Igor Fortunato: 'Sofri bullying na infância e encontrei cura no teatro'
Quando começou a fazer teatro em Mossoró (RN), sua cidade natal, há 16 anos, Igor Fortunato, não imaginava que estaria em uma novela de sucesso da Globo aos 31. Ator dá vida a Zé Beltino, o irmão mais velho e bruto de Quinota (Larissa Bocchino) em "No Rancho Fundo", e experimenta a aventura de ser tietado até quando vai ao mercado próximo de casa.
Quem é Igor Fortunato?
O ator se intitula "uma pessoa caseira, extremamente afetuosa e apaziguadora". Ele gosta é de viver na tranquilidade de sua timidez "um pouco curada por conta da exposição no teatro". Graças ao destaque no teatro potiguar, chamou atenção da Globo e conseguiu papel na novela escrita por Mário Teixeira.
Seu primeiro contato com o teatro foi graças à escola onde estudava na adolescência. A instituição fazia parte de projeto da UERN que montava um festival com peças realizadas por escolas da região. "Entrei para o teatro assim e, na minha primeira peça, já me apaixonei e disse: 'quero fazer isso para o resto da minha vida'".
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Na minha infância, sofria muito bullying. No teatro, encontrei um lugar de cura e de potência muito grande. As pessoas começavam a me respeitar a partir do que eu fazia ali e eu disse: 'Isso aqui é bom para mim'. Digo que o teatro me salvou e me salva diariamente.
Igor Fortunato
Inicialmente, a família de Igor rejeitou esse ofício por medo de falta de oportunidades e sustento. "Ela chegou a dizer que era uma fase, que ia passar. Hoje em dia, pelo contrário, minha mãe me apoia em tudo. Era uma preocupação maternal, principalmente vindo de um lugar muito empobrecido. Uma família nordestina e de baixa renda da cidade de Mossoró, que não está nem no centro do Nordeste. Havia uma preocupação de 'como você vai sobreviver'".
Muita gente acha que sua carreira começa na televisão, na primeira novela. Não, eu tenho 16 anos de atuação. Uma carreira extensa. Fazendo muitas outras coisas. Tem milhões de pessoas inventando o seu ofício, inventando uma cadeia produtiva para sobreviver enquanto artista.
Igor Fortunato
Representatividade
Quando começou a fazer teatro, ele não tinha referência de atores potiguares em lugares de destaque no audiovisual. "Costumo dizer que nunca imaginei que iria chegar nesse lugar, que iria fazer uma trama de sucesso na maior emissora da América Latina... Meu sonho sempre foi viver da minha arte, pagar as minhas contas no final do mês, mas o meu sonho extrapolou e ficou maior do que eu imaginava."
Hoje, ele se orgulha de ocupar um lugar de destaque e pioneirismo, diz ele, em relação a atores mossoroenses na TV. "Virar uma referência. Espero que esse trabalho mostre para quem está começando a fazer teatro hoje ou quem está sonhando que é possível, sim, alcançar esses espaços. O Brasil não é só Rio-São Paulo."
É incrível estar com o Andréa Beltrão, Alexandre Nero, Débora Bloch... São referências para minha vida. São pessoas que criaram um Imaginário na minha cabeça enquanto ator. Mas também acredito muito na potência de novas pessoas que vão construir imaginários para outras pessoas. Não necessariamente essas pessoas estão localizadas no eixo Rio-são Paulo. Elas estão espalhadas por esse país imenso.
Igor Fortunato
No Rancho Fundo
Ele enxerga Zé Beltino como um personagem que tem um estereótipo bem definido, mas que se desenvolve ao longo da trama. Ele quer dizer que o estereótipo do homem valentão "cabra macho", comumente associado no Nordeste, vai se humanizando a partir do vive na trama. "Tem sido muito prazeroso, porque possibilita, na construção, brincar desde o vilão mais cruel até o mocinho mais inocente e bobo. Muitas possibilidades"
Na história, a família Leonel encontra a turmalina paraíba e fica rica, atiçando o olhar de pessoas interesseiras. Com ascensão social dessa família, cada integrante passa a lidar com novos arcos narrativos com dilemas éticos e morais próprios. "Tira esses personagens de um lugar extremamente caricatural e coloca eles num lugar real, sabe assim que a terra esses personagens numa realidade possível."
A gente tem uma narrativa sobre riqueza em um lugar interiorano, em um lugar sertanejo. 'Qual é a riqueza da vida' dizia a frase de divulgação da novela.
Igor Fortunato
Zé Beltino + Blandina = Blandino
Igor gosta de acompanhar a repercussão no X (antigo Twitter) enquanto vê a novela e, claro, já percebeu que telespectadores torcem pelo casal Blandino. Blandina (Luísa Arraes) é uma das interesseiras que se aproxima da família para roubar parte da riqueza e viu na ingenuidade de Zé Beltino um caminho mais fácil. Eles, inclusive, já se tornaram noivos no folhetim. Cena na qual ele apresenta o romance a Zefa Leonel (Andrea Beltrão) divertiu os telespectadores.
O ator não esconde que torce para que os dois engatem um verdadeiro romance. "Torço muito para que o Zé Beltino tire bom proveito dessa história. Que ele tenha um profundo lugar de amadurecimento e saia desse lugar tão inocente que tem. Que ele perceba o mundo de forma mais ampla, assim como a Zefa Leonel... E espero que a Blandina se apaixone de verdade e descubra o que é amar alguém."
Tem um lugar cômico no encontro deles dois. São opostos. Isso é um clássico da comédia, né? Colocar as oposições da inocência e da esperteza para poder se baterem. Posso dizer que as cenas que a gente já tem gravada são muito engraçadas.
Igor Fortunato