OPINIÃO
Com atmosfera pós-punk, Interpol entrega noite de gala indie em São Paulo
Gustavo Brigatti
Colaboração para Splash, em São Paulo
08/06/2024 04h00
Havia algo na água de Nova York nos anos 2000. Alguma coisa que fez brotar, de um mesmo lugar, bandas tão diferentes quanto Strokes, Yeah Yeah Yeahs, TV On the Radio e Interpol. Em entrevista a Splash, Daniel Kessler, guitarrista do Interpol, botou na conta de uma época pré-internet, quando ainda era possível não saber o que estava acontecendo na rua de baixo. Pode ser verdade.
Mas, depois do show que o grupo apresentou em São Paulo, na noite desta sexta-feira (7), também é possível afirmar que o trio se diferencia por alcançar lugares na audiência onde seus pares apenas arranham a superfície.
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Começa pela mise en scène, com uma cenografia minimalista composta apenas por luzes. No palco, a banda se apresenta sóbria, vestida de preto dos pés à cabeça - com exceção do vocalista, Paul Banks, que calça sapatos brancos.
O clima como um todo é de um post-punk elegante, reverberando Echo & the Bunnymen. O Interpol é cool, claro, mas não é blasé. Depois do estranhamento da abertura com "Specialist", um lado B de "Turn on the Bright Lights", o quinteto engata "Say Hello to the Angels", que levanta a plateia logo nos primeiros acordes, mas também indica que o disco não vai ser tocado na ordem como prometido. Ok.
De óculos escuros, Banks se mantém praticamente na mesma posição o show inteiro, enquanto Kessler emula o conterrâneo Dee Dee Ramone, tocando de pernas abertas com o instrumento quase tocando o chão. Mais nova-iorquinos, impossível, então tome "NYC", ode à cidade natal da banda e que traz o verso que dá nome ao primeiro disco: "It's up to me now, turn on the bright lights".
Essa primeira parte do show, dedicada ao álbum de estreia, é mais densa e dramática, como o próprio disco. Há uma eletricidade que parece pairar no ar e percorre as faixas, com destaque para "Roland" e seu baixo galopante, e "Hands Away".
São canções que podem passar batidas quando ouvidas no modo shuffle, mas que crescem ao vivo e tornam-se ainda maiores dentro do contexto do álbum. O fechamento é com a sombria "PDA" e a banda faz um pequeno intervalo.
O segundo homenageado da noite, "Antics" (2004), recebe tratamento diferente. Suas faixas são tocadas rigorosamente na sequência e a resposta do público é maior. Também ajuda ser um trabalho mais, digamos, vibrante e menos melodramático.
"Next Exit" seguida por "Evil" foram acompanhadas palavra por palavra pelos fãs, embora o clima seja levemente derrubado com a ode ao amor devastado de "Narc" e sua gêmea "Take You On a Cruise".
Nada que o petardo "Slow Hands", um dos grandes hits do Interpol, não resolva, provando que um espetáculo pode ser dramático e vibrante na mesma medida. Com o público na mão e pouquíssimo espaço para devanear, a voz de barítono de Banks voou alto em "Not Even Jail" para aterrissar na quebradiça "Public Pervert". "C´Mere" é outra historinha de corações despedaçados amada pela audiência, que dança como pode na pista abarrotada.
Finalizado "Antics", o bis retorna o show para "Turn on the Bright Lights": "Untitled", primeira faixa do primeiro disco. Uma faixa quase instrumental, que encerra a noite com um recado direto para quem viveu aqueles estranhos anos 2000 pré-internet, onde não dava para saber o que acontecia na rua de baixo, e onde era possível coexistirem bandas tão diferentes: "Surprise, sometimes, will come around / I will surprise you sometime".
Interpol em São Paulo
Quando: sábado, 8/6, às 21h
Onde: Audio (av. Francisco Matarazzo, 694, Barra Funda)
Quanto: de R$ 215 (meia, pista) a R$ 530 (inteira, camarote)
Ingressos à venda no site da Livepass.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL