Camilo Rocha refaz caminho da música eletrônica em SP em 'Bate-Estaca'
Ivi Brasil
Colaboração para Splash, de São Paulo
26/07/2024 04h00
O jornalista e DJ Camilo Rocha lança hoje (26) o livro "Bate-Estaca - Como DJs, Drag Queens e Clubbers Salvaram a Noite de São Paulo", pela Editora Veneta. A sessão de autógrafos acontece na Livraria Megafauna, no centro, com uma conversa com a jornalista Claudia Assef.
O livro já se anunciava como um clássico da escassa literatura musical brasileira antes mesmo de ser lançado e agora preenche uma lacuna sobre a música contemporânea. Nele, Rocha desenha como a música tocada por um só cara (o tal DJ) edificou uma geração regada a ecstasy e revolucionou comportamentos há pouco mais de 40 anos na cosmopolita cidade de São Paulo. Confira abaixo a entrevista com o autor:
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No livro, você vai e vem entre o que acontecia em termos musicais em São Paulo e nos Estados Unidos e Europa. É um livro atento ao desenrolar da música eletrônica. Você leva qualquer leitor a entender a história, não é?
A minha preocupação, em primeiro lugar, não foi fazer um livro nostálgico. Eu quis fazer um livro que pudesse ser lido por pessoas que não têm a menor ideia do que foi aquilo, por pessoas que não foram daquela geração, ou que talvez foram, né? Tive muita preocupação em trazer bastante contexto. Você tem a história do Nation, da cena, das pessoas, mas você também tem a história daquela música que alimentou aquela cena. E dessa cultura que inicialmente era uma coisa que vinha de fora. Eu achava importante trazer também as origens disso, que é muito mais que uma cultura importada. E a gente deu a nossa cara para isso, o brasileiro deu a nossa cara, [fez] o club brasileiro, com todas as suas características. Considero que é um livro sobre a cena e acho importante pontuar essa escolha de que cada capítulo é ancorado num espaço. É no espaço onde a cena acontece, seja na rave, no Skol Beats ou no D-Edge.
Você teve alguma dificuldade em separar o jornalista do insider, do DJ e clubber que você também é?
Tanto eu como a Erika [Palomino], como você, as pessoas que cobriram a cena, a gente está num lugar em que a gente é jornalista, mas, ao mesmo tempo, a gente não vai seguir aquele manual do jornalismo de total isenção. É um tipo de cobertura diferente da reportagem clássica. Na cobertura cultural e subcultural, neste caso, exige-se o interesse e o envolvimento da pessoa que está cobrindo, até para dar uma certa credibilidade àquilo.
A gente também está incentivando, porque a gente também acredita naquilo que está acontecendo.
Você cobre a cena eletrônica há anos, mas além das suas memórias, como foi a pesquisa para o livro?
É uma coisa que a vida inteira eu escrevi sobre, mas fiz muita pesquisa. Tive muito cuidado com informação, com dados, para não errar. Minha memória também não é lá essas coisas. Eu quis trazer as informações de fora do país porque não existe em português um livro com esse tipo de referência internacional. Se você procurar um livro sobre rock, a história do rock, você vai achar. Então eu queria que ele fosse também essa referência para um cara que estiver pesquisando, que quiser saber mais e que não vai poder comprar o livro do [jornalista britânico] Simon Reynolds em inglês ou que também quer ir além da Wikipedia e Instagram.
O que sobrou do movimento ao redor da música eletrônica?
Toda aquela fórmula que se desenvolveu nos anos 90 - o DJ superstar, ouvir techno a noite inteira, o ritual em torno do êxtase - acho que isso ficou cansado, né? São ciclos. E aí vem outra coisa, [como o club] Xingu, o electroclash e o próprio rock que voltou com força nos 2000 com The Strokes e White Stripes e tal. Nos anos 90, você falava "o rock morreu e isso aqui é o futuro". De repente, aquele futuro tinha virado também meio passado. Aí teve então a geração da Pachá, que era o grande acontecimento do fim dos 2000. Esse momento eu caracterizo como declínio na segunda metade dos anos 2000.
O livro vai até esse momento da fragmentação da cena, depois do auge do club D-Edge. Como anda a cena nos anos 2020?
Logo vieram Voodoo Hop, Mamba Negra, Caps Lock, Odd, todo esse movimento de festas independentes e teve um outro boom. Mas essa geração também já teve seu auge, que a pandemia deu um break meio violento. E também tem a mistura com o funk, que já é mais recente, que está rolando bastante. Mas acho que a cena pós-pandemia tá, como diz em inglês, struggling. Está com dificuldade. E aí você não tem mais clube também, né? Com raros clubes, o ritual e o hábito de ir em clube desapareceu para muita gente mais nova. A cena pós-2010 foi um outro momento que eu acho que vale um 'Bate-Estaca 2', quem sabe?
Lançamento do livro "Bate Estaca"
Onde: Livraria Megafauna (av. Ipiranga, 200, loja 53, República)
Quando: sexta (26/7), às 19h