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OPINIÃO

Remakes de Animes não são por falta de criatividade, em boa parte das vezes

Primeira imagem promocional do novo anime de 'Magic Knight Rayearth', ou 'Guerreiras Mágicas de Rayearth' Imagem: Divulgação

Fábio Garcia

Colaboração para Splash, em São Paulo

06/07/2024 12h00

Recentemente o mundo otaku comemorou o anúncio de animes que não são necessariamente "novidades". "Ranma ½", "Guerreiras Mágicas de Rayearth" e "Rosa de Versalhes" são apenas três entre vários remakes que ganham espaço a cada ano. Com isso, a discussão sobre uma suposta falta de criatividade nessa indústria surge novamente. Mas será que isso está acontecendo mesmo?

Falta de criatividade ou agrado aos fãs?

A sensação no meio audiovisual, ao se considerar séries, filmes e animações, é que os produtores se escoram em remakes por não conseguirem lançar produções de sucesso. A própria Disney tem dirigido grandes esforços para refazer todos os seus principais clássicos, sendo que os filmes inéditos têm dificuldade de se posicionar bem entre o público. E embora animes estejam inseridos no audiovisual, os motivos para remakes não necessariamente significam uma falta de criatividade.

Nos animes, remakes têm a vantagem de apelar para dois públicos distintos. Ao mesmo tempo, em que pessoas que conhecem a obra já criaram um vínculo afetivo com a produção, as modernas técnicas de animação empregadas e o ritmo mais ágil pode servir para apresentar aquela história para um público que começou a ver anime há menos tempo.

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Anime "Astro Boy" de 2003, o segundo remake da história de Osamu Tezuka Imagem: Reprodução

Vale destacar que isso faz parte do meio otaku. Desde os anos 1980 é comum alguns animes serem refeitos com técnicas mais modernas para atrair novos públicos, principalmente quando se fala de animes infantis. "GeGeGe no Kitaro" e "Astro Boy" tiveram quase um novo remake por década, sempre visando um novo público infantil. Inclusive, parte do sucesso do personagem robô de Osamu Tezuka vem da série lançada em 2003, o terceiro remake de "Astro Boy" (e a primeira produção a chegar ao Brasil).

Neste ano foi lançado "Spice and Wolf", que foi muito bem recebido pelos fãs. Muitos não faziam ideia que já existia uma versão anterior lançada em 2008 (sem final). A nova versão conseguiu angariar novos fãs e a produção deve seguir a partir daqui.

Já "Urusei Yatsura", clássico de Rumiko Takahashi exibido no Japão nos anos 1980, ganhou recentemente uma releitura feita pelo aclamado estúdio David Production (de "Jojo's Bizarre Adventure"). Enquanto o (longo) anime original tentou adaptar ao máximo o mangá de sucesso, a proposta dessa nova versão foi fazer um "melhores momentos" e reunir as principais tramas em um anime mais compacto, com cerca de 50 episódios.

O resultado deu certo para "Urusei Yatsura". Eles conseguiram inserir na série o final criado pela autora para o fim do mangá, e que ficou de fora da versão televisiva anterior. Ter o desfecho canônico das histórias é algo que os fãs levam em consideração, então é interessante pensar como alguns remakes ganham força com essa proposta.

Obras que não tinham fim

Antigamente, era normal ter um anime televisivo ao mesmo tempo em que o mangá era publicado. Como a história se desenvolvia mais rápido na versão anime, havia dois métodos para impedir que a trama ultrapassasse o que o autor estava desenhando. Ou se criavam histórias paralelas para enrolar e desenvolver os personagens, os famosos "fillers", ou se encerrava a história sem uma conclusão mesmo.

"Fullmetal Alchemist Brotherhood" e "Fullmetal Alchemist (2003)" Imagem: Reprodução/Bones

A necessidade que os fãs têm de ver o final da história explica até como tivemos o "remake" "Fullmetal Alchemist: Brotherhood". Ele foi lançado pouco tempo após a conclusão do anime original. Na versão de 2003, apenas metade da série segue o mangá de Hiromu Arakawa, o resto foi criado pela equipe do anime por não ter história para adaptar. Já a versão "Brotherhood", de 2009, foi publicada em paralelo ao clímax do mangá e conseguiu adaptar a história como a autora queria.

Alguns remakes recentes surgiram com essa proposta de adaptar a trama original até o fim pela primeira vez. "Dragon Quest: The Adventure of Dai" e "Shaman King" foram até o fim de suas histórias, sendo um diferencial grande para quem acompanhou os animes antigos que tinham paradas bruscas no último capítulo.

Remakes não são maioria

Embora exista muita reclamação sobre requentar antigas histórias em novos animes, isso está longe de ser maioria entre as séries exibidas. Sequências e remakes costumam ocupar uma porcentagem pequena dos anúncios de cada temporada, provando que não só há uma grande renovação de autores, mas mostra que o público otaku é aberto ao novo.

Observar uma lista de animes mais vistos das últimas temporadas é encontrar franquias que começaram recentemente. "SPY X FAMILY", "Frieren e a Jornada para o Além", "Solo Leveling", "Kaiju No. 8", "Jujutsu Kaisen", "Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba" são todas obras novas que conseguiram ser abraçadas pelos fãs.

Animes "Demon Slayer - Kimetsu no Yaiba",. "My Hero Academia", "That Time I got Reincarnmated as a Slime" e "Mushoku Tensei" da temporada de primavera 2024 Imagem: Montagem: Reprodução/ufotable/Bones/Eight Bit/Bind

O volume de novas séries aumentou muito nos últimos dez anos. Isso reforça a impressão de muitos animes lançados a cada temporada —com cerca de 50 animes novos— e os remakes não ocupam nem um quarto desse número.

A verdade é que anime se tornou muito lucrativo, ainda mais após o sucesso durante a pandemia de covid-19. Nesse cenário, relançar uma obra é apresentá-la a uma base de fãs gigante que pode não ter tido contato com ela anteriormente. Isso é vantajoso para franquias que estavam paradas há muito tempo.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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