Criadora do C6 Fest acredita que 'há sinais positivos' para edição de 2025
Adriana Del Ré
Colaboração para Splash, em São Paulo
22/05/2024 04h00
Mesmo mantendo uma longeva ligação com os festivais de música, desde os tempos de Free Jazz, Monique Gardenberg ainda sente algumas pequenas agonias quando transita nos bastidores de um evento seu. Não foi diferente na 2ª edição do C6 Fest, que movimentou o Parque Ibirapuera entre dias 17 e 19 de maio. "Mas nada que acelere a respiração", assegura ela.
Fundadora da Dueto Produções, a produtora e diretora assina o C6 Fest, em parceria com seu time de curadores, com a mesma excelência que ajudou a erguer históricos festivais no Brasil, sempre com um olhar atento para o jazz. Nas coxias, ela conversou com Splash com exclusividade, no domingo (19), último dia de festival, fazendo um balanço do festival deste ano, que atraiu 25.300 pessoas, somando os três dias — e com bons indícios que haverá uma nova edição em 2025.
O C6 Bank, patrocinador master do evento, parece satisfeito. Head de Marketing do banco, Alexandra Pain era uma frequentadora assídua de Free Jazz e Tim Festival. Com uma conexão sentimental com esses festivais, ela foi atrás de Monique para que o C6 Fest virasse realidade. "A gente torce para que a gente faça novas edições. Estamos conversando. A gente quer, mas temos vários detalhes que precisamos acertar", antecipou Alexandra. Se isso acontecer, o martelo deve ser batido até o próximo mês.
A seguir, leia os principais trechos da entrevista com Monique Gardenberg.
Como é para você, ainda hoje, acompanhar os bastidores do festival, mesmo tendo muita experiência nisso?
Ainda batem algumas agoniazinhas, mas nada que acelere a respiração. Quando a gente decidiu botar o jazz do lado de dentro e o pop do lado de fora no mesmo dia, a gente já sabia que está se impondo uma carga de estresse. Tudo tem que correr superbem.
O que pode causar esse estresse?
A primeira coisa é caber, porque você está roubando um pedacinho do palco do lado de dentro para o lado de fora, mas isso é visto com muita antecedência. São feitas reuniões com o nosso diretor técnico e os diretores técnicos dos grupos. Quando a gente faz o convite, não necessariamente isso já foi discutido. A equipe técnica entra bem depois, então dá aquela agoniazinha. De na hora um lado atrasar, mas não tem atrasado. Antigamente, quando a gente fazia os festivais, chegava a ter que puxar o cabo da parede, porque o artista ultrapassava o horário. Algumas vezes, a gente teve de fazer isso. É muito interessante ver como agora os artistas respeitam. Acho que é uma cultura dos festivais. Três pessoas no palco perguntaram: eu ainda tenho 10 minutos, é isso? A Jaloo falou (no palco): 'Gente, desculpa, estou correndo, porque o tempo é curto'. Então, estão todos ligados.
Queria falar sobre a estrutura do festival. Tiveram algumas mudanças. O Village (local que concentra restaurantes e venda de bebidas), por exemplo, ficou mais próximo das pessoas, não?
Ficou mais visível. Tem, mais ou menos, o mesmo número de restaurantes e bares, só que melhor posicionados, que foi também uma coisa que a gente aprendeu fazendo.
Isso funcionou então para essa edição?
Ficou bacana. Acho que o pessoal se espalhou bem e ficava comendo, conversando perto. Aí o show começava, o pessoal ia. Achei que ficou muito legal ali essa ideia de fazer tudo meio entorno daquela grande árvore, sendo dois bares na lateral mais perto do palco, mas um pouco mais distante, porque também a gente sentia que eles muito perto criavam até vazamento de luz para os artistas. Ficou melhor.
Nesta edição, teve gente que reclamou de ter que 'sair do festival' para ir para o outro palco e também de os palcos estarem um pouco mais longe entre si em relação ao ano passado. Por que a distribuição foi assim?
Porque a Marquise está interditada agora, isso que mudou. O ano que vem não vai ter mais isso. Tivemos que fazer a volta, porque já não podia fazer os túneis debaixo dela. Ela está em obra. Para a gente foi ruim. Aí a volta é grande, porque desde aqui em frente à Oca já começa o bloqueio. Não é à toa, não é uma opção.
O anúncio do line-up foi feito no final do ano passado. Vocês já sabiam que ia ter essa reforma ou foram pegos de surpresa?
Ela estava para ser aprovada naquela época, mas não mudaria muito, porque a opção seria sair daqui. E essa sensação de sair e entrar é porque a passagem não é por dentro, você tem que passar por onde outras pessoas do parque passam. Mas não teve jeito.
Ao mesmo tempo, ouvimos pessoas elogiando outros aspectos da estrutura do festival, de conseguirem ter acesso a várias opções de comida, de encontrarem lugar para se sentar, com sombra, terem água à vontade. Isso porque os festivais, de uma maneira geral, viraram sinônimo de perrengue...
Não tem esse tipo de aborrecimento, de lutar por uma coisa que você está querendo. E acho que também foi bem espalhado e bem dimensionado. O tempo inteiro foi trabalhado o tamanho de público e tamanho de produção. Então, a gente foi aumentando aqui, segurando ali, conforme foi vendo o tamanho do público. Achei muito bem planejado nesse sentido.
Em relação aos ingressos, teve uma diferença nas vendas em relação ao ano passado, quando o público precisou comprar ingresso individualmente para cada palco. A agora essa venda foi unificada, com exceção do Auditório, claro, que ainda tem lugar limitado e marcado. O público reclamou, vocês ouviram. Como foi essa mudança neste ano?
Acho que é o que o público quer, o custo é perder pedacinhos de shows. Não tem como, não tem outra maneira. Ontem mesmo eu falava: será que é o caso de diminuir um pouco o elenco e aí só começa um show quando acaba o outro? Mas acho que essa coisa de correr para lá, correr para cá sempre foi a marca do Free Jazz. A gente brincava, era escolha de Sofia. O que acontecia no Free Jazz e no Tim Festival é que as pessoas compravam para os dois shows e elas ficavam para lá e para cá. Hoje em dia, isso não é mais aceito. A pessoa quer comprar um ingresso e poder fazer isso livremente. Por outro lado, tem a exigência de horário que não há possibilidade. A gente até ajustou o horário depois de publicar a primeira versão. Muitas pessoas estavam reclamando que um show estava cobrindo o outro. Aí ligamos para as bandas, conseguimos negociar e afastamos um pouco mais. Mas sempre vai encavalar um pouco, não tem jeito.
Qual o seu balanço geral do festival? O que funcionou e o que ainda precisa ajustar?
O que me chama muita atenção é a vibe do festival, porque ele tem um clima de que todo mundo está em uma onda gostosa, tanto o público quanto os artistas. Acho que talvez a escolha musical, a maneira como a programação é montada, ela cria as bases para uma vivência gostosa. O festival tem essa grande confraternização em torno da música. Este ano, a gente não teve as ativações das marcas. O investimento que seria feito nisso foi doado para ajudar as vítimas da tragédia do Rio Grande do Sul. Agora, se a gente conseguir no futuro que as ativações sejam também entregas de conteúdo, de alguma coisa artística ou de alguma coisa que o público vivencie.
E o que é preciso ajustar para próxima edição?
Acho que a volta da Marquise. Com a volta dela, vai ser uma delícia, porque uma das ideias era fazer toda a alimentação ali. É muita coisa que se pode fazer quando a Marquise voltar, porque ela é um rio maior que leva os afluentes para os prédios. Vai ser bonito o dia que liberarem, não só por nós, mas pelo parque de uma maneira geral.
Terá uma nova edição do festival no ano que vem?
Tem um ambiente positivo para se ter um novo um novo festival, mas essa é uma confirmação que só o C6 Bank pode dar. Tem sinais positivos no horizonte, mas é difícil eu dizer.
Os recentes cancelamentos das grandes turnês de Ivete Sangalo e Ludmilla geraram um debate sobre a real situação do mercado da música, de shows. A ideia que se tinha é que era um mercado que comportava tudo, porque existem muitos festivais, muitos artistas querendo investir em turnês grandiosas, mas vimos que não é bem assim. Como você vê esse cenário? A oferta está maior que a procura?
Acho que teve um boom depois da pandemia e agora já está no contrapé. Então, todo mundo vai ter que se ajustar, se adaptar e dimensionar de uma forma correta. Cada evento, cada turnê. Já tem um refluxo. Antes, estava represado, todo mundo em casa, então na hora que soltou, teve um 'showboom'. Como tem um boom, mais gente começa a quer fazer e aí começa a ter a saturação. Um canabaliza o outro. Não tem jeito.