Madonna sem banda e com playback não é novidade e dá spoiler do show no Rio
Thales de Menezes
Colaboração para Splash
04/05/2024 04h00
Madonna irá cantar de verdade em seu show no Brasil? Ou vai dublar as canções? A discussão surgiu forte nas redes nesta sexta-feira, um dia depois da diva ter subido ao palco montado na Praia de Copacabana para passagem de som preparatória para a apresentação deste sábado (4). A cantora estava de máscara (na verdade, uma balaclava), e assim não foi possível ver seu rosto. E ninguém viu também seus músicos. Simplesmente porque eles não estavam lá.
A informação de que Madonna irá cantar por cima de playback das canções surpreendeu muita gente, mas não é uma novidade. Quem está mais ligado nessa turnê que celebra os 40 anos de carreira da cantora e terá seu encerramento no Rio de Janeiro provavelmente já estava ligado: pela primeira vez, ela foi para a estrada sem uma banda de apoio. Se os músicos aparecerem de última hora no Rio, aí sim teremos uma grande surpresa.
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O que isso tem de ruim? Antes de mais nada, perder a chance de ver grandes instrumentistas que normalmente acompanham no palco as grandes estrelas pop. E a ausência deles já antecipa que será um show sem nenhum improviso. Madonna vai cantar seguindo rigorosamente o setlist preparado nos aparatos eletrônicos.
Stuart Price, britânico que já integrou a banda da cantora em outras turnês e foi um dos produtores de seu álbum "Confessions on a Dance Floor", de 2005, agora ocupa o cargo de diretor musical da "The Celebration Tour". Ele deu a explicação mais sem noção possível para a ausência dos músicos. Segundo ele, "a ideia é deixar as gravações clássicas originais de Madonna brilharem". O sujeito criou a definição mais gloriosa já utilizada para definir um karaokê.
O som das mais de 30 canções que devem compor o setlist no Rio será de áudios pré-gravados e muitos foram bem modificados para soarem mais potentes ao vivo. Ou seja, estão um pouco distantes da integridade das gravações clássicas as quais o produtor fez referência.
Se a música muda, o que dizer da voz? É óbvio que, diante de um milhão e meio de espectadores e precisando seguir coreografias às vezes nada simples percorrendo um palco gigante, Madonna certamente deve recorrer à tecnologia para exibir o melhor vocal.
Certamente ela não irá dublar descaradamente e assim transformar o show numa imensa batalha de lip sync, como Britney Spears fez em 2011 na Arena Anhembi, em São Paulo. Mas é bom nem colocar Britney nas comparações. Essa bateu todos os recordes da cara de pau ao fazer uma turnê em Las Vegas com uma banda de oito músicos fingindo que estavam tocando.
Madonna deve usar os programas que dão uma turbinada na voz de modo quase instantâneo, num delay mínimo entre o momento em que o ar sai de sua garganta e o som é disparado nas caixas acústicas dirigidas à plateia. Não é um recurso novo, mas a tecnologia utilizada está se desenvolvendo a cada dia, principalmente na atual avalanche de Inteligência Artificial invadindo a arte e o entretenimento.
Sempre tendo acesso ao que há de mais moderno no mercado, Madonna pode usar um programa semelhante ao que a estrela jovem Olivia Rodrigo adotou em sua turnê atual. Segundo técnicos, a operação é tão poderosa que basta a ela cantar um verso, no volume que quiser, até mesmo apenas sussurrando, que a IA reproduz em menos de um segundo o verso com o registro vocal mais forte que Olivia já conseguiu. Ou até mais forte ainda, cortesia da tecnologia.
Não se trata de criticar Madonna se isso acontecer. E deve mesmo acontecer. É apenas razoável que o público tenha noção do que está ouvindo. É um show, um momento de criação de fantasias. E, por falar em fantasias, é notório que o Kiss sempre usou e abusou desses recursos. Afinal, cantar e tocar debaixo de maquiagem pesada, quilos e quilos de figurinos bizarros e em cima de botas com saltos de 30 centímetros não deve ser mesmo fácil.
Também não é justo acreditar que apenas músicos menos talentosos recorram a essa tecnologia. É possível pegar como exemplos nomes geniais no Brasil e no exterior que são ídolos queridos e usufruíram dessas vantagens. Rita Lee cantou muitas vezes suas músicas incríveis acompanhada de uma base gravada de sua própria voz, para reforçar a performance.
Já Charlie Watts, o carismático baterista dos Rolling Stones e uma das figuras mais amadas da cena roqueira, evidentemente não segurou a onda na turnê que os Stones fizeram no Brasil em 2016. Ficou claro que o som percussivo da banda nas apresentações não vinha apenas de suas baquetas.
Sendo assim, a ideia é mesmo encarar a apresentação de Madonna em Copacabana como uma celebração, seguindo o próprio título da turnê. Afinal, ela é a cantora pop mais importante do planeta nos últimos 40 anos e merece cada momento de agradecimento de sua imensa plateia.