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Com Soft Cell, Marc Almond celebra missa gay pra entrar pra história

Soft Cell começou com programação eletrônica carregada sem nada da fofice de "Tainted Love". A primeira música, "Memorabilia", ganhou refrões de "Holiday", da Madonna, e de "Sex Machine", de James Brown.

"I'm a Brasil Virgin, esta é a minha primeira vez em São Paulo", Marc Almond anunciou a música seguinte como o primeiro single da carreira do Soft Cell.

A música era "A Man Could Get Lost, uma ode aos experimentos de um cara que pode vir a se perder na cidade grande, sobre uma batida reta simples e o característico sax pontuando.

No palco sentimos a falta de Dave Ball, substituído nos synths pelo alemão Philip Larsen, músico que vem segurando a parte instrumental do duo há pelo menos dois anos devido a problemas de saúde de Ball.

Marc Almond, do Soft Cell, durante show no C6 Fest, em São Paulo
Marc Almond, do Soft Cell, durante show no C6 Fest, em São Paulo Imagem: Micaela Wernicke/UOL

Músicas como "Monoculture", com sua simplicidade rítmica e melodia que recorre a escalas orientais, lembrando música árabe.

Almond e Ball construíram sua reputação como influenciadores da resistência LGBTQIA+ desde o início da banda, em 1981.

Ver ao vivo a figura de um ícone como Almond pela primeira vez no Brasil já bastaria. Vê-lo cantando muito bem e feliz no palco foi o presente que todo fã queria ganhar — e ganhou.

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"Bedsitter" foi cantada pela arena repleta de fãs, a maioria da geração X emocionada com a presença (ainda) forte de Almond. Emoção foi a mil com o único do solo de saxofone de "Torch", um dos maiores clássicos do duo.

Um dos maiores hits e também um dos momentos em que a soul music magicamente se transformou em música de pista de dança, graças à genialidade de Almond e Ball. Só essa música já teria valido o ingresso, mas tinha mais.

Marc Almond, do Soft Cell, no C6 Fest
Marc Almond, do Soft Cell, no C6 Fest Imagem: Micaela Wernicke/UOL

A beleza de ver esse artista de 66 anos com tantos serviços prestados à música de pista e à comunidade LGBTQIA+ encobre a simplicidade técnica do show.

Estávamos todos embaixo de uma tenda para ver uma entidade, e não pirotecnia. A simplicidade é a coisa mais difícil de ser entregue com perfeição. E nesse quesito Almond é pós-graduado.

Suas letras são como mensagens de texto sobre amores, cotidiano na cidade, noite, orgulho, diversão. Mensagens que até hoje, quatro décadas depois de escritas, soam atuais.

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Jogo de luzes também foi parte da performance do Soft Cell no C6 Fest
Jogo de luzes também foi parte da performance do Soft Cell no C6 Fest Imagem: Micaela Wernicke/UOL

Com projeções retrôs e poucos músicos no palco (um par de backing vocals e um saxofonista, além de Almond e larsen), o baile do Soft Cell cobriu boa parte de sua diminuta discografia - são apenas três álbuns de estúdio ao longo dessas quatro décadas de carreira.

No Soft Cell a beleza se resume a poemas urbanos, programação eletrônica simples e saxofone. Foi com essas armas que Almond vem pregando por um mundo mais gay e divertido.

Como uma música da Motown acabou se tornando um hino gay e hedonista, nunca iremos saber, mas nesta noite de sábado (18) foi a vez de São Paulo se emocionar com uma das melhores covers da história, "Tainted Love", cantada a plenos pulmões, emendada como de praxe por "Where Did Our Love Go?".

Quem ficou até o final, resistindo à tentação de ir ver The Black Pumas na tenda ao lado, sentiu na pele que a revolução também pode ser feita com bateria eletrônica e saxofone.

Marc Almond encerrou seu cabaré carregado de emoção cantando "Say Hello Wave Goodbye", com o público cantando a letra com as mãos pra cima. Foi uma missa gay pra entrar pra história.

Opinião

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