Encontro anual da cultura negra: Eliane Dias prepara a 4ª Boogie Week

Eliane Dias, fundadora, CEO e diretora-executiva da Boogie Naipe -produtora que administra a carreira de Mano Brown e dos Racionais MC's e engloba ainda a marca de roupas Yebo e o selo de trap Labbel Records —prepara para novembro a 4ª edição da Boogie Week, em São Paulo.

O evento é uma semana para enaltecer a cultura negra e a diversidade, oferecendo uma celebração da riqueza da herança afro-brasileira, valorizando a conexão e construção de redes com o principal propósito de gerar alegria, identificação, entretenimento e cultura realizado por e para pessoas pretas.

Com direção executiva de Kaire Jorge, filho de Eliane e Mano Brown, a Boogie Week visa reunir potências negras com o intuito de compartilhar saberes que rompem barreiras, criando espaço para a produção cultural, artística e intelectual do povo preto brasileiro. São premiações e bate-papos gratuitos que ainda estão sendo formatados. Mas o encerramento, dia 22, já está com os ingressos esgotados: Racionais MCs, no Espaço Unimed. "Pode ser o único show do ano do Racionais. A expectativa nossa é muito grande", diz a empresária.

Eliane Dias, que além de empresária é advogada e ativista, conta a Splash que a ideia da criação do evento surgiu em uma viagem a Joanesburgo, na África do Sul, onde ela sentiu a felicidade de se sentir representada nos eventos que frequentou, diferente do que acontecia nos festivais de São Paulo, onde o normal era o desconforto por não se sentir inserida.

"A Boogie Week é um festival que mostra a cultura negra na sua complexidade, se posicionando com muita resiliência. Resolvemos mostrar que o povo preto é muito além de ser marginalizado e lutar contra o racismo. A Boogie Week é um sonho pra mim!"
Eliane Dias

A abertura, dia 18/11, terá o Prêmio Griô, que homenageia personalidades da cultura negra. Eliane Dias diz que a Boogie Week deve ser enxergada como um terreiro, que, seguindo a tradição africana, faz questão de mostrar o quanto valoriza e cuida dos mais velhos.

A Boogie Week é como um desfile de escola de samba, onde a velha guarda entra primeiro na avenida abençoando toda sua escola no desfile.

"Dentro da comunidade negra periférica, a gente cuida dos nossos e dos mais velhos. É difícil você ver um idoso não sendo cuidado pela sua família ou colocado em um asilo. A gente, mesmo sem ter as condições adequadas, sempre cuida dos mais velhos. E para falar de cultura preta na sua plenitude, precisamos colocar os mais velhos à frente. Eu quero mostrar para as pessoas qual é o meu norte da nossa vida, mostrar as minhas referências. Tudo começa com os mais velhos", explica Eliane.

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No dia 19, como aconteceu na edição anterior, terá uma programação cultural crianças da rede pública do Estado -3.500 dessa vez. Haverá filmes, séries e animações, com a presença de intérpretes negros de Libras. "Na edição anterior foi maravilhoso ver aqueles alunos indo pela primeira vez no Museu Afro e assistindo produções feitas por e para pessoas pretas. Eles puderam visualizar um mundo muito mais amplo além de suas perspectivas."

No dia 20, a Boogie Week manterá as rodas de conversa. Estão sendo preparados papos sobre negócios, empreendedorismo, culinária, cinema e teatro, além de talk shows com convidados. Uma das novidades será falar sobre caminhos possíveis para estudantes universitários.

"O mais gostoso é poder trazer todo mundo e realizar a mesma coisa que os clubes sociais negros como Clube Aristocrata fazem desde o começo do século 20. Onde vai a família inteira, você se sente no quintal de casa mesmo tendo pessoas de famílias diferentes. É importante a gente estar junto!"

Edições anteriores

Na estreia, em 2021, no momento ápice da pandemia no Brasil, o evento foi transmitido online, com distanciamento físico e testes de Covid-19. A empresária cita o grande aprendizado: "Foi bem difícil cuidar de toda equipe, colocar um line-up com shows, apresentações e bate-papos. Mas, enfim, deu tudo certo e o público recebeu bem, mesmo não entendendo ainda qual era o propósito".

O rapper Mano Brown
O rapper Mano Brown Imagem: Pedro Dimitrow/Divulgação
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Ainda online, em 2022, a Boogie Week levou para o Auditório Ibirapuera uma grande apresentação de Mano Brown e Banda Boogie Naipe, com participação de Carlos Dafé, além de rodas de conversa sobre tecnologia, empreendedorismo e negócios. Teatro e stand-up comedy também estiveram na programação.

"Como o evento aconteceu logo após o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, de forma estratégica, resolvi fazer um evento mais fechado preocupado com a segurança das pessoas, principalmente pretas e periféricas!"

Já no ano passado, a celebração voltou ao parque Ibirapuera, dessa vez ao lado do Museu Afro Brasil. O público de 5.000 pessoas teve a oportunidade de debater a representatividade negra nas artes visuais e comemorar os 50 anos da cultura hip hop. Destaque para a recepção de 160 alunos da rede pública, que viram filmes ligados à temática preta.

Beth Beli, música e fundadora do bloco Ilú Obá de Min, e Emanoel Araújo, artista e curador, foram os homenageados. No som, Yunk Vino, Danzo, Duquesa e o cantor americano October London, pela primeira vez no país, que recebeu Mano Brown no palco. "A escolha de trazer o October London veio do Mano Brown, que também faz a curadoria do evento. E ele veio pessoalmente até mim agradecendo o convite. Me senti muito respeitada. Algo que não acontece tanto aqui no Brasil, por ter uma desvalorização do trabalho e da liderança de mulheres pretas nos eventos."

"Eventos como a Boogie Week é que direcionam o que vai acontecer nos grandes festivais. Nós trazemos a tendência, mesmo as marcas não dando a credibilidade necessária para realizar isso. Após quatro edições do evento trazendo artistas inéditos e grandes shows, ainda temos muita dificuldade de promover a Boogie Week por conta das marcas não enxergarem potencial nela"

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