Conteúdo publicado há 3 meses

J.K. Rowling ataca atleta cisgênero da Argélia com fala transfóbica

Com histórico de falas preconceituosas, J.K Rowling voltou a usar a transfobia para atacar a boxeadora argelina Imane Khelif que, ao contrário do que sugeriu a escritora, não é uma mulher transgênero, mas sim cisgênero — ela nasceu mulher.

O que aconteceu

Rowling se manifestou em meio a repercussão da desistência da boxeadora italiana Angela Carini de lutar contra Khelif em disputa válidas pelas Olimpíadas de Paris. "Assista a isso (tópico inteiro), depois explique por que você está OK com um homem batendo em uma mulher em público para seu entretenimento. Isso não é esporte. Do trapaceiro intimidador de vermelho até os organizadores que permitiram que isso acontecesse, isso são homens se deleitando com seu poder sobre as mulheres", escreveu a autora britânica em postagem no X.

J.K. Rowling tem histórica de falas transfóbicas e já foi notícia em algumas ocasiões por fomentar o preconceito contra pessoas transgêneros. A postagem da escritora também distorce a realidade porque a argelina não é um mulher trans, mas sim uma pessoa cisgênero, ou seja, ela se identifica com o seu gênero de nascença, no caso dela, o feminino.

Entenda a polêmica no boxe em Paris

Angela Carini desistiu com apenas 46 segundos de sua luta nas oitavas de final do boxe feminino até 66kg nas Olimpíadas de Paris. Sua adversária, a argelina Imane Khelif, foi reprovada em teste de gênero em campeonato mundial no ano passado, mas cumpriu os requisitos para os Jogos Olímpicos.

O COI afirmou que todas as atletas que disputam os Jogos de Paris cumprem os regulamentos de elegibilidade. A entidade ressaltou que todas apresentam as condições médicas aplicáveis de acordo com as regras da Unidade de Boxe de Paris, que regulamenta a competição. No site oficial das Olimpíadas, ela consta como atleta mulher.

Carini se recusou a cumprimentar a adversária após o anúncio do resultado e foi às lágrimas. Ela fugiu da tentativa de aproximação da rival e caiu de joelhos no ringue.

Após sofrer um primeiro golpe no rosto, segundos antes, a italiana já havia dito: "Não é justo, dói muito". Segundo o jornal italiano Corriere Della Sera, o técnico Emanuele Renzini teria pedido para ela pelo menos terminar o primeiro round. O combate foi retomado, mas somente por mais dez segundos, até a desistência.

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Como começou a polêmica

Khelif foi reprovada em teste de gênero no Mundial feminino de boxe no ano passado. A atleta de 25 anos foi desclassificada pela IBA (Associação Internacional de Boxe) por não atender aos critérios de saúde de elegibilidade — a IBA não é regulamentada pelo COI.

Imane Khelif, boxeadora da Argélia que venceu a italiana Angela Carini nas Olimpíadas de Paris 2024
Imane Khelif, boxeadora da Argélia que venceu a italiana Angela Carini nas Olimpíadas de Paris 2024 Imagem: Richard Pelham/Getty Images

A luta de Carini contra a argelina virou polêmica na Itália antes mesmo de começar. Na véspera do duelo, a ministra italiana Eugenia Roccella deu declarações preconceituosas e acusou Khelif de ser "um homem que se identifica como mulher". No entanto, não há confirmação que ela seja uma atleta trans. Pessoas intergênero podem apresentar altas taxas de testosterona.

Após a luta, o treinador de Carini disse que a italiana estava com dor de dente, tomando antibióticos, e que desistiu após sentir dor no nariz. O técnico acrescentou na sequência, de acordo com o Della Sera, que a "máquina das redes sociais" tinha entrado em ação, citando que a questão dos hormônios da adversária é controversa.

Carini eximiu Khelif de culpa e pediu desculpa à adversária. A italiana confirmou que disse "não é justo" durante o combate, mas ressaltou que não cabe a ela julgar a argelina e se desculpou por não tê-la cumprimentado após a desistência.

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URGENTE - Angela Carini abandona a luta contra uma mulher trans nas olimpíadas de Paris!

Ela foi admitida na competição pelo comitê olímpico! pic.twitter.com/WFtehOfibD

-- SPACE LIBERDADE ? (@NewsLiberdade) August 1, 202

O que Carini disse

Sim, eu disse que não é justo. Não é certo desistir de uma Olimpíadas, mas não cabe a mim julgar. Não sou ninguém para julgar Imane. A verdade é que não sabemos nada sobre minha oponente, exceto por uma coisa: ela não tem culpa. Ela é uma mulher que está aqui para fazer as Olimpíadas, como eu. Quem sou eu para julgá-la? Não depende de mim, cabe aos outros fazê-lo. Angela Carini, ao Corriere Della Sera

Não cumprimentar a adversária: "Eu estava errada. Saí do ringue cheia de raiva. Nunca terminei uma partida sem cumprimentar minha adversária. Peço desculpas a Imane por não me despedir dela".

Desistência: "Estou com o coração partido, mas minha cabeça está erguida. Eu lutei. Eu tentei lutar. O ringue é minha vida, e nunca tive medo e não tive medo hoje. Mas sou uma boxeadora muito instintiva e disse a mim mesma imediatamente: 'Algo está errado'. Eu senti aquele golpe, me machucou. Foi muito ruim, eu não conseguia mais respirar. Disse a mim mesma: 'basta'.

Batalha perdida: "Eu nunca fui derrotada por nocaute e até hoje eu nunca tinha saído de um ringue antes do final da luta. Eu sou uma guerreira, mas às vezes até as guerreiras, quando veem que a batalha está perdida, enfiam suas espadas na terra e se rendem".

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IBA se manifesta

A entidade internacional de boxe se pronunciou na última quarta (31) sobre a desclassificação de Khelif. A IBA afirmou que a argelina não foi submetida a um teste de testosterona, mas sim a um exame separado e reconhecido, cujas especificidades permanecem confidenciais. Tal teste indicou que Khelif não atingiu os critérios necessários e que teria vantagens contra outras mulheres.

Segundo a entidade, Khelif inicialmente apelou da decisão ao CAS, mas depois retirou. A IBA também manifestou sua "preocupação com a aplicação inconsistente de elegibilidade" de outras organizações, mencionando o COI e as Olimpíadas. Por fim, a associação levantou questionamento sobre a "justiça competitiva e a segurança das atletas".

Além de Khelif, a taiwanesa Lin Yu-ting é outra boxeadora que foi reprovada em teste da IBA. Ela também foi aprovada pelo COI e estreia nas Olimpíadas de Paris em 2 de agosto, pela categoria até 57kg, contra a Uzbeque Sitora Turdibekova.

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