Rafaela Azevedo: 'Homem hétero comum muitas vezes é o homem escroto'
Rafaela Azevedo, que faz sucesso no teatro com uma peça em que satiriza o comportamento masculino, disse que, não raro, o "homem hétero comum também" é "escroto em off". Em entrevista ao Alt Tabet, do Canal UOL, a humorista ponderou que esses homens tendem a demonstrar comportamentos machistas quando estão rodeados pelos amigos.
A atriz explicou que teve esse discernimento com a maturidade. "Tenho percebido com a maturidade que o homem hétero comum é o homem hétero escroto no off, entre amigos. As piadas que ele não fala publicamente [faz no reservado]. O pensamento, o consumo, a objetificação feminina".
Rafaela também contou que algumas pessoas se assustam com sua personagem Fran porque ela tenta ser ainda "mais absurda" que a realidade. "Vejo o que de absurdo está acontecendo, vou lá com a Fran e sou mais absurda que o absurdo, aí o povo fica [assustado]. Claro que eu exagero, porque, se não colocar uma dose de exagero, é só muito triste por espelhar [a realidade], tanto que muito gente ao deixar o espetáculo fala 'Não esperava que eu fosse chorar'. Quando vai chegando próximo da realidade, a condição de ser mulher na sociedade é muito triste, muito escrota".
Rafa Azevedo sobre 'King Kong Fran': 'Aterrorizar patriarcado'
A atriz diz que pegou arquétipos que costumavam ser atribuídos às mulheres no circo para a construção da personagem Fran, uma "mulher gorila". Segundo ela, no circo a imagem feminina era retratada em lados opostos: a mulher sensual era colocada em situações de risco, enquanto aquela fora do padrão era tida como "aberração".
Rafaela destacou que traça um paralelo com a realidade porque, fora da ficção, os homens buscam se apropriar dos corpos femininos, visto que isso foi "naturalizado" na sociedade. "Antigamente, no circo, os arquétipos que davam para as mulheres bonitas eram em funções em que corriam risco de vida. Se a gente for pensar socialmente, tem a mulher idealizada, vítima de feminicídio, que se cometer qualquer erro, trair, o cara vai lá e mata e isso é naturalizado. Se o homem achar a mulher bonita, ele a estupra e isso é naturalizado. E há o outro extremo, que é a mulher peluda, fora do padrão. Cadê a humana? Não existe".
Como sou palhaça, resolvi brincar com todos esses estereótipos. E aí vou a peça inteira fazendo com que o homem se sinta como a gente se sente. Encarno a personalidade de um homem no corpo de uma mulher. Vou assediando, fazendo tudo [que o homem faz com a mulher:] a violência psicológica, o assédio, só que isso brincando.
Rafa diz que homem 'saiu esbravejando' de sua peça
Ela contou que esse episódio ocorreu durante apresentação em Campinas (SP) e que ele chegou a pedir ressarcimento do ingresso. "Um cara saiu no meio da peça, esbravejando, foi tão bom. O genial é que foi na cena anterior em que falo da histeria masculina e ele foi histérico, [gritando] 'Quero meus R$ 80 de volta'".
Rafaela conta que alguns homens já pediram para ela "pegar mais leve" por se sentirem incomodados. Ela rebateu ao dizer se tratar de ficção. "Em uma temporada, eu queria ouvir muito o público, ai fiz um bate papo após a apresentação no Rio e os caras diziam mais num lugar meio 'coitadolândia': 'Ai, eu achei muito violento, fiquei com medo. Você não acha que talvez deveria pegar mais leve?'. Eu falei 'Cara, você sentiu isso em 1h15 [de peça]. É para você ter empatia, porque as mulheres sentem isso a vida inteira'".
Alt Tabet no UOL
Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com Rafaela Azevedo:
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