Costureiro comemora confecção para quadrilha: 'Duas camisas e um sonho'
Franciele Oliveira
Colaboração para Splash, em Aracaju
25/06/2024 12h00
Gabriel Mali, 24, é sergipano, residente no município de Santo Amaro das Brotas, onde possui seu ateliê Romanov, Lá ele confecciona roupas e acessórios para quadrilhas, além de trajes para outras ocasiões do ano.
Criado com sua mãe no interior, era levado a participar de todos os eventos da cidade e foi por um desses eventos que descobriu sua paixão por quadrilha. Em 2015, enquanto assistia à apresentação do grupo junino Unidos em Asa Branca, quadrilha de Aracaju (SE), se encantou e colocou em mente que queria dançar em uma quadrilha, especificamente essa. Anos depois, em 2018, foi quando tudo aconteceu.
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"Entrei em 2018 para poder ensaiar, dancei no ano de 2019 — que, para mim, foi o meu melhor ano, pois só fiz me divertir — e foi quando conheci de fato quadrilha junina", diz.
Ao final de 2022 teve sua primeira oportunidade de entrar no ramo junino de confecções, ao fabricar um acessório para a noiva da quadrilha em que participava, mas foi em 2023 que tudo se consolidou, ao precisar fazer dois trajes completos para a apresentação do pré-junino (evento realizado pela quadrilha antes de iniciar as competições) seu e de sua parceira de dança em menos de um dia.
Apesar de ainda saber pouco sobre costura nessa época, tomou como meta finalizar as roupas a tempo, o que prontamente conseguiu.
"Eu só tinha duas camisas, quinze metros de tule e um sonho. Que era fazer isso acontecer. Foi quando fiz minha primeira saia junina. Precisei de ajuda também com o corselete, porque não sabia, não fazia ideia de onde achar [tutoriais], pesquisava e não encontrava. Um amigo meu de Aracaju, que também tem um ateliê, falou: 'amigo, eu te ajudo, sim, venha, traga'. Eu levei; ele cortou; foi me explicando, em meia hora disse o que eu tinha que fazer e, juntos, conseguimos fazer. Foi tudo em um dia. Minha mãe cortou minha calça e eu costurei, ela cortava a manga e eu corria para fazer ela e a gente conseguiu fazer a roupa pro pré-junino. Não era oficial para um destaque, mas para mim foi muito importante porque era uma roupa junina, e que foi apresentada, foi vista", detalha Gabriel.
Neste ano, desistiu de dançar para focar apenas na confecção da indumentária que, hoje, considera o seu trabalho favorito: o vestido da dama de frente da quadrilha em que participa, feito a pedido da quadrilheira que o vestiria.
Mais que um trabalho individual, é necessário de uma equipe por trás para fazer as coisas acontecerem.
"As pessoas acham que é só chegar e falar 'quero fazer, vou fazer e ponto', mas não é só isso, existe um projeto. Eu penso nisso em um conjunto como um todo, não só em mim como ateliê, no que isso vai me favorecer, mas também quem eu posso ajudar. Foi justamente nesse projeto que encaixei as pessoas que sempre estiveram comigo. Conversei com um amigo meu, que é maquiador profissional e um amigo que é fotografo profissional e trouxe eles para esse projeto. Juntei essas duas pessoas e um colega que foi responsável pelo figurino 2024 da quadrilha e nós quatro assinamos toda a produção de Samara, a dama de frente", afirma ele.
Para os próximos anos, afirma não imaginar em que lugar se vê, mas gosta de pensar que é necessário sonhar e querer, mas sempre com os pés no chão, pois isso faz alcançar "lugares inimagináveis".
"A partir deste ano, eu me vejo como profissional que vai quebrar muito a cabeça e que vai suar bastante para conseguir trazer para o mundo junino o 'novo' para os arraiás de Sergipe. Eu me vejo num papel muito fundamental nesse ramo, pra poder fazer com que cresça essa visibilidade, esse ramo e enriqueça cada vez mais a cultura. Por que se não existe cultura, o que a gente vai fazer? Que eu esteja pronto para poder entregar o meu melhor para fazer com que se tornem não só peças, mas obras de artes memoráveis nos arraiás", finaliza.
O ateliê
Criado em 2017 no Instagram, Gabriel fez seus primeiros investimentos em máquinas e material para o espaço Romanov em 2022, com o apoio de sua mãe. Apesar disso, seu primeiro contato com a costura foi alguns anos antes, a partir de uma oportunidade na cidade vizinha, em Barão de Maruim. Um colégio que precisava de auxílio com a coreografia de uma apresentação infantil o contatou, foi quando percebeu que também não havia ninguém para confeccionar as roupas e acessórios e pegou a encomenda para fazer.
"Eu lembro que não tinha experiência nenhuma e foi a primeira [indumentária] de todas que fiz. Era um arranjo de flor todo de arame, tipo uma testeira, com uma flor na lateral e a roupa era algo bem simples (uma saia branca, lisa, com a blusa ciganinha), e foram as primeiras peças que fiz pra eles", recorda. "Eu nunca fui de dizer assim: 'eu não sei fazer', por mais que não soubesse eu falava 'não, eu sei, sim, mande para cá que a gente resolve', lutava, mas conseguia", comenta e declara que aprendeu as coisas na prática, sem nenhuma formação no ramo, mas que agora está se especializando na área da costura.
Atualmente ele trabalha com sua equipe, composta por familiares e amigos, no primeiro andar da sua casa e tem como meta que essa se torne sua única fonte de renda.