Amadurecida, Bebé Salvego lança disco 'Salve-se': 'Me sinto mais corajosa'

Conversar com Bebé Salvego é potencia pura; entrevistei a cantora e compositora que vem conquistando o público com sua voz cativante e expressividade emocional. Bebé cresceu em um meio musical, tem se destacado no cenário por sua autenticidade e versatilidade e acaba de lançar o segundo álbum de sua carreira, "Salve-se!", pela Coala Records.

O álbum de dez faixas revela um amadurecimento notável da artista. House music, indie, R&B, funk, trap, pagode e uma alma bem jazz demonstram a habilidade da cantora em navegar por diversos estilos musicais com naturalidade.

O álbum conta com colaborações de peso, incluindo Dinho Almeida, do Boogarins, e o rapper BK', parcerias que não apenas enriqueceram o projeto com novas perspectivas sonoras, mas também evidenciam a capacidade de Bebé de expandir seus horizontes criativos. Além disso, ela assina como coprodutora do álbum ao lado do renomado produtor musical Sérgio Machado Plim, com quem divide anos de parceria.

Veja a capa do álbum "Salve-se!"

Com "Salve-se!", Bebé Salvego não apenas consolida sua posição como uma das artistas mais promissoras da música brasileira, mas também oferece um álbum que é um gostoso convite à conexão emocional.

A artista ficou conhecida quando participou, ainda criança, do "The Voice Kids", mas nesta entrevista conversei com a grande mulher que ela se tornou:

Como estão as repercussões do novo disco, "Salve-se!"?

Ah, tá legal. Tô achando bem legal assim, bem diferente em relação ao primeiro. Tem chegado bem mais gente. Tô curtindo muito. Bebé Salvego

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Tenho visto por aí bastante gente falando a respeito do disco e está bem bacana mesmo.

É muito bom. Estou em um momento um pouco mais confiante, acho que, antes de lançar, eu ficava um pouco mais apreensiva, mas agora estou muito feliz.

Acho que é a idade também, né, Bebé? Você começou novinha, foi amadurecendo...

Sim, sim. Tem a questão da expectativa. Eu acho que sempre fui muito tranquila, mas influencia muito viver numa sociedade onde a pressão é bem grande. Acho que outros artistas da minha idade também devem viver essa pressão. Por isso nas minhas letras acabo abordando mais esse lance introspectivo, porque me sinto mais corajosa em botar isso no mundo. Mas, ao mesmo tempo, um pouco mais liberta pra falar sobre.

A cantora Bebé Salvego, que lança seu segundo álbum, 'Salve-se!'
A cantora Bebé Salvego, que lança seu segundo álbum, 'Salve-se!' Imagem: Wallace Domimgues/Divulgação

Herbie Hancock que disse uma vez que o jazz não é tão ouvido hoje em dia porque as pessoas estão mais interessadas em celebridades do que na música. Isso deve ser uma pressão bem grande para artistas hoje, não é? Acho que antes era o contrário, você lançava a música e ela tinha seu próprio valor. Hoje em dia, tem que ser influencer para tudo. Como funciona isso pra você?

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Exato. Isso envolve administrar tudo, não é só cantar ou compor. Não sou muito uma artista distante da dos bastidores, eu gosto de estar envolvida na produção, no olhar sobre o que faço. Isso me torna madura em relação ao que quero também, porque às vezes os resultados de fora não batem com os de dentro. Então, sempre penso o que posso fazer para ser mais genuína.

Você falou um tempo atrás que teve um período que você não cantava, que se resguardou no silencio e que depois entendeu que foi uma fase meio depressiva. Pode falar um pouco a respeito?

Isso envolveu a separação dos meus pais. Tinha uma relação muito grande com o meu pai, que me acompanhava nos palcos desde os oito anos. Acabou distanciando um pouco nossa relação musical, mas isso me trouxe uma relação muito próxima com meu irmão, Felipe. Ele sempre foi muito talentoso e eu sempre me inspirei nele. Então, esse período de afastamento do meu pai foi importante para a relação com meu irmão. Muitas músicas dos meus discos têm o envolvimento dele, seja na produção, seja na gravação.

Assista ao vídeo da música 'Assome', de Bebé Salvego

Interessante como períodos de dor, para quem tem alma de artista, depois que o artista digere aquilo, vira poesia, vira música, vira inspiração, não é?

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Totalmente. Isso está refletindo muito hoje em dia. Com meu primeiro disco, tem muitas coisas que eu digo ali que eram momentos que eu estava passando. Talvez o disco seja até sobre sonho e distopia. Nesse segundo disco, vim com mais maturidade, mais confiante. Falo de respeito às relações e do amor, mas também do lado profissional, onde às vezes caímos em armadilhas de autocuidado. É difícil quando misturamos administrar o dinheiro e a carreira com o que é melhor para nós. É um mercado complexo e é um tempo muito doido. Isso mexe com o emocional.

O nome do disco "Salve-se!" é muito bonito. Me conta um pouco sobre a escolha do nome.

A escolha veio antes do conceito. Tenho esse sobrenome, Salvego, e já tinha meu projeto "Salve God!". A palavra "Salve" sempre esteve comigo. E, depois que comecei a trabalhar no disco, percebi que tinha tudo a ver.

A cantora Bebé Salvego, que lança 'Salve-se!'
A cantora Bebé Salvego, que lança 'Salve-se!' Imagem: Wallace Domimgues/Divulgação

E sobre o jazz? Eu acho você bem ligada ao jazz, mas muita gente associa o jazz a músicas mais antigas. Para mim, o jazz tem mais a ver com liberdade, forma de expressão, defender causas. Como é o jazz para você hoje?

Totalmente. Vejo o jazz como uma linguagem, um estilo de vida. Hoje em dia, os gêneros estão se dissolvendo. Jazz é um estilo de vida, uma raiz. Observo artistas como Thundercat, Kamasi Washington e vejo essa evolução. Tento trazer isso para o meu som, que é bem do improvisação e freestyle. Mas não fiz o disco pensando em gêneros específicos. As músicas surgem através de improviso.

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Uma vez você falou da importância de referências femininas na produção musical. Quais são as suas?

Aqui no Brasil, vejo de perto a Ana Frango Elétrico e as meninas da Tuyo. Lá fora, admiro muito a Georgia Anne Muldrow e a Esperanza Spalding. Mesmo as que não assinam produção, sabemos que têm seu dedo ali.

Você vê mudanças na sua geração? Você e sua mãe conversam sobre isso? Sente mais abertura?

Sim, com certeza. Quando acompanhava minha mãe nos bastidores, vejo que houve avanços, mesmo que mínimos. Precisa ser mais urgente. Com a internet, recebemos microagressões e desrespeitos que mostram que isso está plantado. Falo muito sobre isso no meu álbum. A terra está envenenada. Mas, com a confiança nesses discursos, estamos vivendo um novo jeito de nos relacionarmos, de fazermos a diferença. É preciso coragem, mesmo que ainda soframos microagressões.

A existência do disco já é um ato feminista, né?

Sim, sim, totalmente.

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Nesse álbum, vejo um grande salto de amadurecimento nas letras e na sonoridade. Como foi para você trabalhar essa diversidade de gêneros e esse amadurecimento?

Surgiu a partir de ideias que eu tinha no meu computador. Sentei com o Sérgio e ouvimos tudo de composição e pré-produção. A diversidade de gêneros surgiu de forma normal e orgânica, mas também pensada. Pensamos em um álbum brasileiro com influências variadas. Transformamos uma música mais house em funk, ou um single mais house em algo mais pagode. Na produção, quebramos a cabeça nas letras. Parceiros novos como Dinho, BK', Vitor Milagres e João Menezes trouxeram aprendizado. É importante lembrar que esses gêneros são presentes na comunidade preta e vêm do jazz, como o rap e as harmonias do indie e do rock.

O rock e a house também vêm da música preta, e muita gente não sabe disso.

Então, exato, é muito isso. Acho muito louco isso. Eu tô assim, lançando o segundo disco, botando a expectativa que eu vou ocupar mais espaços. Mas eu sei que se eu fosse branca seria bem mais fácil.

E o futuro da sua carreira? Quais são os planos?

Quero expandir meu público, fortalecer minha comunicação além da música e continuar trabalhando com música. Tenho vontade de lançar muitos discos, ter um estúdio e gravar com outras pessoas.

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Tem gêneros específicos que você gostaria de explorar melhor?

Sim, estou querendo explorar mais o lance da canção. Quero estudar harmonias que valorizem minha voz, que é uma característica importante para mim.

Sua voz tem uma emoção bonita. Como você trabalha isso?

Acho que desde pequena sempre me entreguei muito. Tive boas professoras de canto e isso me ajudou. O jazz me trouxe essa autenticidade. Cada cantora tem sua própria personalidade, e isso se reflete na minha entrega.

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