Assédio, vício e traição: o relato de Morgan Spurlock, de 'Super Size Me'
O documentarista Morgan Spurlock morreu nesta quinta (23) devido a complicações de um câncer. Produtor, diretor e protagonista de "Super Size Me" (2004), ele foi alvo de críticas posteriores pela conduta no documentário e revelou, em 2017, aspectos de sua vida envolvendo assédio, infidelidade e vício em álcool.
O que aconteceu
"Super Size Me" foi um sucesso. A produção que acompanhou Spurlock por 30 dias, em que ele só comia alimentos do McDonald's, arrecadou mais de US$ 22 milhões e foi indicado ao Oscar de melhor documentário.
Mas também foi alvo de críticas. Algumas pessoas indicaram que ele havia se recusado a divulgar os registros diários de sua alimentação para monitoramento. Segundo o The New York Times, pesquisadores de saúde não conseguiram replicar os resultados em estudos controlados.
Calorias excessivas. Durante o experimento, Spurlock comia em restaurantes da rede de fast food três vezes por dia, totalizando 90 refeições com as mais variadas opções do cardápio. Ele consumia mais que o dobro de quilocalorias de uma alimentação saudável.
No fim, a saúde ficou comprometida. O diretor ganhou 11,1 kg, teve colesterol alto, disfunção sexual, mudanças de humor, fadiga e mal-estar. Também acumulou gordura no fígado e sentia vontade constante de vomitar. Ele levou 14 meses para voltar ao peso inicial.
Resultados podem ter sofrido distorção. Em 2017, Spurlock fez um comunicado no Twitter em que contou ter bebido constantemente desde os 13 anos de idade. "Há 30 anos não fico sóbrio por mais de uma semana", disse. Sendo assim, durante as gravações de "Super Size Me", ele seguia bebendo, mas escondeu o fato de médicos e do público, o que pode ter distorcido os resultados do experimento.
Assédio e infidelidade
No mesmo comunicado, que veio à tona no auge do movimento #MeToo contra o assédio sexual, ele disse que também era "parte do problema".
Ele foi acusado de estupro. Spurlock relatou que, ainda na faculdade, uma garota o acusou do crime. "Fiquei chocado", disse, detalhando em seguida o que havia ocorrido na ocasião.
Depois, teve um caso de assédio no trabalho. Ele conta que, oito anos antes, praticava assédio contra uma assistente de seu escritório por meio de frases com conotação sexual. "Pensei que era engraçado na época, mas depois percebi que a havia rebaixado completamente e menosprezado, levando-a a um lugar de inexistência", escreveu.
O caso foi resolvido com um acordo. Quando a assistente decidiu se demitir, teria dito para ele pagar um acordo —caso contrário, falaria sobre o caso para todos.
Sendo quem eu era, era a última coisa que queria, então é claro que paguei. Paguei pela paz de espírito. Paguei por seu silêncio e cooperação. Acima de tudo, paguei para poder continuar sendo quem eu era. Morgan Spurlock, em comunicado de 2017
Spurlock também relatou casos de traição. "Eu fui infiel a todas as minhas esposas e namoradas que tive", disse. "Eu olhava nos olhos de cada uma delas e proclamava meu amor e depois fazia sexo com outras pessoas pelas costas delas."
Assédio na infância
No comunicado, o documentarista se pergunta o que o teria levado a agir de todas essas formas. "É tudo ego? Ou foi o abuso sexual que sofri quando menino e na adolescência? Abuso que só contei para minha primeira esposa; por medo de ser visto como fraco ou menos homem?"
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Quero receberSpurlock conta que, quando era criança, o pai dele abandonou a mãe e questiona: será que "ela acreditava que ele nunca a respeitou, então o desrespeito foi transmitido ao filho?"
Ao falar que bebia constantemente desde os 13 anos, ele disse que o vício "apenas serviu para preencher o vazio emocional dentro de mim e a depressão diária que enfrentei".
Morgan Valentine Spurlock nasceu em 7 de novembro de 1970, em Parkersburg (EUA) e cresceu em Beckley. O pai dele, Ben, era dono e administrava uma oficina mecânica, e a mãe, Phyllis Spurlock, foi orientadora do ensino fundamental e médio.
Além de "Super Size Me", ele produziu o filme "Onde está Osama bin Laden?" (2008), que não foi bem recebido pela crítica, e acompanhou a banda One Direction para o documentário "One Direction: This Is Us" (2013), que teve sua direção.
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