Desaparecimento inexplicável de irmã fez Belfort ficar 'órfão de mãe viva'
O desaparecimento de Priscila Belfort será tema do documentário do Disney+ "Volta Priscila". O anúncio foi feito em evento da plataforma, no Rio, com a presença dos diretores da produção e de Jovita Belfort, mãe de Priscila e de Vitor Belfort, lutador de MMA casado com Joana Prado, ex-Feiticeira.
Em depoimento emocionado, Jovita disse que o desaparecimento da filha afetou toda a família, e citou um dia em que Vitor perguntou a ela: "Mãe, você sabe o que é ser órfão de mãe viva?". "O Vitor já era casado, com três filhos e bem-sucedido. Mas ele tinha um buraco grande na vida dele, e eu entendo. Quando um filho desaprece, você só pensa naquele filho", disse em coletiva de imprensa na qual Splash esteva presente.
Ainda sem data para estrear no Disney+, "Volta Priscila" conta com a direção de Eduardo Rajabally e pesquisa de Bruna Rodrigues.
Para Rodrigues, a missão desta produção é contar uma história que já perdura 20 anos, mas que está próxima de um desfecho. "Ninguém desaparece ao meio-dia, numa das avenidas mais movimentadas do Rio de Janeiro, sem deixar nenhum rastro. [...] São 20 anos, são múltiplos caminhos e é inevitável que a gente se depare com áreas cinzentas, lacunas, perguntas sem respostas e alguns detalhes surpreendentes", disse.
Acho que essa história é tão mirabolante, tão doida, que um roteirista de ficção ficaria de queixo caído se visse todas as reviravoltas dessa história nos últimos 20 anos.
Eduardo Rajabally
O documentário foi produzido com base em gravações de vídeo feitas pela família Belfort, que, segundo Jovita, sempre teve o costume de registrar os momentos. Assim, os diretores tiveram largo acesso a conteúdos inéditos que auxiliassem na construção da figura de Priscila para o espectador.
A produção abordará também como o caso Priscila Belfort ajudou a mudar a maneira como autoridades lidam com pessoas desaparecidas. Um exemplo disso foi a criação de uma delegacia especializada em desaparecimentos no Rio, em 2012. Até então, familiares eram obrigados a lidarem com a delegacia de homicídios.
Hoje, a luta de Jovita é pela memória da filha, a quem deseja que os três netos conheçam ainda mais por meio do documentário, e por mães de pessoas desaparecidas que não tem conseguem a mesma exposição. "Não estou aqui só como mãe da Pricila. Estou como aquela empregada doméstica, aquela lavadeira, aquela pessoa que é recepcionista, que vocês nem conhecem, mas que estão sofrendo com seus filhos desaparecidos. Por favor, nos ajudem."
Muitas dessas mães não tem voz. Então, resolvi ir do luto à luta, pela verdade e pela justiça.
Jovita Belforf
Entenda o caso
Priscila atuava como servidora na Secretaria Municipal de Esportes e Lazer do Rio de Janeiro, sido vista pela última vez em 2004, quando saía do trabalho para almoçar. Desde então, boatos e denúncias deram contornos de mistério para a história ainda sem conclusão judicial.
Após dois dias sem ter notícias de Priscila, a família denunciou o desaparecimento à polícia. Não houve nenhum pedido de resgate. O caso ganhou bastante repercussão midiática devido a Vitor, que, na época, despontava na carreira como lutador e estava recém-casado com Joana Prado, a ex-Feiticeira.
Desde o desaparecimento, muito se especulou sobre os motivos que levaram Priscila a não ter sido mais vista: desde confusão mental, pois ela já havia apresentado lapsos de memória, a dívidas por uso de drogas, devido a uma denúncia feita em 2007. Na época, uma mulher se entregou à polícia afirmando que ela e um grupo de pessoas tiveram envolvimento no assassinato de uma vítima que, supostamente, seria a ex-servidora.
A família negou que Priscila tivesse envolvimento com drogas e disse não acreditar que ela possa ter se envolvido em dívidas para proteger algum ex-namorado. Na época, o lutador afirmou que a família forneceu para a Delegacia Antissequestro do Rio de Janeiro os nomes de todos os ex-namorados da irmã. Belfort disse que teve pouco contato com o namorado de Priscila na época em que ela desapareceu, e afirmou desconhecer qualquer envolvimento dele com drogas.
A polícia trabalhava com a hipótese de homicídio, mas a família não descarta que ela possa estar viva. Após investigações, as suposições foram descartadas e o caso foi arquivado, mas, com o anúncio da série, a investigação foi reaberta pelas autoridades cariocas.
No Dia Nacional da Pessoa Desaparecida, em 30 de agosto de 2023, Vitor Belfort compartilhou uma publicação em suas redes sociais conscientizando a respeito do caso e de outras pessoas desaparecidas. "É uma dor muito grande para as famílias. Muitas crianças, famílias, mulheres que não sabem onde se encontram. Acontece todo dia e a vítima pode ser qualquer pessoa. A conscientização é poder dividir com todo mundo. É lembrar que tem mães que estão enterrando o seu filho por anos, como a minha mãe", publicou.
*Com informações do Estadão