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Freud e desejo do outro: 'Bebê Rena' retrata o hoje das redes sociais

Colaboração para Splash, em São Paulo

09/05/2024 12h00

Ser perseguido por um stalker pode ser mais complexo do que parece. "Bebê Rena", série da Netflix que tem feito sucesso, prova essa teoria ao expor as diversas camadas - da insegurança ao narcisismo - que uma perseguição pode ter.

Na trama, o comediante amador Donny começa a ser seguido obsessivamente por uma mulher e passa a enfrentar dilemas. Segundo Thiago Stivaletti, que analisa a série no Plano Geral desta quarta (8), a narrativa expõe desde o início duas questões comuns ao ser humano perante a situação: a curiosidade sobre quem é aquele que o persegue e sobre "o que é que viram em mim".

"É aí que Freud entra sambando", diz Stivaletti. "'O que essa pessoa viu em mim' é uma pergunta que a gente se faz em todo relacionamento amoroso. E então entra a tragédia do ser humano, porque a gente não sabe o que os outros veem da gente e não tem nem uma segurança do que achamos de nós mesmos".

Com inseguranças profissionais e emocionais, o protagonista da série acaba por ficar curioso em relação à "stalker" e, sem querer, cria um laço que o prende a ela. "Ele cai na armadilha do 'canto do cisne', de uma outra pessoa que é extremamente manipuladora e sabe pegar ele nessa insegurança; elogiar no ponto em que ele precisa", explica Stivaletti.

Segundo o comentarista, é por isso que Donny evita ir à polícia no início da perseguição. "Essa é a grande inverossimilhança da série: demora quatro episódios para ele ir à polícia", avalia. "E ele explica porque: 'Essa mulher me intriga, me atrai. O que ela vê de tão fantástico em mim que nem eu mesmo vejo?'".

Pata Stivaletti, tanto o protagonista quanto a "stalker" vivem dentro do seu próprio narcisismo. "Ele não consegue enxergar a periculosidade dessa mulher; aonde isso tudo pode levar, e ela obviamente não enxerga esse cara; está desesperadamente atrás de um objeto para o amor dela".

Pessoas inseguranças como Donny se tornam iscas muito fáceis de pessoas que vêm com esse elogio fácil querendo alguma coisa - e isso não é uma experiência distante, é algo que vivemos no dia a dia [...] É sempre importante ficar com um pé atrás, porque há gente que se torna 'profissional do elogio' Thiago Stivaletti

Ao tratar de uma relação com nuances do que casais comuns vivem, diz Stivaletti, a série nos faz questionar se enxergamos quem está em nossos relacionamentos ou se criamos nossa realidade sobre nossos companheiros. "Freud é um buraco sem fundo, e se você não sabe nem quem você é, imagina os outros", afirma.

Confira a íntegra do Plano Geral

Apresentado por Flavia Guerra e Vitor Búrigo, Plano Geral é exibido às quartas-feiras, às 11h, no canal de Splash no YouTube e na home do UOL, com as principais notícias sobre cinema e streaming. Você pode ainda ouvi-lo no Spotify, Apple Podcasts e Google Podcasts.

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