas acreditam no que os homens falam sobre elas. Elas acreditam que elas precisam apoiar um homem. E há alguns homens bons e dignos de serem apoiados, mas não por serem homens, mas porque eles valem a pena. Como mulheres, nós temos que começar a apreciar nosso próprio mérito."
Conheça os primeiros sucessos feministas de Madonna
"Like a Virgin", álbum Like a Virgin, 1984
No clipe de "Like a Virgin", sobre a primeira experiência sexual de uma jovem, Madonna apresentou a dualidade sexual/ virginal, menina boa/menina má pela primeira vez. Isso a colocou na mira da direita religiosa, que havia acabado de garantir ao presidente Ronald Reagan um segundo mandato. Também a tornou alvo de feministas, envolvidas em um debate furioso sobre quanto a sexualidade de uma mulher deveria ser expressa em público, ou até se isso deveria acontecer.
Durante a primeira premiação da MTV, a artista apresentou a canção enquanto saía de um bolo, vestida de noiva com bustiê e tule e um cinto que a identificava como "Boy Toy", e foi se desfazendo do traje nupcial. Rolou pelo palco, expondo saia, calcinha e liga, provocando um escândalo em quem assistia.
No ano anterior, a revista Time havia declarado o fim da revolução sexual. Madonna mostrou que, para mulheres da mesma geração que ela, a revolução nem havia começado.
"Papa Don?t Preach", do álbum True Blue, 1986
A música de Madonna levou a mulher de volta ao centro da questão ao falar do que ela queria. Na época, a artista declarou que a letra era para "afrontar as autoridades masculinas, seja o papa, a Igreja Católica, seja meu pai com o jeito dele conservador e patriarcal".
Escrevendo para o Boston Phoenix, a crítica cultural Joyce Millman disse: "Papa Don?t Preach" são os melhores três minutos de Madonna, não só porque fala da gravidez na adolescência, mas também por sugerir que uma parte da culpa está na relutância dos pais em conversar sobre sexo sem dar broncas. A música abre as portas para uma discussão há muito tempo necessária. A adolescência das mulheres nunca mais será a mesma.
"Express Yourself", do álbum Like a Prayer, 1989
A música indica que as pessoas sempre devem dizer o que querem. "Express Yourself" transformou o íntimo em político ao tomar o poder e dá-lo às mulheres e ao desafiar qualquer um a tentar retirá-lo. O coautor da música, Stephen Bray, declarou na época: "Não inventamos o feminismo, mas esse foi um chamado à ação [...]. Tenho muito orgulho de ser coautor de uma música que fala sobre expressar a própria verdade e exigir ser tratada como igual e como parceira".
No clipe, uma audácia: Madonna agarrou a própria virilha na cena que marca a derrocada de um dono de indústria. Ela fez um gesto similar durante a turnê "Who?s That Girl". Com um sorriso vitorioso, Madonna reivindicou a propriedade para si, para as mulheres, os despossuídos e vítimas de abuso, retomando o poder que tinha sido misticamente atribuído ao órgão masculino para justificar eras de dominação cultural, social, política e religiosa.
"Till Death Do Us Part", do álbum Like a Prayer, 1989
Na época casada com o ator Sean Penn, Madonna lançou a canção que falava de "um relacionamento destrutivo que é poderoso e doloroso. Na época, Madonna disse que a música é um ciclo do qual você só consegue sair se morrer [...]. Aí é onde a verdade termina porque eu jamais gostaria de continuar em um relacionamento terrível até o dia da minha morte".
"Justify My Love", The Immaculate Collection, 1990
Em mais um clipe que causou alvoroço, Madonna tem "comportamentos desviantes" como beijar uma mulher na frente de um homem, além de colocar ter vários momentos com gays, lésbicas, pessoas andróginas e trans.
Nele, a sexualidade não era excludente, e sim inclusiva. "Acho que todo mundo tem uma natureza bissexual. Essa é minha teoria. Mas posso estar errada", ela declarou.
Foi a primeira incursão vocal de Madonna na sexualidade de uma mulher madura. É uma mulher falando com a pessoa que ama de modo tão íntimo que o ouvinte se sente bisbilhotando. A nova Madonna pós-"Blond Ambition" mergulhava fundo em território polêmico.
*Informações da biografia "Madonna, uma vida rebelde".