Diplo, que vai abrir show de Madonna, foi acusado de plágio e abuso sexual
De Splash, em São Paulo
01/05/2024 04h00
O DJ e produtor Diplo vai abrir o show de Madonna em Copacabana no próximo sábado (4).
Conhecido no Brasil pela relação com o funk, ele acumula polêmicas
Ele promete tocar um set de músicas brasileiras em Copacabana. Desde o início de sua carreira, Diplo usa referências de funk e outros ritmos brasileiros em seu trabalho — mas nem sempre segue o devido processo legal.
Em 2004, Diplo produziu uma mixtape da rapper M.I.A com muitos elementos de funk. O disco "Piracy Funds Terrorism" só foi distribuído mão a mão em shows, porque os dois não tinham permissão dos artistas que tiveram trechos de suas músicas reproduzidos. A lista inclui nomes que já eram consagrados nos Estados Unidos, como Jay-Z e Ciara, mas também brasileiros menos poderosos como Os Saradinhos, As Divinas, Sandy & as Travessas e Deize Tigrona. Abaixo, ouça "Baile Funk One", que usa os vocais de "Aviãozinho", do grupo Sandy & As Travessas:
Na época, Diplo foi aclamado por apresentar o funk ao público dos Estados Unidos. Em entrevista ao jornal The Boston Phoenix em 2005, ele falou que conheceu o gênero musical em uma viagem ao Brasil no ano anterior: "Arrumamos um fotógrafo brasileiro que nos deu acesso total às favelas. Gringos não vão lá, é uma p*rra de uma terra de ninguém. Fomos aos bailes, fomos às baladas e tudo fez sentido".
Onde fui, eu vi as coisas mais ridículas. Adolescentes de 16, 15 anos usando cocaína, umas carreiras de um centímetro de altura, com armas nos bolsos. Eu não vi muita violência, mas vi muita sexualidade. A música é quente, cara. As caixas de som têm seis metros de altura, o volume tão alto que eu nem sei como meus ouvidos ainda funcionam. Diplo
Deize Tigrona diz que não recebeu nada pelo sample de "Injeção" em "Bucky Done Gun". A música estava presente na mixtape "Piracy Funds Terrorism" e foi oficialmente lançada no álbum "Arular". Para o álbum, M.I.A e Diplo até foram atrás do produtor da gravação, DJ Marlboro, mas a cantora nunca viu o dinheiro:
Eu quase nem soube do uso do sample da minha música, imagina se eu ganhei dinheiro. O cara que passou esse sample pra [M.I.A] disse que eu não tinha direito, porque ela não usou a letra. Mas daí eu te pergunto: por que existia o sample então? Eu não recebi nada! Deize Tigrona em entrevista ao Observatório dos Famosos em 2020
Se engana quem acha que as polêmicas ficaram no passado. No ano passado, o DJ Mu540 participou do PodPah e disse acreditar que Diplo roubou um pendrive seu num evento onde os dois estavam, porque depois o DJ gringo tocou músicas suas no festival EDC Las Vegas sem dar os devidos créditos: "Fui saber que ele tocou pelo vlog do Dillon Francis, que é outro DJ muito f*da e me creditou".
Diplo já foi acusado de abuso sexual duas vezes
Em 2020, uma mulher de 25 anos abriu uma denúncia contra ele na polícia. Ela diz que trocava mensagens com Diplo desde que tinha 17 anos e ele, 36. Ela o acusa de estupro e de filmar relações sexuais sem seu consentimento. Após abrir a primeira denúncia, ela também o acusou de divulgar as filmagens como forma de retaliação. A defesa de Diplo, por sua vez, a acusa de difamação.
Outra mulher também o acusa de fazer gravações sem consentimento. A segunda vítima diz que, em 2019, estava numa festa com Diplo e outros amigos quando ele a convidou para seu quarto e, ao mesmo tempo, seguranças expulsaram o restante das pessoas. Ela afirma que um de seus amigos se recusou a sair e recebeu um soco no rosto. Então, Diplo disse que ela só poderia sair após fazer sexo oral nele — e, em seguida, filmou o ato sexual. A defesa de Diplo nega e afirma que essa denunciante é amiga da primeira.
Ele também foi acusado de abafar estrategicamente as denúncias. No ano passado, uma declaração de Diplo causou polêmica: ele disse já ter recebido sexo oral de homens, e argumentou que isso não o torna gay. Um usuário do Reddit apontou que, além da história curiosa, pode haver um motivo para Diplo ter usado o termo "sexo oral" e não outros eufemismos mais comuns no inglês: agora, quando se procura "Diplo" e "sexo oral" no Google, todos os resultados são referentes à declaração polêmica, e não mais à acusação de que ele coagiu uma mulher ao ato sexual.
Após essas denúncias se tornarem públicas, a cantora Azealia Banks contou seu relato. "Eu costumava transar com Diplo quando eu tinha 17 anos (Diplo já tinha uns 30). Ele com certeza me encontrou na p*rra do Myspace. Eu sempre lhe dou os créditos por lançar minha carreira, mas em troca precisei lhe oferecer vagina adolescente. Ele sempre foi um predador de meninas jovens não-brancas", contou a rapper em seu podcast em outubro de 2020.
A própria M.I.A disse ter vivido um relacionamento abusivo com Diplo. Os dois namoraram entre 2003 e 2008. Em um post feito no Instagram em 2017, ela acusou Diplo de manipulação, de tê-la traído enquanto estava no Brasil, de usar uma foto sua como alvo para dardos e de assumir os créditos por sua carreira: "É importante que vocês não me vejam como uma coisinha que o Diplo descobriu porque sou uma mulher racializada, e essa é a primeira história de uma artista com descendência cingalesa que estourou musicalmente. Isso não aconteceu porque eu acidentalmente cruzei o caminho do Diplo. Diplo, por sua vez, respondeu no Twitter: "Não sei de onde vem o seu ressentimento, mas agradeço por você ter acreditado em mim. Eu não teria levado a música a sério se não fosse você".