Cat Power usa piada histórica do rock e recria show de Bob Dylan no C6 Fest
A cantora e compositora americana Cat Power já veio ao Brasil muitas vezes, mas dificilmente esse show "Cat Power canta Bob Dylan" chegaria ao país sem o convite do C6 Festival. É um projeto muito diferente dentro da carreira dela, com a ideia de recriar um show de Bob Dylan de sua turnê britânica em 1966, apresentando as músicas exatamente da mesma forma que ele fez há quase 60 anos.
Fica claro que a proposta não é exatamente a de um show, mas sim uma celebração, uma louvação a um artista pelo qual Cat Power e praticamente todos os roqueiros do planeta têm uma louca adoração. Durante a performance envolvente da cantora, as músicas foram ouvidas com atenção redobrada da plateia.
O show de Dylan que ela escolheu foi divulgado em discos piratas, nos anos 1970 e 1980, e depois lançado oficialmente em 1998: "The Bootleg Series Vol. 4: Bob Dylan Live 1966 - The 'Royal Albert Hall' Concert".
Vale explicar. Embora o título da gravação se refira a um teatro londrino lendário, essa informação foi um erro das pessoas que produziram as primeiras edições piratas do show. Na verdade, a apresentação que está no disco aconteceu num teatro em Manchester, o Free Trade Hall. O equívoco virou uma piada na história do rock. Mas, para gravar o disco desse projeto, a cantora embarcou na brincadeira e decidiu ir mesmo à casa londrina.
O show original flagra um período conturbado na carreira de Dylan, um momento que praticamente mudou o rock'n'roll. Naquela época, Dylan estava abandonando a música folk na qual já tinha se tornado um rei, deixando de lado o violão e a gaita para assumir a guitarra e levar suas canções ao mundo do rock. Muita gente não gostou, mas Bob Dylan é um gênio, um cara que ajudou a formar essa coisa chamada rock. Impossível ser criticado.
No show, registrado no ano passado no álbum "Cat Power Sings Bob Dylan: The 1966 Royal Albert Hall Concert", Cat Power manteve a ordem das músicas apresentadas no concerto original. Por isso ele é dividido em duas partes, uma ideia de Dylan para simbolizar sua transição do folk ao rock. A primeira parte é acústica, onde ela se apresentou com mais chance de mostrar sua voz afinada, e depois veio uma segunda parte elétrica, com guitarras assumindo o comando.
Pena que, para fazer o show caber na grade do festival, ela tenha cortado várias canções da parte acústica. Mas mesmo com essa redução o repertório é extraordinário.
Qualquer crítico musical fica sem alternativas diante deste show. Cat Power é uma figura magnética no palco, tem carisma e talento. E é essa mulher que se dedica a um repertório que não é simplesmente um punhado de canções de Dylan. O show é alimentado por músicas que ele escreveu e gravou na primeira metade da década de 1960, que é simplesmente o grande período criativo de Dylan. É a fase de sua carreira cultuada por milhões de fãs em todo o planeta.
O repertório é magistral. Entre outras, "It's All Over Now, Baby Blue", "Mr. Tambourine Man", "The Balad of a Thin Man" e "Like a Rolling Stone". São canções que desafiam o tempo. Numa plateia com mistura de gerações no C6, a apresentação foi hipnótica. No final, toda a força da canção mais popular de Dylan, "Like a Rolling Stone", proporcionou um coro lindo, que emocionou visivelmente a própria Cat Power.
Enfim, não foi um show, foi uma celebração para quem gosta de rock, gosta de Dylan e gosta de Cat Power.
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