Debutante em 2024, BaianaSystem é 'passado que o futuro ainda não alcançou'
Bruna Gavioli
Colaboração para Splash, em São Paulo
03/05/2024 04h00Atualizada em 04/05/2024 16h36
Ao longo de 15 anos, o BaianaSystem vive como um navio pirata, conquistando mares de gente por onde passa com uma artilharia pesada formada por um vasto repertório musical que criou raízes fortes na música brasileira, chamando atenção para questões sociais importantes e celebrando a rica cultura soteropolitana.
Quem presencia a atuação dos tripulantes: Russo Passapusso (voz), Claudia Manzo (voz), Roberto Barreto (guitarra baiana), SekoBass (baixo), João Meirelles (beats, synths e programações), Junix 11 (guitarra), maestro Ubiratan Marques (piano e synths), Ícaro Sá (percussão) e Filipe Cartaxo (concepção visual e imagens do show) não passa ileso à catarse provocada pelo BaianaSystem.
Relacionadas
Em entrevista para Splash, Roberto Barreto, fundador e guitarrista do grupo, revelou que em 2024 são inúmeros os motivos para celebrar: 15 anos do Baiana, 10 do Navio Pirata, participação na abertura histórica do Carnaval de Salvador, novo single e um novo álbum, que será lançado no segundo semestre.
A gente também ficou um pouco surpreso quando percebemos que esse ano completamos 15 anos do Baiana e 10 anos do Navio Pirata. Foi um crescente que a gente não imaginava o alcance que isso passou a ter. Carnaval é muito importante para nós e para todo o nosso ano, que se divide entre o Carnaval e shows, festivais. Beto
O BaianaSystem conta com a colaboração de diversos músicos, produtores e artistas, como o DJ e produtor João Meirelles e o guitarrista Junix, o maestro Ubirantan Marques e o percussionista Ícaro Sá.
Colaborar com artistas e produtores dos mais variados tem sido também uma marca do BaianaSystem, que ao longo desses 15 anos de carreira já teve trabalhos com Gilberto Gil, B Negão, Pitty, Margareth Menezes, Tropikillazz, Vanessa da Mata, Pavilhão 9, Antônio Carlos e Jocafi, Lazzo, Mateus Aleluia, Ilê Aye, Luiz Caldas e muitos outros.
BNegão nem é considerado mais participação, ele está em todas e já é da família. A gente continua sendo muito experimental na forma de compor, na forma de ter as pessoas junto com a gente compondo. E o amadurecimento dessa relação com o público, é feita de uma maneira muito intuitiva e percebemos que isso é fundamental para entendermos o nosso caminho. Sempre respeitamos a lei natural dos encontros. Dificilmente fazemos algo muito programado.
Segundo Beto, o Baiana é "um passado que o futuro ainda não alcançou", e tudo está ligado "à reverência e ancestralidade, o entendimento das raízes e a relação disso com a capacidade de experimentar".
Com cinco álbuns lançados, turnês internacionais pela Europa, EUA, Japão e China, o grupo também já marcou presença nos mais importantes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza, João Rock, New Orleans jazz festival, Fuji Rock, Roskilde Festival entre outros.
Além disso, já receberam inúmeros prêmios de melhor show do Brasil, "Grupo do ano" por votações dos mais importantes jornais e publicações especializadas, e teve suas músicas usadas por trilhas de filmes, aberturas de novela além de comerciais da Apple, Google, Riot e trilhas de videogames, séries e filmes.
Navio Pirata
Quando a guitarra de Robertinho Barreto e os vocais de Russo Passapusso encontram a avenida, o resultado é sempre um mar de foliões cercando o Navio Pirata fazendo jus ao título de 'pipoca' e essa celebração completa 10 anos em 2024.
Em fevereiro, o Baiana foi responsável por uma cena de arrepiar durante o encontro de trios na Praça Castro Alves, durante a abertura oficial do Carnaval de Salvador.
É o resgate do Carnaval. O caminhão estava ali para quem estivesse na rua se aproximasse e pudesse brincar e é o que, tradicionalmente, acontecia na Praça Castro Alves. O encontro de trios teve uma força e energia muito grande. A gente sentiu isso porque a Praça Castro Alves é realmente um lugar muito especial. Foi uma honra poder estar nessa abertura
O público foi à loucura com a música "Lucro" e outros sucessos da banda. O vocalista Russo Passapusso foi até o trio do Ilê Aiyê para cantar com o bloco que completou 50 carnavais em 2024. "Para o Brasil inteiro ouvir: 'eu quero gritar paz'. Comemore pelo seu direito de festejar, em frente ao mar onde chegamos escravizados e hoje estamos celebrando ao som do tambor, com o Ilê. É resistência", celebrou Passapusso.
Idealizado pelo BaianaSystem, Navio Pirata é uma experiência bastante diferente em cada cidade que passa.
É incrível o que acontece com o Navio Pirata em São Paulo. É o único lugar fora de Salvador, que conseguimos fazer a experiência do Navio como imaginamos que tinha que ser. Nos últimos anos, nós desfilados no sábado de pós-Carnaval e é impressionante, é uma outra forma de estar na rua. Conseguimos abrir um leque de público e já faz parte do nosso calendário. Muitas vezes, apenas um público específico nos conhece ou as pessoas acabam nos conhecendo em festivais que tem apresentações mais limitadas. O Navio por onde passa, permite que as pessoas nos conheçam melhor.
Batukerê
Em fevereiro, o Baiana lançou o single "Batukerê", que anuncia o quinto álbum de estúdio da banda soteropolitana, previsto para o outubro e foi trilha da abertura do Carnaval 2024 de Salvador.
É a música que antecede o novo álbum. É o canto ancestral que torna presente a força e a esperança em tempos de guerra. Batukerê convida pessoas de toda fé a celebrar a vida através desse batuque. Beto
Ao longo desses cinco anos, a música Batukerê foi feita por Russo Passapusso com os parceiros Antônio Carlos & Jocafi - convidados em abril de 2022 a trabalhar no processo de criação da composição e a pôr vozes na gravação - antes da concepção dos arranjos de sopros e cordas pelo maestro Ubiratan Marques em Cachoeira (BA), no Recôncavo Baiano, em outubro de 2023.
Dois meses depois, em dezembro de 2023, Batukerê ganhou a voz do cantor, músico e ativista português Dino D'Santiago, confeitando a gravação feita com produção musical orquestrada por Daniel Ganjaman com o maestro Ubiratan Marques e Seko Bass. A composição também é assinada pelo músico angolano Kalaf Epalanga.