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Sonho, amigos e economias: a experiência de viajar para ver seus idols

Freebies: presentes que Laís ganhou nos três shows que foi na Indonésia Imagem: Cortesia Laís Schieck

Camila Monteiro

Colaboração para Splash de Pelotas/RS

02/07/2024 12h00

"Pls, come to Brazil" já é quase uma tradição do público brasileiro diante de inúmeros pedidos para seus artistas favoritos pisarem por aqui. No k-pop, isso é ainda mais significativo, uma vez que as viagens são mais longas, caras e produtores e investidores precisam trazer não um, mas vários artistas de uma única vez.

Apesar da dificuldade, o Brasil é um dos maiores consumidores da indústria de pop coreano no mundo, com streamings e projetos. O país se destaca mesmo não sendo parte da rota "fixa" de shows, que se concentra entre Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos.

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Se isso é problema para muitos fãs, principalmente os mais novos que ainda não trabalham, acaba sendo uma solução e início de um projeto para realizar sonhos e desejos para fãs independentes que querem ver determinadas turnês que não chegam em solo brasileiro.

Realizando sonhos

Lucas Viana, 29, é dublador e muito fã do grupo TXT (Tomorrow By Together). Depois de ter uma experiência terrível no Music Bank no Chile (choveu muito e o evento foi cancelado), ele botou na cabeça que iria ver o grupo de qualquer jeito. Assim, se organizou para ir a Coreia no Weverse Con de 2023, e aproveitar para ver não somente TXT como também Enhypen, outro grupo que ele gosta muito.

"Eu queria muito ir para a Coreia, mas não sabia quando exatamente. Daí o TXT confirmou presença no Weverse Con e eu decidi que era o momento". Recentemente, Lucas viu dois shows da turnê atual do grupo em Nova Iorque; ele não queria perder a produção atual e a incerteza da vinda ao Brasil motivou ele a programar essa nova viagem. "Nunca fui a uma tour específica do meu grupo favorito e foi muito diferente. No Weverse foram 45 minutos e agora foram duas horas", explica.

Heloísa Arruda, 42, é servidora pública e carat, fã do grupo Seventeen. Ela assistiu à turnê do grupo em Toronto no Canadá, em Nova Iorque nos Estados Unidos e o evento específico para fãs, a 'Caratland' que ocorreu na Coreia do Sul. Além disso, ela também foi ver o primeiro show da turnê do Yoongi (BTS) em Nova Iorque. "Queria muito estar no primeiro show da turnê" diz. Ela programou as viagens por causa dos shows, e sabe que é um privilégio para poucos: "É difícil conseguir ingressos e as passagens são caras, é realmente uma função, mas eu me programei, pois queria muito isso".

Já Laís Schieck, 31, trabalhava em uma imobiliária na época que resolveu usar seu dinheiro guardado para ir à turnê do Yoongi, ou Agust D como é conhecido solo. A história dela daria um livro: ela comprou ingressos para alguns shows nos Estados Unidos antes mesmo de conseguir visto, que acabou não sendo aprovado. Ela teve então, que vender tudo (e conseguiu, graças aos amigos) e pensou: vou para Ásia. Como Japão e Coreia são mais caros, decidiu ir para Indonésia e lá teve uma das melhores experiências da sua vida.

"Eu chorei, só queria ir aos Estados Unidos ver o show, me senti mal, eu tinha tudo arranjado, mas no dia seguinte saíram as datas dos shows da Ásia e eu achei que foi um sinal. Pesquisei muito, vi que o dinheiro da Indonésia é bem desvalorizado e como eu tava precisando economizar, decidi ir pra lá" explica Laís, que ficou nove dias no país.

Rede de apoio tem uma importância enorme

Um dos aspectos mais citados ao conversar com fãs é a importância dos amigos que foram feitos dentro dessas comunidades. Heloísa conta que foi ao show com o marido e duas amigas que ela conhecia apenas online. "Fizemos o membership para comprar com mais facilidade e cada um ficou tentando para um lugar, quem conseguisse ir comprar para os outros. No fim acabei conseguindo e comprei pra todo mundo" explica.

Já Lucas e Laís, que foram sozinhos em seus respectivos shows, conheceram muitas pessoas nas filas e acabaram criando novos amigos e uma rede de apoio importante, principalmente para alguém que é estrangeiro e está só num país desconhecido. Laís inclusive comenta que uma menina salvou ela de ter sido roubada: "A menina se aproximou e disse que o cara tava tentando me passar a perna. Ela me ajudou a ir embora e fiquei muito agradecida", diz.

Para Laís ir ver Yoongi na Ásia não teria sido possível sem os amigos que ajudaram ela a vender os ingressos e que apoiaram a decisão dela dar a volta ao mundo para realizar o sonho: "Não foi apenas a minha primeira experiência de show fora, foi a minha primeira viagem internacional. Nunca tinha viajado de avião. Eu estava com medo, mas deu tudo certo", comenta.

O que é melhor lá fora? E pior?

A compra de ingressos de shows na Coreia é, sem dúvida, a pior parte para todos os entrevistados. Heloísa explica que, para ela, é o único ponto negativo: "Se fosse fácil comprar ingresso na Coreia, eu só ia querer ver shows lá" brinca. Lucas comenta que é um gasto bem alto, ainda mais em moedas mais valorizadas do que a nossa: "Eu queria muito ver o send off (despedida) do TXT, mas era muito dinheiro e não rolou".

O dublador conta como o merchandising é muito mais legal nos shows lá fora do que aqui. No ingresso que comprou, ele ganhou alguns brindes, incluindo um photobook que tem a assinatura do seu ultimate, Hueningkai. "Minhas amigas conseguiram para mim, fiquei muito feliz", explica.

Laís, que nunca havia viajado para show antes, ficou chocada com a quantidade absurda de coisas que ganhou nas filas do show, incluindo camisetas; "Eu voltei com a mala pesando 4 kg a mais de tanta coisa que eu ganhei dos fãs. É uma cultura de freebies enorme". Freebies são photocards, chaveiros, leques e outros produtos feitos pelos fãs para comemorar o evento e que são distribuídos gratuitamente. São bastante comuns em shows de k-pop

Para todos, nada se compara com o público brasileiro no quesito recepção, mas a segurança, conforto e organização dos eventos lá fora chamam atenção. Vale lembrar que nem sempre isso acontece. Lucas explica que os últimos shows que foi em Nova Iorque foram caóticos, "uma experiência bem local" ele complementa. E todos gostariam muito de ver os shows que viram lá fora por aqui. "Sei que Seventeen é bem recebido em qualquer lugar, mas sinto que eles precisam ter a experiência do público brasileiro" explica Heloisa.

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