Helio de La Peña: Contra racismo dentro da escola, expulsão é insuficiente
Salve minha gente, bem-vindos à Resenha de La Peña!
Educar ou punir? Pense na seguinte situação. Uma estudante preta é agredida por duas estudantes brancas, todas do mesmo colégio. Pegaram o caderno da garota, rasgaram todo o trabalho e, nas páginas que sobraram, rabiscaram mensagens racistas gravíssimas.
Qual seria a sua primeira reação? Eu decidi trazer essa reflexão porque me identifiquei com esse caso.
Fiquei pensando na minha história e sobre a minha condição de pai. Quando garoto, eu estudei num colégio de elite e era um dos raríssimos alunos pretos. Uma situação bem desconfortável.
Na época, não existiam ídolos com quem eu me identificava fisicamente. Quer dizer, tinha um. O Pelé.
O meu convívio com os meus colegas era bem amigável. Eu era fera em matemática. Um nerd, né? E isso me dava uma certa moral entre eles.
Eu tinha a ilusão de ser um aluno como outro qualquer.
Mas, quando chegava na aula de história do Brasil e o assunto era a abolição da escravatura, eu morria de vergonha. Ficava pensando: "Agora vão notar que eu sou preto".
Agora, enquanto pai, eu vivi uma situação bem absurda. Meu filho tinha 20 anos na época. Estava com uns amigos numa lanchonete badalada aqui do Leblon. Tinham vindo da praia, todos sem camisa, à vontade. Quando chegou uma viatura, desceram quatro policiais e foram todos direto para cima dele.
Aí revistaram, aquela humilhação, aquela coisa toda.
Depois disseram que estavam atrás de um bandido.
E por que meu filho, o único preto da turma, era o único suspeito?
Bem, agora que eu passei pra vocês a minha perspectiva, vamos voltar ao caso da menina vítima de racismo em 2024.
É um ato que gera repulsa a qualquer um. Imagina para os pais. É claro que isso tem que ser punido, não podemos mais varrer para debaixo do tapete essas atitudes e nem fingir que essas adolescentes não sabiam o que estavam fazendo.
Aliás, um detalhe: elas tinham 14 anos.
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Quero receberCerto, é preciso punir, mas é preciso educar também. A escola e o núcleo familiar têm um papel fundamental na formação do caráter de um jovem adulto. É preciso que essas jovens passem por um letramento racial.
O racismo ganha campo quando a gente minimiza as suas consequências. E a escola tem que rever o que ela está ensinando.
Como é apresentada a abolição da escravatura, por exemplo? Continuam contando aquela história de que a Princesa Isabel, dia 13 de maio de 1888, acordou de bom humor, tomou aquele café da manhã de novela das seis e assinou a Lei Áurea?
Será que a escola conta que um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis, era negro? Ela ensina que já tivemos um presidente negro, e não foi o Barack Obama, foi o Nilo Peçanha?
A escola tem que educar, mas cabe também à sociedade educar.
Quantos diretores negros de empresa nós conhecemos? Quantas autoridades negras? Eu imagino como deve ser doloroso para a vítima encontrar aquelas que lhe agrediram na alma.
Talvez no primeiro momento a solução seja não reencontrá-las no recreio. Mas será essa a saída? Nós, enquanto sociedade, não ganhamos nada com a simples transferência dessas garotas para um outro colégio.
Sem letramento racial, a chance de reincidência é grande. O colégio tem que assumir o seu papel de educador e estar vigilante para que casos assim não voltem a acontecer. Mas não tão vigilante quanto um guardinha que me parou numa blitz uns anos atrás.
Eu estava dirigindo o meu carro e o guardinha mandou encostar. De onde ele estava ele gritou: "Ô negão, tu não acha que tá muito preto para dirigir esse carrão?".
Porra, ou eu trocava de carro ou eu trocava de cor.
Aí o guardinha foi chegando, eu fui entregar o documento pra ele, ele falou: "Peraí, você é o De La Peña, do Casseta e Planeta?
Eu falei: "Sou eu mesmo".
"Grande De La Peña, eu sou seu fã!"
"É, eu tô vendo, né?"
"Não, não, eu sou seu fã mesmo. Desculpa ter sido meio grosseiro assim com você, eu acabei insinuando que você é preto, né?"
Eu falei: "Oi?"
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