OPINIÃO
No C6 Fest, Raye exibe a mesma segurança que transpira de seu único disco
Thiago Ney
Colaboração para Splash, em São Paulo
18/05/2024 19h40
O animado público que foi à Arena Heineken, no C6 Fest, no final da tarde deste sábado (18), para ver o show de Raye, pode comprovar por que essa cantora inglesa de 26 anos tornou-se um nome grande no pop.
Ao vivo, Raye exibe a mesma segurança que transpira no seu único (e ótimo) disco "My 21st Century Blues", lançado em 2023. Canta com voz que passeia bem tanto por momentos mais lentos, tipo em "Mary Jane", como por faixas que empurram para a dança, como "Worth It".
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Antes do lançamento do disco, Raye colaborou com diversos artistas de gêneros musicais bem diferentes, como David Guetta (dance) e Stormzy (grime), e ajudou a compor faixas como "Bigger", de Beyoncé.
A experiência certamente a ajudou a assinar músicas como "The Thrill Is Gone", que abre o show como se estivéssemos em um grande baile de soul e funk.
Em alguns momentos do show, Raye mostra um vozeirão que segura longas notas, como em "Oscar Winning Tears". Não precisa de truques ou softwares para não desafinar. Sabe cantar. O público, claro, vibra.
Lembra, às vezes, Amy Winehouse. Em outras, Adele. Também não fica muito distante de Sam Smith e SZA. Soul, pop, r&b, neo-jazz, tudo com com o apoio de uma bela banda com cinco músicos. Uma receita que, se bem feita, é infalível, mesmo depois de uma indisposição causada por ostras, como ela contou no palco.
Ray coloca em algumas letras lembranças nada agradáveis. Em "Ice Cream Man", ela canta: "Esse produtor me chamou numa DM/ Me disse 'Eu realmente gosto do que você está fazendo'/ Ele me disse: 'Venha ao estúdio, vamos criar algo'/ Ele me disse: 'Venha pegar uma vibe e fazer um pouco de música'/ Mas quando eu cheguei lá, deveria ter ouvido o que ele estava dizendo/ Tentando me tocar, tentando me foder, eu não estou brincando/ Eu deveria ter saído daquele lugar assim que entrei".
É um episódio que ocorreu com Raye, em um encontro que ela teve com um produtor. A faixa ganha contornos ainda mais emocionais ao vivo. A interpretação de Raye é de uma beleza que evidencia ainda mais uma letra dura e torturante.
O encerramento fica com "Escapism", a faixa mais popular da cantora, quase um hip hop em que ela lembra de uma noite em que saiu pra curtir e esquecer uma decepção amorosa. Uma faixa que representa o que o pop tem de melhor hoje, com letra confessional afiada e com batidas dinâmicas.
Neste C6 Fest, Raye mostrou por que é um dos elegantes nomes em alta na música.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL