Campina Grande: quem é o artista que cria bandeirinhas do 'Maior São João'

Imagine um caminho decorado com bandeirinhas juninas, que inicie da Pirâmide no Parque do Povo, em Campina Grande (PB), e se encerre enfeitando as ruas de Caruaru (PE). Esse trajeto de 144 km poderia, sim, ser percorrido apenas com as bandeirinhas utilizadas para a ornamentação do Maior São João do Mundo, da cidade paraibana, e ainda sobraria.

O São João de Campina Grande celebra em 2024 a sua 41º edição, com duração de 33 dias e público esperado de 3 milhões de pessoas. A festividade causa grande impacto visual devido a sua colorida decoração, que se pode ver por todos os lados.

O principal nome criativo por trás disso é o ator, cenógrafo e diretor de decoração, José Arimateia Lima, conhecido como José Sereco, 60. Natural de Cubati, interior do estado, mas radicado na Rainha da Borborema, atua na festa há 33 anos e inclusive na primeira edição.

Cidade cenográfica do Parque do Povo, em Campina Grande
Cidade cenográfica do Parque do Povo, em Campina Grande Imagem: Matheus Lino/UOL

Sereco falou a Splash sobre as inspirações e dedicação à festa. Veja as respostas abaixo:

Qual a importância da ornamentação para as festas juninas? "Imagine o São João sem bandeirinha nenhuma, sem cor! Fica quase como está Caruaru. Não é bairrismo, mas quando você perde a sua cultura e tira a cor? Não vai ter muito o que ver"

Como é feita a ornamentação do São João de Campina Grande? "Fizemos neste ano cerca de 170 mil metros de bandeiras. Apenas para a pirâmide foram 40 km. É bandeira "com força". Tanto os balões, quanto as 340 mil bandeiras são fabricadas por uma empresa da cidade. Depois contratamos 30 mulheres para grampear, gerando emprego e renda. Tudo é campinense. Por fim, vem a equipe de montagem. Somos quase 300 pessoas.

A gente não pode errar. São João é bandeirinha e balão, é a preservação da nossa Cultura (...) não posso nunca perder essa cultura, porque a referência é da história
José Sereco

Como foi participar da primeira edição do Maior São João do Mundo? "No início, Ronaldo [Cunha Lima, criador do evento] limpou o terreno que é o PP e construiu o palhoção, de palha mesmo, onde hoje é a Pirâmide. Só tinha três postes e o palco. Na casa de Dona Glória [esposa de Ronaldo], me juntei a um grupo de voluntárias para cortar as bandeiras. Não dava nem 300 metros. Amarramos nos postes, penduramos uns balõezinhos e assim foi a primeira decoração do Parque do Povo"

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E como ocorreu a mudança desse amadorismo para o planejamento de algo maior? "Primeiro, Ronaldo criou o palhoção? Depois construiu a pirâmide, mas a festa tomou uma grande forma nacional quando Cássio [Cunha Lima] entrou na prefeitura e resolveu trazer Keller Veiga, que era um cenógrafo do Projac, da Globo, para fazer uma curadoria com todos nós. Ele trouxe a equipe do Rio e nós trabalhamos com eles. Daí em diante, a gente tomou conta. Já são 33 anos"

Esse ano estamos comemorando a noite de São João, "olha pro céu meu amor / vê como ele está lindo". Fiz a festa dos três Santos em um céu azul, com estrelinhas e com tudo. Sempre é pensado com antecedência. Enquanto eu fazia a pirâmide deste ano, já pensei a do ano que vem.
José Sereco

Quais lugares foram decorados neste ano? "Além do Parque do Povo, fizemos em Galante, São José da Mata, Catolé de Boa Vista, o calçadão do Parque da Criança e a Vila do Artesão. Outra empresa fez as ruas da cidade. Eu gosto muito de fazer no distrito de Galante, porque é num lugar bonito, com cara de cidadezinha de interior. Aí é que dá gosto de fazer né? Nos distritos, a gente interage mais com as pessoas da cidade"

Como você imagina o futuro do evento? "Sou meio camaleão, mudo junto com o Parque do Povo. Esse ano já juntou com o Parque do Açude Novo. Sonho que ele chegue no Açude Velho como diz a profecia [300 metros separam o Parque do Povo e o Açude]. Já está bem pertinho. Se empurrar um pouquinho mais, vai caber 100 mil pessoas aqui"

De onde surgiu o apelido Sereco? "Quando eu tinha 11 anos, em Cubati (PB), a gente montou uma peça em que eu era um personagem chamado Sereco. Quando completei 13 anos, que vim embora para Campina. Quando cheguei, estavam montando a mesma peça que eu tinha feito. Como eu tinha um texto todinho na palma da mão, ganhei o papel. Estreamos no Festival Colegial e foi um estouro. No outro dia, eu não era mais José, eu era Sereco.

E como foi essa transição do teatro para a ornamentação? Às vezes eu estava em cena e ficava preocupado sobre como estava funcionando lá atrás. Na realidade eu queria era ser essa cenógrafo, era a minha praia. Foi quando conheci um diretor espanhol chamado Moncho Rodrigues, que me propôs a viajar com ele para fazer a cenografia do seu espetáculo. Aí não parei mais.

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