Em show dos 30 anos, Planet Hemp conta história de resistência e amizade
A fumaça já estava alta no Espaço Unimed, em São Paulo, quando o Planet Hemp subiu ao palco. Era noite de contar uma história baseada em fatos reais, como o próprio nome do show entregava. Uma história feita de música, resistência e, acima de tudo, amizade.
E o primeiro parça da noite foi um dos mais recentes a gravar com o Planet, Criolo. Logo depois da abertura com "Fazendo a Cabeça", do disco "Usuário" (1995), o cantor repetiu os vocais em "Distopia" com Marcelo D2 e BNegão, faixa do disco mais recente do grupo, "Jardineiros" (2022). Terminada sua participação, foi relaxar em um sofá no palco junto das enormes estufas cenográficas que acomodavam os instrumentistas.
Essa alternância entre canções mais recentes e clássicos pinçados dos três primeiros discos se repetiu ao longo de todo o espetáculo. Coincidência ou não, muitas delas divididas em pequenos blocos que respondiam à definição sonora do Planet, a aglutinação raprock'n'rollpsicodeliahardcoreragga.
O rap, por exemplo, chegou numa sequência com outros amigos do grupo. "Taca Fogo", de "Jardineiros", trouxe o rapper Major RD, seguida de "Stab", de "A Invasão do Sagaz Homem Fumaça" (2000), com o DJ Zegon e o guitarrista Jackson, e "Nunca Tenha Medo", de "Jardineiros: A Colheita" (2023), compartilhada com Emicida e Seu Jorge — que ainda fez um solo de flauta.
A psicodelia marcou presença forte com a icônica "Quem Tem Seda", de "Invasão", e as novas "Puxo Fumo" e "Onda Forte", esta última com a participação do rapper Kamau. Além de trechos estendidos da vinheta lisérgica "Bossa - Instrumental" providas pelo DJ Venom entre uma e outra preparação de palco.
Já o bloco hardcore recebeu especial atenção. Começou com "Hip Hop Rio" e "100% Hardcore", ambas de "Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára" (1997) — nesta última, com D2 e BNegão cantando no olho de uma roda punk em um palco montado na meio da platéia.
Como se não pudesse ficar mais pesado, chamaram o ídolo Mike Muir, imparável vocalista da banda Suicidal Tendencies, para uma dobradinha com "Salve Kalunga", de "A Colheita", e a clássica "War Inside My Head", do disco "Join the Army" (1987), do Suicidal.
Foi um momento emocionante, mas nada comparado ao "Bloco Black Alien". A presença do eterno vocalista do Planet Hemp foi comemorado como final de campeonato pelo público, que recebeu em troca uma performance finíssima do filho ilustre Niterói.
A escolha do repertório com Black Alien não poderia ter sido mais acertada: "Queimando Tudo", "Deisdazseis", "Zerovinteum" (que a banda não tocava ao vivo havia tempos) e o hino "Contexto", para incentivar o público a continuar a jogar a fumaça pro alto.
Fechando a noite de participações, subiram ao palco Pitty, para participar de uma versão acelerada de "Admirável Chip Novo"; a decana banda de punk paulistana As Mercenárias executando "Me Perco"; e o BaianaSystem, que executou uma versão interessante de "Dig Dig Dig" com a sua "Duas Cidades".
Não faltaram também homenagens aos parceiros que já se foram. Skunk foi lembrado diversas vezes, especialmente por D2, amigo pessoal do fundador do Planet Hemp. "Skunk, sua chama segue viva", disse, após a execução de "A Culpa É de Quem?". Chico Science e Chorão foram exaltados com "Samba Makossa", música do primeiro que o segundo gravou no disco acústico do Charlie Brown Jr. com participação de D2.
Por questões técnicas, quatro músicas precisaram ser executadas quando o show já estava se encaminhando para o final: "Salve Kalunga" e "War Inside My Head", com Mike Muir, "Distopia", com Criolo, "Legalize Já" e "Me Perco", com as Mercenárias.
Com isso, parte do público começou a se dispersar, perdendo o fecho do espetáculo com primeiro grande hit do Planet, "Mantenha o Respeito", tocada enquanto um gigantesco baseado cenográfico era passado do palco para a plateia. Tudo baseado em fatos reais.
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