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'Não viam com bons olhos', diz Rincon sobre unir rap com ritmos africanos

Rincon Sapiência diz que suas viagens pela África contribuíram para ampliar suas referências musicais Imagem: Bruna Bento

Victor Rocha

Colaboração para Splash, de São Paulo

19/05/2024 00h02

O músico Rincon Sapiência se apresentou na Virada da Solidariedade, na Arena Brasilândia, neste sábado (18), e afirmou em entrevista que, no começo de sua carreira, as pessoas criticavam a mistura do rap com a sonoridade africana.

O que disse o rapper

Após o show que contou com a plateia empolgada, principalmente com os hits "Ponta de Lança" e "Dame Mais", ele concedeu entrevista exclusiva para Splash. Ele falou sobre os diferentes estilos que compõem o seu som, o momento da cena do rap e a iniciativa de um evento cultural gratuito.

Precisamos dos aparelhos públicos para acessar a educação e saúde. A arte e entretenimento fazem parte das necessidades básicas, e com as pessoas de baixa renda não é diferente. É muito interessante a Virada oferecer isso às pessoas, e de certa forma acaba sendo uma retribuição pois essas pessoas apoiam e fazem acontecer o nosso trabalho.
Rincon Sapiência

Grande parte de suas produções tem influência de ritmos africanos. De acordo com Rincon, essa relação veio naturalmente desde a sua infância.

"Meu contato com a cultura africana vem desde sempre. Apesar de ter feito catequese, sempre gostei das religiões de matriz africana", explica o rapper. "Tinha um amigo que frequentava a umbanda e me interessava, fazia perguntas a ele. Gostava de capoeira, então essa minha relação sempre foi algo muito natural. Quando passei a dominar a ferramenta de produção musical, comecei a introduzir esses elementos que já faziam parte da minha vida. No começo alguns não viam com bons olhos, essa mistura também do samba, batucada, com o rap".

Viagem à África

Rincon contou a Splash como as viagens que realizou pelo continente africano ampliaram seu leque de referências. "Muito tempo ouvindo música, e tive a oportunidade de viajar ao continente africano, logo em minha primeira viagem para fora do país, onde pude virar minha chave criativa. Fui para Senegal, Mauritânia e Cabo Verde. Cantei lá e minha identidade sonora fez com que as pessoas gostassem mesmo sem entender a nossa língua. Dentro da minha pesquisa africana, percebi que a dança e o ritmo faz parte de todos os momentos. Fúnebres, rituais, celebrações, eles não abrem mão de estar em movimento", conta.

O rapper traz elementos em sua música que provocam reflexões quanto a ostentação, mas não nega que também a pratica.

Tenho uma música que, de forma provocativa, se chama 'Ostentação à Pobreza'. Mas isso não parte de algo de eu ser antagonista à ostentação, até porque eu ostento também. Apesar de não mostrar tanto isso para o público, mas digo no meu dia a dia, com roupas, carro. Isso tem a ver com orgulho, pelo que nós já passamos. As classes mais baixas passaram a ter mais acesso ao consumo, com celular, plano de internet e roupas melhores. É para trazer uma reflexão, não uma crítica à ostentação. Quando você tem um troféu, ou você guarda ele no bolso, ou mostra para os outros.
Rincon Sapiência

O cantor elogia a cena atual do rap, mas, pondera que a velocidade atual das produções provoca certa pasteurização em alguns momentos. "A cena está crescendo muito, nível técnico e de produção subindo. Festivais chegando o dinheiro entrando, o momento é muito bom para o rap. Mas sempre é importante manter a essência da cultura, ligado ao social e racial. Hoje em dia tá tudo muito rápido. A forma de produzir, de gravar, então acaba tendo muita coisa parecida. Mesmo assim, acho que ainda temos muita coisa boa original", diz.

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