O campeão voltou: como 'Demon Slayer' foi de mediano a fenômeno
Fábio Garcia
Colaboração para Splash, em São Paulo
08/05/2024 04h00
Há cinco anos estreava na televisão japonesa o anime "Demon Slayer" (ou "Kimetsu no Yaiba", seu título original), produzido pelo estúdio ufotable e baseado em um mangá de vendas medianas, autoria de Koyoharu Gotouge. Meia década depois, não é exagero classificar este como um dos maiores fenômenos da história da animação japonesa, capaz de arrebatar fãs no mundo inteiro mesmo após uma publicação cheia de altos e baixos.
Nesse clima de expectativa para a 4ª temporada, Splash explica como nasceu esse fenômeno.
Um início modesto
Tanjiro Kamado é filho de uma família simples, mas sua vida muda radicalmente após ir à cidade vender carvão. Ao retornar, Tanjiro descobre que seus familiares foram dizimados por um oni, criatura japonesa cujo ponto fraco é a luz solar. Quer dizer, não todos: sua irmã Nezuko foi "infectada" e agora também se tornou uma oni, embora ainda tenha um fio de lembrança de quando era humana.
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O protagonista aceita o chamado do herói, passa a carregar sua irmã nas costas em uma urna e sai em busca de uma cura para essa condição. No caminho, Tanjiro faz amizade com o covarde Zenitsu e o impetuoso Inosuke, além de descobrir que existe um plano de uma organização para derrubar o maléfico Muzan Kibutsuji, responsável pelo ataque à família de Tanjiro.
"Demon Slayer" começou a ser publicado em fevereiro de 2016 nas páginas da revista "Shonen Jump". A publicação era uma espécie de almanaque semanal com capítulos de várias séries, entre elas "One Piece" e "My Hero Academia". O que mantém serialização de um mangá é a opinião do público, pois a revista conta com um sistema de votação para os leitores indicarem seus mangás favoritos. Os menos votados acabam sendo cancelados e dando espaço para novas histórias.
Quando Gotouge publicou seu mangá, a "Shonen Jump" tinha outras séries como favoritas. "One Piece" continuava sendo o carro-chefe, acompanhado dos êxitos de "Assassination Classroom", "My Hero Academia", "Haikyu" e "Black Clover". Curiosamente, o mangá "Bleach", hoje um sucesso com o anime do arco final, estava em baixa e via o cancelamento se aproximando, assim como seu colega de publicação "Toriko".
"Demon Slayer" nunca ameaçou o reinado de "One Piece", porém, não ficava entre as mais baixas posições do almanaque. Era o famoso "mangá mediano", aquele com uma base de fãs sólida, mas não grande o bastante para levá-lo às cabeças.
A caminho do fenômeno
O anime foi anunciado em 2018 na própria "Shonen Jump", e a surpresa foi o fato de ser produção do ufotable. O estúdio fundado em 2000 goza de muita estima por parte dos fãs por produzir animações brilhantes como "Fate/Zero" e "God Eater". Havia uma promessa de que "Demon Slayer" seria uma produção acima da média, mas ninguém imaginava o que viria com a estreia no ano seguinte.
A direção de Haruo Sotozaki mudou um pouco o clima do mangá original para se aproximar da ideia que tinham para o anime de "Demon Slayer". Se nas páginas da "Shonen Jump" a série tem uma narrativa quase infantilizada, ainda que com muita violência, o anime abraçou o lado mais denso da história e se empenhou nas cenas de combate.
As sequências lindamente animadas são de encher os olhos, ofuscando até mesmo eventuais problemas de narrativa. Os personagens ganharam vida também graças a atores de voz talentosos, inclusive na dublagem em português, e a variedade do elenco secundário faz com que mesmo fãs com preguiça de clichês de protagonistas consiga encontrar um personagem para admirar.
Mas o auge de "Demon Slayer" aconteceu no episódio 19. Uma cena de combate com o protagonista Tanjiro despertando um novo poder gerou uma avalanche de engajamento. Após o boca a boca, GIFs animados e também cortes de alguns segundos em plataformas de vídeo, quem estava alheio a "Demon Slayer" correu atrás do prejuízo, maratonou o que havia sido lançado e gamou nesse anime no qual todos estavam conversando.
Recordes e mais recordes
"Demon Slayer" apresentou sucessivos recordes e a versão em mangá explodiu em vendas. É atualmente o nono quadrinho japonês mais vendido de todos os tempos, além de ter desbancado "One Piece" no ano de sua primeira temporada. A saga de Tanjiro e Nezuko esgotou a "Shonen Jump" que trazia o último capítulo da obra, um feito nunca atingido antes, nem mesmo no final de "Dragon Ball".
Nos animes, a continuação lançada nos cinemas "Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba - Mugen Train: O Filme" se tornou o filme de maior bilheteria da história do Japão, mesmo sendo lançado em 2020, em meio ao auge da covid-19. As outras duas temporadas da animação, lançadas em 2021 e 2023, também mantiveram o sucesso, repercussão e a qualidade de animação.
No Brasil os números também impressionam. "Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba - To The Hashira Training", um especial para cinemas com uma prévia da 4ª temporada, é o nono filme de animação japonesa com maior público nos cinemas brasileiros, acima de "Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses", segundo levantamento de Yuri Petnys em uma planilha pública.
Isso se reflete também na moda e é possível encontrar jovens brasileiros com acessórios e vestuários de "Demon Slayer", mesmo fora dos eventos de anime. A série furou bolhas, saiu do nicho e atualmente pode ser tão conhecida quanto um "Naruto". "Demon Slayer" atingiu uma marca de fenômeno que poucas vezes vimos no país, e provavelmente vai perdurar até o término do anime em alguns anos. Considerando o dinheiro arrecadado, pelo visto a derrota de Muzan vai ficar para depois.
Onde assistir?
A 4ª temporada de "Demon Slayer" será lançada em 12 de maio na Crunchyroll, com legendas em português. A dublagem deve ser lançada após algum tempo. As temporadas anteriores do anime podem ser vistas na Crunchyroll e na Netflix, com legenda e dublagem. A versão em quadrinhos foi lançada no Brasil pela editora Panini.