Com música na trilha do novo 'Bad Boys', Papatinho toca no Alma Festival
Foi quase 20 anos atrás que a primeira batida de Papatinho veio a público. Era inclusive a primeira batida que o produtor tinha criado, uma "gambiarra" que juntou guitarra e batida em um software simplório. Seus amigos gravaram uma rima em cima.
Quando saíram na rua com o CD onde a música foi registrada, passou um conhecido em um carro com "aqueles alto-falantes na mala", como contou o produtor e beatmaker a Splash. Ele botou o CD e a batida ecoou pela rua. "Eu falei, caralho, que é isso. Eu senti como se fosse algo mágico."
De lá para cá, o garoto que nunca aprendeu um instrumento e entrou na música porque era fissurado em tecnologia percorreu uma trajetória que subiu sem parar, dos hits com seu antigo grupo ConeCrewDiretoria a produções para Marcelo D2 e Black Alien, de gravação com Anitta a faixa na trilha do novo filme de Will Smith, "Bad Boys 4". O beatmaker também é uma das atrações do Alma Festival, no dia 13/7, no Rio.
"Eu percebi logo que tinha um feeling para identificar o que as pessoas gostam, eu tenho uma noção de saber o que a pessoa vai escutar, se uma parte da música tá enjoando", teoriza o produtor sobre seu êxito. E esse dom não fica restrito a um estilo apenas: Papatinho navega com destreza por rap, trap, funk ou pop.
O fator transpiração certamente conta muito. Falando de seu estúdio no Rio de Janeiro, Papatinho explica: "Tem vezes que eu saio 4h, 5h da manhã e o tio da esquina já tá vendendo café. Muitas vezes acabo dormindo aqui mesmo. Eu praticamente moro aqui". Ele define a si mesmo como "workaholic".
O estúdio serve também como sede do seu próprio selo, chamado Papatunes. O empreendimento funciona como uma incubadora de novos artistas.
Uma de suas maiores descobertas foi o rapper L7NNON, cujos dois primeiros álbuns foram produzidos por Papatinho. O artista ficaria conhecido nacionalmente em 2022 com o megasucesso "Desenrola Bate Joga de Ladin", gravado em parceria com Os Hawaianos.
O instrumento primordial do produtor é o sampler, a "minha guitarra", nas suas palavras. "Se não fosse a arte de samplear, não existiria o Papatinho", sugere.
"Como não conhecia nada de teoria musical, a prática de samplear me possibilitou descobrir que eu tenho talento para a música", explica.
"Quando sampleei Nina Simone há 14 anos, recortei um pedaço de um solo da música, transformei em um loop, mudei o tom, acelerei bastante o andamento e criei a batida por cima, adicionando uma nova bateria, percussão e baixo, tudo pelo sampler", fala sobre a criação da base de "Chama os Mulekes", hit de 2010 do ConeCrewDiretoria, que conta com 36 milhões de visualizações no YouTube.
Apesar da longa carreira na música, sua trajetória como artista solo é mais recente. O primeiro trabalho em que ele saiu dos bastidores para a vitrine foi o EP "Rio", de 2019, que superou a marca dos milhões de execuções no streaming.
A partir dali, virei o produtor do Papatinho também. Eu sou artista, mas também sou produtor, e produtor do artista Papatinho, haha. Papatinho
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Quero receberA busca por repertório autoral veio muito da necessidade de desenvolver um show como DJ para atender às crescentes demandas para isso. Para Papatinho, essas apresentações não poderiam depender apenas dos trabalhos que ele realizou com outros artistas.
"É algo que no princípio eu não almejava, confesso que sou muito mais produtor do que DJ", reflete. "Mas ver meu show no Palco Sunset, do Rock In Rio de 2022, ser eleito um dos dez melhores daquela edição foi muito legal pra mim". Primeira apresentação do palco naquele dia, o show trouxe MC Carol, MC Hariel e L7NNON para uma plateia lotada.
Papatinho é uma das atrações do Alma Festival, evento de música e games, que acontece no Rio de Janeiro, em 13 de junho. Segundo a assessoria do artista, será uma apresentação sem convidados.
Amigável, Papatinho concede a entrevista com um sorriso permanente no rosto. Sua sociabilidade o ajudou a conquistar oportunidades importantes nos Estados Unidos.
Em 2015, trabalhando em um estúdio em Los Angeles, tombou perto da mesa de sinuca do local ninguém menos que Snoop Dogg, que gravava em outra sala. "Ele tinha mencionado o ConeCrewDiretoria no Twitter, então tinha um assunto pra começar a conversa", lembra Papatinho.
O convite para participar da trilha de "Bad Boys 4" também surgiu de "conexões e parcerias" geradas por constantes visitas aos EUA. "Só em 2024, viajei para Los Angeles oito vezes em seis meses", afirmou.
Tenho muitos contatos na indústria por lá e uma dessas pessoas pediu a música para o filme. Eu já tinha tentado enviar música para outros filmes antes, mas sem sucesso. No meu trabalho, ouço muito mais 'não' do que 'sim'. Papatinho
Papatinho selecionou uma porção de opções de músicas inéditas para a produção, incluindo trabalhos com Cardi B, Sean Paul, Will.i.am, Black Eyed Peas, Becky G e Lil Jon. A faixa escolhida foi Becky G com a Luisa Sonza, "Flores Pa Ti'", com Papatinho também levando o crédito.
Fui convidado para assistir ao filme em primeira mão, com Will Smith, Martin Lawrence e todo o elenco. Depois fomos para a after party. Todo mundo gosta muito do Brasil e fui muito bem recebido. Papatinho
Uma chance de ver o produtor em ação no palco rola no Alma Festival. O evento acontece no dia 13/7, no Riocentro, no Rio, e terá também shows de 30PRAUM (Matuê, Teto e WIU), L7NNON, Filipe Ret, Veigh, MC Maneirinho e TZ da Coronel.
Veja horários dos shows do Alma Festival
Alma Festival
- Quando: sábado, 13/7, a partir das 16h40
- Onde: Riocentro (av. Salvador Allende, 6.555, Camorim, Rio de Janeiro, RJ)
- Quanto: a partir de R$ 190
- Classificação: 18 anos
- Ingressos à venda no site da Sympla.
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