Planet Hemp foi censurado por exibir criança regando pé de maconha em clipe
De Splash, em São Paulo
27/06/2024 04h00
Marcelo D2, 56, reagiu à decisão do STF em descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal.
O músico lembrou que o Planet Hemp, há quase 30 anos, já entoava o pedido: "O álcool mata bancado pelo código penal, onde quem fuma maconha é que é o marginal. E por que não legalizar?".
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O trecho de "Legalize Já", música escrita por D2 e Rafael Crespo, dá o tom do primeiro álbum do grupo, intitulado "Usuário" (1995), e da postura política dos artistas desde o início da carreira. A canção também deu origem ao clipe de estreia da banda.
A composição virou um hino pela legalização da erva no país, mas enfrentou censura e críticas de setores conservadores da sociedade. Segundo o escritor Pedro de Luna, autor da biografia "Planet Hemp: Mantenha o Respeito", o vídeo da canção teve o horário de exibição na TV restrito pelo Ministério da Justiça.
No primeiro clipe, da faixa 'Legalize Já', eles aparecem fumando maconha. A MTV enviou para o governo e os caras ordenaram que fosse exibido apenas depois das 23h. Pedro de Luna, escritor, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo (2018)
Clipe, dirigido por Márcia Leite e Raquel Couto, mostrava um homem preparando um "baseado" (cigarro de maconha). Mas, segundo a MTV, a imagem que teria despertado rejeição da pasta foi a de uma menina, de cerca de 10 anos, regando o que seria um pé de maconha.
A emissora, que era referência na exibição de produções do gênero, enviou o vídeo para o ministério após recomendação de uma advogada. "A posição da MTV é: vamos mostrar o vídeo", disse Patrick Goffaox, então diretor de marketing do canal, em conversa com a Folha de S.Paulo na época.
O álbum "Usuário" trouxe consequências para os músicos e os fãs. Todas as dezessete faixas do disco chamavam a atenção para a legalização das drogas, a violência policial e a desigualdade social. Segundo Marcelo D2, à época, eles tiveram apresentações canceladas por medo de repressão e os fãs também sofreram com a "violência policial no meio dos shows".
D2 nunca se considerou um ativista, apesar de defender publicamente o tema há três décadas.
Sou músico. A minha posição é enquanto artista [...] Luto pela causa [da legalização da maconha] há 30 anos, quando ninguém ainda falava sobre isso. Sou amante da causa, um usuário que quer mudar as coisas, mas tem muita gente que é ativista, que é ponta firme, está dentro do movimento e vive isso no dia a dia. D2, em conversa com o UOL, em 2023.
STF formou maioria para descriminalizar o porte de maconha para o uso pessoal. Com isso, caso um usuário seja pego com uma quantidade de maconha — que ainda será definida pela corte — para uso próprio, ele cometerá um ato ilícito, mas sem possibilidade de pena. O consumo em local público continua proibido.