Perto de estrear no cinema, Dom Filó expande 'Netflix Negra'

Referência no movimento político-cultural da Black Rio, Dom Filó levará sua história para os cinemas em setembro.

Em um papo com o diretor de "Black Rio! Black Power!", Emílio Domingos, na Rio2C, ele ainda celebra a expansão de sua Cultne, o maior acervo audiovisual de cultura negra da América Latina, considerada a Netflix Negra.

Nosso objetivo é levar essas histórias para um público cada vez maior, aqui no Brasil e internacionalmente. Agora, estamos dialogando também com o mercado africano, expandindo nossa presença e compartilhando a rica história e cultura negra com mais pessoas ao redor do mundo. Dom Filó

No evento, Dom Filó lembra que foi somente aos 17 anos que começou a perceber o racismo de forma mais intensa, ao sair da comunidade onde vivia, no Jacaré, zona norte do Rio. "Entendi que na comunidade negra normatizávamos o racismo."

Naquela época, ele começou a frequentar bailes na zona sul do Rio, até chegar no Clube Renascença, um espaço cultural na zona norte onde os negros sentiam mais acolhimento e que se tornaria central na sua vida. "Era um ponto de encontro para grandes artistas negros e foi ali que minha relação com a música se solidificou", disse.

Surgimento da Black Rio

Dom Filó lembra que foi somente aos 17 anos que começou a perceber o racismo de forma mais intensa
Dom Filó lembra que foi somente aos 17 anos que começou a perceber o racismo de forma mais intensa Imagem: Luiza Souto/Colaboração para o UOL-Splash

Nos idos dos anos 60 e 70, a música black começou a ganhar força no Brasil, influenciada por artistas como James Brown. Dom Filó passou a organizar bailes soul no Renascença, até surgir a Noite do Shaft, uma espécie de ensaio para a criação das equipes de som Black Rio e Soul Grand Prix.

Nossa parada era ser feliz, porque a dor era muito grande.

Continua após a publicidade

Automaticamente, isso despertou a desconfiança das autoridades, que durante a ditadura militar vigiavam os encontros e, às vezes, prendiam seus organizadores, incluindo o próprio Dom.

"Queriam ouvir as conversas porque, além da música, havia discussões sobre consciência racial e resistência", explicou, detalhando em seguida uma de suas prisões: "Eles me colocaram na cadeira e começaram a fazer perguntas absurdas, achando que estávamos tramando algo contra o governo".

História Documentada

Nos anos 80, Dom Filó começou a registrar a cultura negra em vídeo, criando um acervo audiovisual que se tornaria a Cultne, o maior de cultura negra da América Latina.

Criei um acervo de mais de 3 mil horas de imagens que documentam a história contemporânea negra no Brasil.

O projeto evoluiu para uma TV online, que agora está disponível em plataformas como Samsung TV Plus e Pluto TV.

Continua após a publicidade

"Continuamos registrando e divulgando a história e a cultura negra, levando essas histórias para um público cada vez maior", afirmou.

"Para nós da comunidade negra, se não tiver excelência, não tem respeito", finalizou.

Deixe seu comentário

Só para assinantes