Topo

Rafa Azevedo sobre peça em que 'assedia' homens: 'Aterrorizar patriarcado'

Colaboração para Splash, em São Paulo

03/07/2024 04h00

Sucesso no teatro, a humorista Rafaela Azevedo explicou que o propósito de sua peça "King Kong Fran" é "aterrorizar o patriarcardo". Em entrevista ao Alt Tabet, do Canal UOL, ela conta que incorpora típicos comportamentos masculinos, como o assédio, e leva para o palco com o intuito de gerar incômodo nos homens que assistem ao espetáculo.

Brincando com a figura da "mulher gorila", Rafaela disse ter pegado arquétipos que costumavam ser atribuídos às mulheres no circo para a construção da personagem Fran. Segundo ela, no circo a imagem feminina era retratada em lados opostos: a mulher sensual era colocada em situações de risco, enquanto aquela fora do padrão era tida como "aberração".

A atriz destacou que traça um paralelo com a realidade porque, fora da ficção, os homens buscam se apropriar dos corpos femininos, pois isso foi "naturalizado" na sociedade. "Antigamente, no circo, os arquétipos que davam para as mulheres bonitas eram em funções em que correm risco de vida. Se a gente for pensar socialmente, tem a mulher idealizada, vítima de feminicídio — que se cometer qualquer erro, trair, o cara vai lá e mata, e isso é naturalizado. Se o homem achar a mulher bonita, ele a estupra e isso é naturalizado. E há o outro extremo, que é a mulher peluda, fora do padrão. Cadê a humana? Não existe".

Relacionadas

Como sou palhaça, resolvi brincar com todos esses estereótipos. E aí vou a peça inteira fazendo com que o homem se sinta como a gente se sente. Encarno a personalidade de um homem no corpo de uma mulher. Vou assediando, fazendo tudo [que o homem faz com a mulher:] a violência psicológica, o assédio -- só que brincando.
-- Rafaela Azevedo

Durante a peça, Rafaela interage com alguns homens da plateia. Ela contou que em alguns casos são pessoas convidadas, mas não necessariamente atores. "Tem um momento em que eu mexo com todos os homens da plateia e outro em que eu trago [para o palco] para as cenas mais tensas. Não necessariamente são atores, mas convido esses homens. Eles não pagam para assistir e não ensaio com eles, mas eles se predispõem para que eu jogue com eles e ultrapasse limites. É um convidado. Não me interessa humilhar um cara, não é sobre isso".

Rafa diz que homem 'saiu esbravejando' de sua peça

Rafaela contou que esse episódio ocorreu durante apresentação em Campinas (SP) e ele chegou a pedir ressarcimento do ingresso. "Um cara saiu no meio da peça, esbravejando, foi tão bom. O genial é que foi na cena anterior em que falo da histeria masculina e ele foi histérico, [gritando] 'Quero meus R$ 80 de volta'".

Ela diz que alguns homens já pediram para ela "pegar mais leve" porque se sentiram incomodados, e ela rebateu ao dizer se tratar de ficção. "Em uma temporada, eu queria ouvir muito o público, ai fiz um bate papo após a apresentação no Rio e os caras diziam mais num lugar meio 'coitadolândia': 'Ai, eu achei muito violento, fiquei com medo. Você não acha que talvez deveria pegar mais leve?'. Eu falei 'Cara, você sentiu isso em 1h15 [de peça]. É para você ter empatia com as mulheres que sentem isso a vida inteira'".

'Homem hétero comum muitas vezes é o homem escroto'

Ela explicou que teve esse discernimento com a maturidade. "Tenho percebido com a maturidade que o homem hétero comum é o homem hétero escroto no off, entre amigos. As piadas que ele não fala publicamente [faz no reservado]. O pensamento, o consumo, a objetificação feminina".

Rafaela também contou que algumas pessoas se assustam com sua personagem Fran porque ela tenta ser ainda "mais absurda" que a realidade. "Vejo o que de absurdo está acontecendo, vou lá com a Fran e sou mais absurda que o absurdo, aí o povo fica [assustado]. Claro que eu exagero, porque se não colocar uma dose de exagero é só muito triste por espelhar [a realidade], tanto que muita gente ao deixar o espetáculo fala 'Não esperava que eu fosse chorar'. Quando vai chegando próximo da realidade, a condição de ser mulher na sociedade é muito triste, muito escrota".

Alt Tabet no UOL

Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Rafaela Azevedo:

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Rafa Azevedo sobre peça em que 'assedia' homens: 'Aterrorizar patriarcado' - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade