Como surgiu Brasil-sil-sil? História de vinheta da Globo tem susto e treta

Toda vez que o Brasil ganha uma medalha nas Olimpíadas, ouve-se o som na TV Globo: "Brasil-sil-sil". Mas de onde ele vem? A vinheta, também usada em jogos de futebol, foi criada por dois funcionários da Rádio Globo, em 1968.

Há mais de dez anos, um processo corre na Justiça para reconhecimento de direitos autorais de um deles.

Como foi feita?

A vinheta foi feita por funcionários da rádio Globo. A voz é do locutor Edmo Zarife, que morreu em 1999, enquanto a parte técnica foi realizada pelo sonoplasta José Claudio Barbedo, o Formiga.

Levou duas 2 horas para ser feita. Foram feitos inúmeros testes até se chegar ao resultado final. "Ficamos quase duas horas no estúdio gravando, fitão. Várias e várias frases, vários bordões. E ouvindo a fita, depois de toda gravada, ele (Formiga) com o conhecimento dele, com aquela técnica apurada, falou: 'Zarife, é essa'. E ouvimos aquilo umas 30 vezes. E assim nasceu a vinheta Brasil", disse Zarife na entrevista para o documentário "Rádio no Brasil", em 1990.

Pediram que a gente fizesse um grito, um grito de guerra para levar o Brasil à frente.
Edmo Zarife, locutor

Edmo Zarife, que morreu em 1999, recebe premio por seu carreira no rádio carioca
Edmo Zarife, que morreu em 1999, recebe premio por seu carreira no rádio carioca Imagem: Acervo pessoal

Apresentador levou susto. Em outra entrevista para a TV Globo, em 1998, Zarife disse que a vinheta foi colocada ao ar pela primeira vez durante um programa de rádio do jornalista e locutor Waldir Amaral. "Nós soltamos a vinheta e, pela característica toda própria, ele levou um susto. Eu só lembro que ele falou assim: 'Parabéns, Zarife, é essa aí! Vai ficar pra sempre!. E, graças a Deus, está no ar até hoje'", explicou Zarife.

Vinheta surgiu após uma outra ser lançada. No documentário de 1990, Zarife explicou que antes da "Brasil-sil-sil" foi ao ar a famosa vinheta "Rádio Globoooo".

Ideia era dar "toque de futebolshow". Em entrevista ao documentário, Zarife explicou que ideia do diretor de programação da rádio na época, Mario Luis, era trazer para a rádio um "toque de futebolshow". A pretensão era dar "uma estética mais alegre, mais bonita às transmissões", disse o locutor.

Continua após a publicidade

Briga na Justiça

Sonoplasta processou a Globo. Barbedo entrou na Justiça contra a Globo para reconhecer os direitos autorais na vinheta e também para pedir "reparação pelos danos decorrentes de seu uso indevido".

Processo está em andamento há 11 anos. A defesa de Barbedo entrou com a ação em maio de 2013 e o caso chegou até o STJ (Superior Tribunal de Justiça).

STJ negou pedido de prescrição. Em 2021, a 3ª Turma do STJ negou recurso da Globo Comunicações e Participações para considerar a ação prescrita, já que teriam se passado mais de 5 anos desde a criação da vinheta. "Cabe frisar, outrossim, que, tratando-se de violação continuada, mediante a prática de atos que se sucedem no tempo, como na hipótese, a prescrição não pode ter início na data da criação da obra (como aponta a recorrente), mas, sim, quando da prática de cada ato violador do direito reclamado", pontuou a ministra do STJ Nancy Andrighi na decisão.

"Vinheta é uma criação minha", diz sonoplasta. Em entrevista ao NaTelinha em 2021, após a decisão, Formiga reforçou sua participação na composição. "O que você tem na vinheta é um sinal eletrônico misturado com a voz do locutor da época, chamado Edmo Zarife. Quem criou o sinal eletrônico, quem dirigiu o Zarife na locução, quem fez todo o processo da vinheta foi eu. Quando eu entrei com um processo contra a Globo, em 2011, eu descobri que a Globo registrou a vinheta em nome dela", disse Barbedo.

Processo mudou de "lugar". Inicialmente, a ação foi registrada na 18ª Vara Cível do TJRJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). Porém, em abril de 2024, o juiz Jose Mauricio Helayel Ismael declinou da competência, que ocorre quando se entende que outra repartição da Justiça é mais apropriada para analisar o caso. O magistrado justificou que a ação se trata de propriedade industrial e direito autoral. E que o pedido original "envolve também questões de cunho obrigacional, já que o uso irregular do 'nome comercial' da parte autora impõe a análise do objeto contratual e das consequências civis de seu descumprimento, o que se afigura bem mais amplo", conforme trecho da decisão.

Continua após a publicidade

Ação foi redistribuída. Segundo o TJ-RJ, o processo foi distribuído para a 5ª Vara empresarial, em junho deste ano, pela "tipicidade da ação".

Globo não vai se manifestar. Procurada por Splash, a comunicação da Globo disse que "não comenta casos sub júdice", ou seja, quando está em julgamento. Splash também procurou o advogado Noroito Leonel Vieira, que defende o sonoplasta, mas ele não quis se manifestar.

Deixe seu comentário

Só para assinantes