João Rock: Encontro entre rap e rock já virou tradição; conheça a história
Gustavo Brigatti
Colaboração para Splash, em São Paulo
07/06/2024 04h00
Parceiros de longa data, Emicida e Pitty se apresentarão juntos no João Rock 2024 neste sábado (8), em Ribeirão Preto (SP). Mais do que executar um dos shows mais aguardados do festival, a dupla celebra também a mistura de dois gêneros musicais que, há quase 40 anos, parecem ter nascido um para o outro: o rap e o rock.
O celebrante desta união foi o produtor Rick Rubin, que em 1986, aos 23 anos, havia recém fundado a Def Jam Records e era um entusiasta tanto de rap quanto de rock. Em 1986, ele viu a oportunidade de juntar os dois gêneros, incentivando os rappers nova-iorquinos do Run-D.M.C a fazerem uma versão de "Walk This Way", canção de 1975, do Aerosmith.
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Contando com a participação da dupla de ataque dos roqueiros de Boston, Steven Tyler e Joe Perry, a faixa foi responsável por três acontecimentos: levou o Run-D.M.C para uma nova audiência, ressuscitou a carreira do Aerosmith e abriu uma porta que nunca mais se fechou.
Sob a batuta do mesmo Rubin, ainda em 1986 outra pedra fundamental da fusão de rock com rap seria lançada. Trazendo um sample de "When the Levee Breaks", do Led Zeppelin, logo na faixa de abertura, os Beastie Boys estrearam com "Licensed to Ill", provando que, a partir dali, nada mais seria sagrado - pelo contrário, as fronteiras entre gêneros musicais ficariam cada vez mais nubladas.
Na mesma época, mas do outro lado dos EUA, os Red Hot Chili Peppers experimentavam rock com funk influenciados (e produzidos) por George Clinton, do icônico Parliament-Funkadelic. Paralelamente, o Faith no More apresentava um novo vocalista, Mike Patton, e um novo conceito, esticando a corda ao misturar rap com rock alternativo. Clássico absoluto, "The Real Thing" (1989) fechava os anos 1980 dando uma prévia de como seria a última década do século 20.
O boom do rap rock
Depois que a alquimia entre rock e rap se provou frutífera, a massificação foi inevitável. E os anos 1990 foram pródigos em parir grupos que não tinham nenhum pudor em misturar os mais variados subgêneros dos dois pilares originais - incluindo no Brasil.
O rapper Ice-T, por exemplo, fundiu rap com heavy metal para criar uma das bandas mais agressivas da época, o Body Count, com um disco de estreia homônimo lançado em 1992.
No mesmo ano, o Rage Against the Machine debutou com a icônica "Killing in the Name", que atravessava o rap de Zack de la Rocha com as guitarras distorcidas ao extremo de Tom Morello. Já o Biohazard fundia rap com hardcore no álbum "Urban Discipline".
O passo seguinte foi a introdução da figura do DJ ao line up das bandas, o que ajudou a configurar um novíssimo subgênero: o nu metal, representado por bandas de sonoridades díspares até entre si, como Limp Bizkit, Papa Roach, Linkin Park, Slipknot, Incubus e P.O.D.
O Brasil na rota
No Brasil, um dos pioneiros da fusão de estilos foram os gaúchos do De Falla, que misturavam rock com funk e rap, em canções como "Sodomia", "Papapapaparty" e "Melô do Rust James", ambas do LP de estreia de 1987.
Nos anos 1990, o caldo engrossou, com os cariocas do Planet Hemp e os gaúchos da Comunidade Nin-Jitsu e Ultramen, trazendo personalidade local às suas misturas de rap com rock. Até o Raimundos, notabilizado pelo amálgama de punk rock com forró, se rendeu ao rap na faixa "Cabeça de Bode" do disco "Lavô tá Novo" (1995).