César Mello vive santo no teatro: 'Homem negro resume espírito de guerra'
César Mello, 47, interpretará São Francisco de Assis na peça de teatro "Entre Franciscos, o Santo e o Papa". Após uma temporada no Rio de Janeiro, a peça escrita por Gabriel Chalita e dirigida por Fernando Philbert, que conta com o ator e Paulo Gorgulho no papel de Papa Francisco, chega a São Paulo promovendo um diálogo de divindades sobre tragédias atemporais da humanidade.
Com longa experiência na TV, streaming e teatro, César Mello se diz realizado em poder subir ao palco do Teatro Sergio Cardoso, a partir desta sexta-feira (10), para atuar como santo e vê semelhanças do papel com a história de luta dos negros.
Ficou claro para a gente que São Francisco era desafiador no seu tempo. Gostava de cutucar, falar sobre aquilo que a Igreja já tinha desvalorizado, tinha deixado cair em desuso, que era muito importante para a Igreja e que ele pregava. Acho que a imagem de um homem negro resume muito bem esse espírito de guerra, esse espírito incansável do Francisco.
César Mello
"Nem tudo está perdido"
A peça teatral mostra um papo filosófico entre São Francisco de Assis, que é do século 12 e 13, com o Papa Francisco - atual pontífice da Igreja Católica. "A gente quer uma dialética sobre a humanidade, sobre a vida, sobre os seres humanos, mas a gente não quer descarregar regra para ninguém, porque não é essa a ideia", explica César.
"Quem vem assistir o espetáculo, verá sobre a dialética da sociedade, sobre um novo olhar ou sobre a lembrança do olhar do Francisco, que é um olhar sobre a natureza, sobre o descanso mesmo", completa ele.
O cenário do espetáculo é numa lavandeiria para pessoas em situação de rua. César, no papel de São Francisco, debate com Paulo Gorgulho, o Papa, sobre como o mundo poderia estar melhor. "Francisco, esse morador de rua, chega na lavanderia e canta canções em Yorubá. Se você pegar os Yorubás, eles estavam no Egito há 15 mil anos antes de Cristo. Então, é esse lugar que a gente trouxe para o personagem, para poder dar terra, dar chão para ele, dar ancestralidade para ele".
Acho que emprestei muito para esse personagem a minha alegria. Sou muito solar, sou para fora, gosto de fora, gosto de mar, de praia.
César Mello
A parceria de trabalho com Paulo Gorgulho, nas palavras de César, é um diferencial, um encontro de almas. "Parceria nasceu fácil e realmente é um prazer estar com o Paulo no palco, porque é um ator muito aberto, muito disponível no palco. É muito bacana."
A peça "Entre Franciscos, o Santo e o Papa" fica em cartaz de 10 de maio a 30 de junho, no Teatro Sergio Cardoso (Sala Paschoal Carlos Magno), em São Paulo, e traz a mensagem que "o mundo não está perdido".
Ainda tem esperança. As pessoas têm saído muito esperançosas do teatro, muito felizes, muito emocionadas. As pessoas choram muito porque a peça é a lembrança de um estado que a sociedade tem esquecido. Esse amor, essa calma, essa paciência, esse admirar, esse contemplar. Nem tudo está perdido ainda. A esperança é só a gente se conectar com a natureza. César Mello
Outros temas da entrevista com César Mello:
Trabalho como advogado William, em Sintonia (Netflix): "É um advogado extremamente potente, briguento e forte. O personagem é muito legal porque é um advogado que transita entre o morro e os grandes escritórios de São Paulo. É um personagem do gueto, que saiu do gueto e que volta para o gueto para resgatar lá quem está lá perdido. É assim que ele encontra a Rita (Bruna Mascarenhas).
"Na quinta temporada, ele ainda é o tutor da Rita, mas agora ele se encontra meio que um olhando para o outro de modo mais vertical... Ela já se formou e está trabalhando como advogada, é a única coisa que posso dizer. Não vou dar spoiler, mas o que posso dizer é que os dois hoje se olham com um olhar mais vertical", acrescenta.
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Quero receberAtores negros como protagonistas em produções: "Sim, é mudança. É uma mudança que vem junto com uma história. Toda mudança vem de uma transformação social. Primeiro, a sociedade se transforma e depois exige uma mudança nas estruturas de poder, sejam elas políticas, sociais, artísticas, enfim, culturais. Quando existe uma transformação social, fica quase que inevitável você não se transformar".
Eu ainda acredito que existam televisões ou produtos muito brancos para 2024 e eu acho que está ficando vergonhoso. O meu desejo é, hoje, ver o branco falando: "estou constrangido de estar aqui. Esse lugar é de uma pessoa negra". Eu quero ver isso, porque a luta não é do negro. César Mello
Quem é César Mello: O César Mello é o filho do Antônio e da Neide, é um taurino e nasceu no dia 29 de abril. É um ser humano que está se construindo e tentando se construir a partir do autoconhecimento e do amor, que é muito feliz pelas partes que compõem ou que podem compor o ser humano. Quando digo que a arte não é a minha totalidade, a arte não é a minha vida, por que não é. Sou um pedaço arte, um pedaço ser espiritual em busca espiritual, sou parte emocional, amor, família e parte de autoconhecimento. Enão, se deixo a arte ser a totalidade de quem eu sou, eu fico penso, torto. Eu sou um solar, sou feliz, gosto de rir, gosto de conversar, gosto de amigos. Sou um ser humano que gosto de fazer corriqueiramente a manutenção de amizades que eu acho que merecem.
Projeto pessoal: Terminar o meu romance. Comecei a escrever um romance há três anos, que é o meu primeiro romance infantil-juvenil, que chama-se "Asa e o Segredo do Saco Sagrado das Adivinhações". Amo escrever, amo estudar e eu comecei a estudar a filosofia egípcia, e foi a partir da filosofia egípcia que eu comecei a construir esse romance. Todo dia que eu escrevo uma página, duas páginas e consigo entender para onde os personagens vão. Eu falo: "para onde é que esse pessoal vai?" e depois eu escrevo mais duas páginas. É um barato, né? Tenho sonhado muito com isso.
SERVIÇO:
Peça: Entre Franciscos, o Santo e o Papa
Horário: 18h (de Brasília)
Local: Teatro Sérgio Cardoso (R. Rui Barbosa, 153 - Bela Vista, São Paulo)
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