Filho de Alceu, Juba Valença anima São João com forró e sintetizadores
Adriana Amâncio
Colaboração para Splash, em Caruaru
07/06/2024 04h00
Juliano Miranda Valença, ou simplesmente Juba Valença, estampa no rosto a origem do seu DNA musical. Filho do ícone da MPB Alceu Valença, ele não nega as referências, mas segue carreira autoral e tem estilo próprio. Reproduz com singularidade a mistura de forró com beats e sintetizadores apresentada por Assisão ainda nos anos 80. Ele anima o São João do Nordeste com o álbum "São Jubão", que mistura forró, beats e sintetizadores. A mistura de ritmos não ofusca as referências nordestinas muito presentes nas letras e na performance do artista.
Para quem olha seu rosto, Juba pode facilmente ser confundido com o pai nos anos 70. A genética foi o atalho para o primeiro contato do artista com a música. Ele viveu boa parte da vida no Rio de Janeiro e, desde 2017, mora em Olinda. Quando criança, passava as férias de julho e dezembro em Pernambuco.
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O primeiro contato que eu tive com a música foi com o forró e o frevo, ritmos muito marcantes na música do meu pai. Juba Valença, em entrevista a Splash
Mesmo nascido nesse berço esplêndido, Juba segue, há sete anos, em carreira autoral e tem como marca promover uma conversa entre os ritmos tradicionais e as incursões atuais. Assim, ele propõe uma junção da sanfona com sintetizador e zabumba com beats. Essa mistura é o supra sumo de "São Jubão", último álbum do artista que é o fio condutor das suas apresentações nas festas de São João de Recife, Olinda e Aracaju.
Juba defende que as misturas de referências são bem-vindas, mas sem negar as raízes. "A gente não pode esquecer o que é o São João de fato. O forró, a reverência aos mestres Jackson do Pandeiro, Petrúcio Amorim, não se pode esquecer", observa. Falando em homenagem, Salve o Mestre, uma das canções do novo álbum homenageia o sanfoneiro Mestre Benedito, ícone do forró da Bodega de Véio, ponto turístico do Sítio Histórico de Olinda.
Na faixa Sereia do Mar, ele evoca a força das divindades da praia, que remete ao Recife e Região Metropolitana, onde as cidades são cortadas por rios e pelo mar. A faixa tem a participação do Forró Escaletado. Em Se Tu Me Dis, Juba faz parceria com Lucas Bezerra e, por meio da metáfora que usa os movimentos de um casal de pássaros, retrata um amor romântico.
É na letra das canções onde Juba mais se assemelha ao pai. As referências e a poética nordestina das quais lança mão para contar as suas histórias através da música, lembram muito o distópico Alceu, que já nos anos 70, apresentava o Nordeste de belezas, diversidade e riquezas culturais. A exposição Alceu Valença: Uma Geografia Visceral Nordestina, em cartaz na Estação da Luz, em Olinda (PE), reforça como o Nordeste é bem representado nos mais de 50 anos de carreira do ícone de La Belle de Jour.
Juba se apresenta, no dia 13, na Caminhada do Forró, em Recife, no Foco Occa, em Olinda, dia 22, no São João de Aracaju, dia 28 e no São João do Recife, no Pólo da Av. Rio Branco, no dia 29.
O contato com a música
Juba começou a sua intimidade com a música através da escuta. Da escuta, ele partiu para a prática: dedilhava o violão do pai, comprou revista de cifra e começou a praticar na adolescência. Ao ingressar no curso de Cinema da PUC Rio de Janeiro, criou a banda Açucena, ao lado dos colegas de universidade. "Era uma banda que tocava Dominguinhos, o meu pai, Nação Zumbi, Academia da Berlinda, a gente fazia uma apanhado do forró e do manguebeat", explica.
Essas experimentações contavam com o apoio de pesquisas que o artista fazia em meio às férias, quando viajava para São Bento do Una e São Pedro do Cordeiro, cidades da região agreste de Pernambuco, onde os avós paternos e maternos viviam e mantinham criações de gado. "Quando eu ia para essa região, tinha muito contato com a cultura local. O forró vem daí", afirma.
Além disso, Juba percorreu o interior de Pernambuco para manter contato com as manifestações artísticas mais fortes da região, a exemplo de João do Pife, Coco Raízes de Arcoverde e o mestre Zé Bezerra, do Vale do Catimbau. Após beber de todas essas fontes, Juba encontrou um tom para a sua música, cuja missão é traduzir a cultura nordestina.
Lançou o xote Mulher de Ethos, em 2019; depois, Coco das Flores, com colaboração do guitarrista Paulo Rafael e clipe dirigido por Bernardo Valença. Em 2020, o álbum "Ethos" é lançado por completo, tendo o instrumentista Júnior do Barro, das bandas Ave Sangria e Anjo Gabriel como colaborador. Participa, em 2021, da coletânea "O Ano que não teve carnaval" com o single Cadê meu Carnaval e Pra Brincar o carnaval.
Ainda em 2021, ele lança o single O Sertão Precisa Disso — e lança em 4 de junho, dia em que Virgulino Ferreira, o Lampião, completaria 123 anos. O clipe da música leva a assinatura do renomado cineasta Cláudio Assis, conhecido por clássicos como "Amarelo Manga", "Baixio das Bestas" e "Febre do Rato".
O apoio de Alceu
Juba afirma que teve que provar que estava levando a música a sério para ter o apoio do pai. "Logo no início, quando a boemia andava de mãos dadas com a música, o meu pai não levava muita fé. Só quando ele viu que eu estava empenhado mesmo me deu oportunidade", relembra.
O artista relembra que quando mudou para Olinda, em 2017, o pai sentiu firmeza na sua decisão de seguir o caminho da música. "Em 2022, ele me convidou para gravar a faixa Meu Querido São João, que está no filme dele 'A Luneta do Tempo'", conta.
Em 2024, Juba participa do álbum "Bicho Maluco Beleza", cantando, ao lado do pai, o clássico Diabo Louro. Ele integra a obra ao lado de artistas como Ivete Sangalo, Lia de Itamaracá e Geraldo Azevedo.